Por Carlos Pronzato
Na pátria de Simón Bolívar, se está decidindo o destino político de todo um continente. Num cenário explosivo com países enfrentados entre a direita e a esquerda institucional, a eleição venezuelana torna-se uma espécie de fiel da balança que influirá no decorrer geopolítico dos próximos anos. Histórico cenário onde Bolívar – que junto ao General José de San Martin, deu a independência aos países de América do Sul -, colocaria hoje novamente a sua espada a serviço das massas exploradas, ontem submetidas pela colonização do Império Espanhol, hoje pela continuidade do imperialismo norte-americano “democrático” e seus representantes da oligarquia venezuelana. Travestida de arautos da democracia, a oligarquia promove mais uma tentativa de golpe, desde a perda do seu monopólio do petróleo para as mãos da população chavista e não aceita os resultados onde Nicolás Maduro saiu vitorioso com 51,95% dos votos.
Venezuela possui as maiores reservas de petróleo do mundo e este é o primordial interesse norte-americano no país, alentando a líder oposicionista Maria Corina Machado e o seu procurador Edmundo González Urrutia. Anteriormente houve outras tentativas norte-americanas de interrupção democrática como a de Juan Guaidó, que colocou em voga o mais curioso e engraçado mecanismo eletivo, a auto proclamação presidencial, um produto saído dos laboratórios do Departamento de Estado norte-americano, para atuar em prol dos seus interesses em conluio com as forças golpistas locais.
Neste delicado contexto não se pode deixar de lado o nefasto papel que o candidato da ultra direita protagonizou em El Salvador quando foi o segundo secretário da Embaixada da Venezuela e participou da Operação Centauro, uma série de operações de extermínio dos Esquadrões da Morte do exército, submisso à gestão do presidente americano Reagan. No período da sua atuação na Embaixada, entre 1981 e 1983, o saldo dos esquadrões foi de mais de 13 mil mortos. González mantinha vínculos com a CIA desde 1976. Os EUA sempre impulsaram esses segundos funcionários para disputar presidências em América latina (Castillo Armas na Guatemala em 1954, Diaz Ordaz no México em 1964, Noriega no Panamá em 1983, etc.).
Já Maria Corina Machado apoiou o falido golpe de Estado contra Hugo Chávez em 2002, quando Pedro Carmona, um dos principais empresários do país, ocupou a presidência por 48 horas. O presidente deposto foi resgatado da prisão pelas massas e recolocado na Presidência. Corina Machado participou daquele efêmero governo e assinou o decreto que fechava o Congresso Nacional e anulava a Constituição. Muito além das eleições, ou é Bolívar, o povo e as Forças Armadas da Venezuela de Maduro ou os EUA de novo.
*Cineasta, diretor teatral, poeta e escritor. Sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB)