terça-feira 14 de janeiro de 2025

As universidades estaduais são conquistas da sociedade alagoana

Além de profissionais capacitados, universidades públicas produzem, aproximadamente, 95% da pesquisa científica

2 de julho de 2024 1:55 por Geraldo de Majella

Em todos os cursos, há vagas destinadas aos servidores técnico-administrativos da Uneal | Ascom Uneal

 

Por Geraldo de Majella

Além da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o estado conta com outras instituições públicas que formam profissionais e contribuem para o desenvolvimento socioeconômico alagoano. Uma delas é a Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), antiga Fundação Educacional do Agreste Alagoano, criada em 1970, sediada em Arapiraca (AL), voltada para a formação de professores.

A trajetória administrativa até ser reconhecida como universidade inclui a Funec, instituição privada em atividade desde 1970, criada com o objetivo de manter a Faculdade de Formação de Professores de Arapiraca (FFPA). Finalmente, em 1995, a Funec foi estadualizada, através da Lei Estadual n.º 5.762, de 29 de dezembro, tendo seu nome alterado para Fundação Universidade Estadual de Alagoas (Funesa).

A estadualização, em 1995, foi um avanço em todos os aspectos. Principalmente, pela mudança ocorrida em outubro de 2006, quando a Funesa deixou de ser uma fundação e passou a ser uma autarquia, sendo então reconhecida como Uneal.

A Uneal é a primeira instituição pública de ensino superior presente no Sertão, em Santana do Ipanema; no Agreste, em Arapiraca e Palmeira dos Índios; no Tabuleiro Sul, em São Miguel dos Campos; na Mata Norte, em União dos Palmares; e em Maceió.

Atualmente, oferta 38 cursos de graduação em 16 áreas do conhecimento, seis especializações e um mestrado acadêmico em seus seis campi, além das ofertas pelo programa de Educação à Distância (EaD-Uneal). A universidade tem 217 professores, sendo 103 doutores e 76 mestres, além de 113 servidores técnico-administrativos. Estão matriculados 4.731 alunos nas graduações e no Programa Especial para Formação de Servidores Públicos (Proesp).

O Programa de Graduação de Professor (PGP) tinha como finalidade melhorar a qualidade do ensino fundamental nas redes municipais, oferecendo a milhares de professores a oportunidade de obter a graduação. O PGP teve início em 2004 e durou até 2011. O PGP formou quatro mil professores que estudaram em regime especial e presencial às sextas-feiras e sábados.

Antiga Funesa, na década de 1970 | Reprodução

A Uneal, através do PGP, contribuiu para a melhoria da qualidade do ensino na base. Esse tipo de atividade justifica a sua existência e os investimentos alocados pelo governo estadual.

A expertise adquirida pela Uneal com o PGP é importante para abrir a discussão sobre a volta do programa, com mudanças, evidentemente, mas com o objetivo de influir decisivamente na melhoria da qualidade do ensino com a formação dos professores que já estão em sala de aulas nas cidades de Alagoas. Esse pode ser o caminho para abrir a discussão com prefeitos e o Governo de Alagoas sobre a erradicação do analfabetismo, vergonha histórica, e a melhoria da qualidade da educação de básica.

Alagoas precisa de uma universidade que tenha como objetivo a formação de professores. Não há no horizonte possibilidade de superação da baixa qualidade do ensino público e privado sem investimento em políticas continuadas de educação como metas definidas para erradicar o analfabetismo, elevar a qualificação dos professores do ensino fundamental e médio para, dessa maneira, promover mudanças transformadoras na vida das pessoas e impulsionar o estado na rota do desenvolvimento com inclusão social.

A experiência exitosa do curso de Licenciatura Indígena de Alagoas, ofertado pela Universidade Estadual de Alagoas (CLIND-AL), no Campus III da Uneal, em Palmeira dos Índios, desde 2010, é motivo suficiente para ser publicizada. Os povos indígenas têm sido vítimas continuadas de preconceito, exclusão social e violência desde tempos imemoriais.

