Por Kaique Santos e Lucas Weber, do Brasil de Fato
O crime socioambiental cometido pela empresa Braskem em Maceió (AL) motivou Pastor Wellington a se lançar à disputa política nas eleições deste ano. Com apoio do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o religioso vai disputar uma vaga na câmara dos vereadores da capital alagoana pelo PT.
“A nossa cidade hoje tem uma ferida aberta. 100 mil pessoas, 10 quilômetros quadrados, 6 bairros, foram destruídas pela ganância”, disse o Pastor em entrevista ao programa Bem Viver dessa segunda-feira (29) sobre o crime cometido pela Braskem em 2019, quando mineração realizada pela empresa, segundo o Serviço Geológico do Brasil, abriu crateras sob o solo que resultaram em rachaduras em ruas, casas e edifícios e afetando cerca de 60 mil moradores da capital alagoana.
Nascido em Sergipe, em 1970, Wellington dos Santos tem formação Católica. Foi ordenado pastor na Igreja Batista de Timbaúba, em Pernambuco, da década de 1990. Nessa época, articulou diversas lutas com a cultura popular do estado.
Historicamente, é aliado das lutas do campo e cidade, militando pela reforma agrária, direitos humanos e pela tolerância religiosa.
Desde 2018, o pastor tem sido uma das vozes ativas na defesa das pessoas atingidas pelo crime da Braskem.
O político faz parte de uma articulação de evangélicos que acredita em uma nova formulação política dessa parcela da população, que se contraponha ao que está consolidado na chamada Bancada Evangélica no Congresso Nacional, conhecida por apoiar projetos como o PL do Estupro.
“Lamentavelmente, o que passa na mídia e acaba ficando no imaginário, até de uma certa intelectualidade no país, é o rosto evangélico envernizado nas lideranças das megaigrejas, dos megaempresários da fé, que ocupam os megacentros das televisões e rádios, com seus discursos bem programados para explorar a boa fé das pessoas”, argumenta.
Na semana passada, Pastor Wellington participou de um encontro com aliados religiosos progressistas em São Paulo. Entre as presenças, esteve o atual deputado federal Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ), que é um apoiador da candidatura do colega petista.
“A ideia é dizer que, sim, a fé é um elemento importante a se considerar, porque faz parte da nossa formação como povo brasileiro”, defende Pastor Wellington
“Mas a fé não pode ser instrumentalizada. E aqui, sendo autocrítico, nem para a direita, nem para a esquerda, a fé tem que ser instrumento de libertação, de cidadania, de emancipação do ser humano”.
Confira a entrevista na íntegra
Pastor, nesse encontro que você participou em São Paulo, você esteve com vários outros colegas evangélicos e evangélicas de todo o Brasil na ideia de construir uma bancada antifundamentalista. Quais foram os principais assuntos tratados nesse evento?
Olha, na verdade ainda não tem algo formatado sobre uma bancada antifundamentalista, mas é uma semente de dizer ao povo brasileiro e à igreja brasileira que, primeiro, ser evangélico é uma coisa complexa.
São muitos evangélicos, muitas formas de ser evangélico e muitas formas de viver a fé evangélica.
Então, nesse encontro, nós tínhamos um recorte de homens e mulheres, de pré-candidaturas, representando vários partidos políticos, várias tradições evangélicas.
A maioria do grupo estava no Rio [de Janeiro], mas estava [presente]a companheira Ava Santiago, de Goiânia, vereadora Isa, de Macaé, o deputado federal Henrique Vieira, que foi quem articulou esse encontro e nos convidou para estarmos juntos conversando sobre os rumos que a igreja tem levado e como que a gente pode fazer um contraponto a esse discurso estranho, eu diria, do projeto do evangelho do Jesus que é apresentado no evangelho.
Como atrair votos dessa parcela da população para partidos de esquerda?
A maioria do povo evangélico, onde ele está localizado? Ele está localizado nas periferias. Se a maioria desse povo está localizado nas periferias, a maioria desse povo está no corpo feminino, no corpo negro, no corpo empobrecido, no corpo violentado inclusive. Essa é a face majoritária da igreja evangélica brasileira.
Lamentavelmente, o que passa na mídia e acaba ficando no imaginário, até de uma certa intelectualidade no país, é que o rosto evangélico é esse rosto envernizado das lideranças das megaigrejas, dos megaempresários da fé, que ocupam os megacentros e aí as televisões, as rádios, com seus discursos bem programados para explorar a boa fé das pessoas.
Isso não é uma coisa nova, tá? Nossa, região é uma região embricada com a fé. Nós temos a nossa fé indígena, a fé do povo de terreiro, a fé católica, a fé espírita, a fé evangélica.
Então nós somos um povo de fé, vivemos um povo de fé. Então eu não diria que só o voto evangélico, mas o voto de quem acredita na mística.
A ideia é dizer que, sim, a fé é um elemento importante a se considerar, porque faz parte da nossa formação como o povo brasileiro.
Mas a fé não pode ser instrumentalizada. E aqui, sendo autocrítico, nem para a direita, nem para a esquerda. A fé tem que ser instrumento de libertação, de cidadania, de emancipação do ser humano.
Deus se corporifica num corpo vulnerabilizado. Então, a gente quer disputar não o voto, mas diria que a gente quer disputar o coração e a mente das pessoas. Mais do que a mente, a gente quer disputar o coração para trazer de volta, sabe?
Como você pretende articular sua candidatura em Maceió?
Esses dias, um repórter me perguntou o que é que tem a ver um pastor com o MST.
A minha resposta foi: você imagina que Jesus, de Nazaré estaria transitando de mãos dadas com quem? Com aqueles que usam ternos importados de 10, 15 mil reais para pregar o evangelho de Jesus, ou com aqueles que estão lutando por dignidade e pão na mesa das pessoas?
Nós estamos de fato numa disputa, repito, não para ocupar um espaço de poder, mas para tentar usar esse espaço para chamar as pessoas a uma reflexão.
A nossa cidade hoje tem uma ferida aberta. 100 mil pessoas, 10 quilômetros quadrados, 6 bairros, foram destruídas pela ganância.
Então, sou evangélico, sou pastor, mas não quero ser ‘representante de evangélico’, de nenhum religioso. Quero ser representante do povo, e não tenho medo de dizer, seria um representante radical daquele povo, que é maioria.
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