Por Vinicius Konchinski, do Brasil de Fato
A Equatorial foi a única empresa a apresentar proposta para se tornar a acionista de referência da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Deve se tornar ainda neste mês, portanto, a controladora da estatal paulista, a maior empresa de água e esgoto do país e a terceira maior do América Latina.
Fundada em 1999, a Equatorial é novata nesse ramo. Começou a trabalhar com saneamento em 2022, após adquirir a concessão do serviço em todo Amapá em 2021.
Antes disso, cresceu principalmente atuando como distribuidora de energia. No segmento, ficou famosa por comprar empresas públicas em dificuldade financeira, cobrar a tarifa mais cara do país, ser alvo de queixas públicas de governantes e abusar de trabalhadores.
Tudo isso em busca de lucros para seus acionistas. Entre eles, o Banco Opportunity, de Daniel Dantas, e a gestora Blackrock, dos Estados Unidos.
Dantas foi alvo de investigações da Operação Satiagraha, em 2004, que acabou anulada pela Justiça.
“Eles têm uma gestão muito competente para ganhar dinheiro. Para o trabalhador, é o pior grupo possível”, relatou Ikaro Chaves, engenheiro eletricista e ex-conselheiro eleito do Conselho de Administração da Eletronorte. “Para o serviço, não é muito diferente.”
Histórico
Chaves lembra que a Equatorial iniciou sua operação como distribuidora no Maranhão. De lá, foi para o Pará, após comprar a estatal Centrais Elétricas do Pará (Celpa) por R$ 1 em 2012. Na época, a empresa paraense estava em recuperação judicial e tinha R$ 3 bilhões em dívidas.
A Celpa mudou de nome e tornou-se Equatorial Pará. De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), é a concessionária elétrica com a tarifa mais cara do país. Sua tarifa convencional é mais de 30% mais cara que a média nacional.
Depois do Maranhão e do Pará, a Equatorial expandiu suas atividades para o Piauí e Alagoas. Mais recentemente, tornou-se a empresa responsável por levar energia a residências e empresas de Goiás e Rio Grande do Sul.
Críticas
Nesses dois estados, a Equatorial virou alvo de queixas públicas de políticos que, a princípio, haviam sido favoráveis às privatizações.
O atual prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), votou pela venda da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) do Rio Grande do Sul em 2019, quando ele ainda era deputado estadual. Em 2021, a Equatorial comprou a estatal.
Já em janeiro deste ano, quando a capital gaúcha enfrentava enchentes, o prefeito foi ao X (antigo Twitter) reclamar que não conseguia sequer falar com alguém da companhia. Naquele momento, cinco das seis estações de tratamento de água de Porto Alegre estavam desativadas por falta de energia elétrica.
Já o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), vendeu a Companhia Energética de Goiás (Celg) em 2021 para a Energias de Portugal (EDP). A EDP vendeu a operação para a Equatorial em 2022. Em 2023, Caiado disse que o setor elétrico em Goiás era “seu calvário”, em entrevista concedida ao site Metrópoles.
Em 2023, a Equatorial Goiás foi considerada a pior empresa de energia do país pela Aneel por conta dos apagões. A CEEE Equatorial foi a segunda pior. O ranking tem 29 distribuidoras.
Trabalhadores
A má qualidade do serviço da CEEE Equatorial em Porto Alegre motivou a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara de Vereadores da cidade. Em abril, o presidente do Sindicato dos Eletricitários do RS (Senergisul), Antonio Silveira, afirmou que a empresa demitiu quase metade de seus funcionários desde que assumiu o serviço.
Silveira ressaltou que trabalhadores passaram a conviver com jornadas de trabalho extensivas e exaustivas, chegando até 16 horas de trabalho em alguns casos.
Pouco antes, em fevereiro, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) inspecionou empresas terceirizadas da CEEE Equatorial. A inspeção foi motivada por denúncias de “precarização deliberada” do trabalho.
Em 2023, três prestadores de serviço da CEEE Equatorial morreram em serviço. As mortes ocorreram em Bagé, Capão da Canoa e Palmares. O principal fator causal nos casos foi a imperícia das equipes em razão da falta de qualificação devida.
Também em 2024, trabalhadores da Equatorial Pará denunciaram jornadas excessivas de trabalho, coação e assédio moral.
Apesar disso tudo, a empres está hoje presente em 11 estados, atuando em 31% do território brasileiro e atendendo mais de 13 milhões de consumidores em todo o Brasil. Além de saneamento e distribuição de energia, também trabalha com transmissão, geração e até presta serviços de telecomunicações.
Procurada para falar das qualidade de seus serviços considerando que a empresa tende controlar a Sabesp, a Equatorial não respondeu até a publicação desta reportagem.
O governo de São Paulo informou que “a Equatorial assumiu diversos compromissos de longo prazo com a Sabesp, como permanecer na empresa até 2030, com a conclusão dos investimentos para universalização do saneamento nos municípios atendidos”.