O Programa de Apoio à Formação Superior e Literaturas Indígenas (Prolind) oferta 80 vagas para professores de origem indígena que não possuem curso de ensino superior. Os graduandos são divididos em quatro turmas cujas formações compreendem as áreas de Pedagogia, Ciências Biológicas, História e Letras.

O papel da universidade pública numa sociedade marcada historicamente por desigualdades básicas como a sociedade alagoana é refletir sobre a realidade da população como um imperativo ético e moral.

Os povos indígenas e as comunidades quilombolas têm encontrado espaço, acolhimento e respeito às suas culturas e saberes nas universidades públicas. A Uneal tem o que apresentar à sociedade alagoana que, em última instância, é quem a mantém.

Uncisal | Divulgação

Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal)

Em 1968, foi criada a Escola de Ciências Médicas de Alagoas (ECMAL), segunda faculdade de medicina de Alagoas, a primeira é a Ufal. A transformação em Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal) aconteceu através da lei nº 6.660 de 28 de dezembro de 2005.

A universidade dispõe de 275 professores, sendo 127 doutores, 102 mestres e 45 com especialização. A universidade tem 2.800 estudantes, matriculados em treze cursos de graduação (cinco bacharelados, cinco cursos superiores de tecnologia e três licenciaturas em parceria com a UAB), cinco cursos de pós-graduação stricto sensu e nove cursos de pós-graduação lato sensu.

A escola técnica é responsável pela formação e pela educação continuada de profissionais da saúde de toda a rede SUS do Estado, contando com mais de 2.000 alunos matriculados nos cursos técnicos das áreas de saúde nos municípios de Alagoas. No total, os cursos de graduação e técnicos contam com 4.800 alunos matriculados.

Novos cursos são disponibilizados além dos cursos das áreas de saúde, como bacharelado e superiores tecnológicos de licenciatura em Matemática, Física e Educação Física, ofertados por meio da Universidade Aberta do Brasil (UAB).

A Uncisal presta assistência com um conjunto importante e abrangente de órgãos, como a Maternidade Escola Santa Mônica (MESM), o Hospital Escola Helvio Auto (HEHA), o Hospital Escola Portugal Ramalho (HEPR), o Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), o Centro de Patologia e Medicina Laboratorial (CPML), o Centro de Reabilitação III (CER III), o Ambulatório de Especialidades (AMBESP), o Centro de Diagnóstico e Imagem e o Centro de Atenção Psicossocial (CAPs).

A Uncisal e sua antecessora, a Escola de Ciências Médicas, estão desde 1968 formando profissionais na área de saúde em Alagoas, demonstrando claramente que esta universidade e as demais instituições públicas são conquistas da sociedade alagoana.

Construção da Escola de Ciências Médicas e do Hospital de Doenças Tropicais no início dos anos 70 | Arquivo/História de Alagoas

Falha na comunicação

As universidades públicas são o que há de mais moderno em Alagoas, pois, são as instituições de ensino que produzem novos conhecimentos, técnicas e tecnologias através da pesquisa. O descompasso existente está na falta de comunicação com a sociedade, e nesse aspecto, as universidades estão sob ataques predatórios da extrema-direita, da direita e do mercado de educação privada no Brasil.

As empresas privadas, cujo objetivo é o lucro, têm como primeiro objetivo desconstruir a imagem das universidades públicas e, em seguida, ocupar espaços institucionais no Ministério da Educação através de seus representantes no Congresso Nacional.

No Brasil, mais de 90% da pesquisa é produzida nas universidades públicas, federais e estaduais. Tem origem nessas instituições a maioria esmagadora das patentes brasileiras, e são as universidades públicas que ocupam as melhores posições no ranking das universidades.

A realidade alagoana não difere da realidade nacional. São as universidades públicas que produzem, aproximadamente, 95% da pesquisa científica.

O apresentador de televisão Abelardo Barbosa, o Chacrinha, já avisava: “Quem não se comunica, se trumbica”.

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