quinta-feira 19 de setembro de 2024

Pesquisadora da Uncisal analisa impacto da internet na saúde mental de universitários

Levantamento contou com a participação de 503 entrevistados e concluiu que mais da metade desse público é considerado dependente
Irena Duprat entrevistou 503 estudantes de cursos de graduação de uma universidade federal. Foto: Ascom Uncisal

Um levantamento realizado por uma pesquisadora da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal) analisou o impacto da internet na saúde mental de estudantes universitários da área de saúde no estado. Os dados resultantes da pesquisa são alarmantes: mais da metade dos participantes apresenta algum grau de dependência (leve, moderada ou grave) em relação à Internet, o que tem provocado danos à saúde mental. Casos considerados moderados e graves podem levar a ideias suicidas.

Durante a pesquisa, que resultou em uma tese de doutorado pela Universidade de São Paulo (USP), a professora Irena Duprat entrevistou 503 estudantes de cursos de graduação de uma universidade federal. Os participantes responderam, entre outros instrumentos, a um questionário sobre ideação suicida e uma escala de dependência de Internet Desse total, 50,9% apresentaram algum grau de dependência em relação à internet – sendo 8,6% dependência grave. A prevalência de ideação suicida foi de 12,5% entre os participantes.

Apesar de benefícios citados em atividades diárias, os estudantes relatam o mau gerenciamento das redes, tanto em relação ao tempo de navegação, como em relação ao seu propósito, o que, segundo a professora Irena Duprat, sugere maior susceptibilidade aos efeitos negativos desse uso, como prejuízos físicos, psicológicos, emocionais e de rendimento acadêmico durante os cursos de graduação.

“A Internet utilizada como mecanismo de fuga para situações adversas foi amplamente trazida nos discursos, acendendo um alerta à saúde mental dos estudantes, uma vez que episódios de depressão, ansiedade e estresse estiveram entre as principais justificativas para tal refúgio e, por sua vez, são fatores de risco para o comportamento suicida”, explica a professora e pesquisadora Irena Durpat.

Paralelo ao papel da Internet no contexto da ideação suicida, outro dado chama a atenção: o antecedente de suicídio e de tentativa de suicídio na família foi reportado por 10,3% e 26% dos participantes, respectivamente. Os resultados foram ainda maiores quando se referiram a um amigo: 12,5% dos estudantes confirmaram o suicídio e 44,1%, a tentativa. “Os números assustam uma vez que relacionamentos interpessoais podem exercer significativa influência sobre o comportamento de uma pessoa, aumentando a probabilidade de reprodução do ato”, ressalta a autora da pesquisa.

Além do papel da Internet, variáveis como faixa etária, orientação sexual, curso em andamento, bullying, histórico de tentativa de suicídio em familiares e/ou amigos, uso de medicação controlada, sintomatologia significativa para depressão e ansiedade estiveram associadas com a presença de ideação suicida.

Motivação

Irena Dupra conta que a motivação para realizar a pesquisa surgiu da observação da realidade em que atua. “Por volta de 2016, 2017, começamos, infelizmente, a ter um aumento no número de estudantes com problemas de saúde mental, vários estudantes apresentando depressão, ansiedade, síndrome do pânico e tivemos alguns casos de tentativa suicídio não só no curso de graduação em que leciono, mas em outros cursos”.

A pesquisadora complementa: “A gente sabe que a Internet é, sem sombra de dúvida, uma das maiores revoluções tecnológicas dos últimos 20 anos. Mas tudo em excesso gera preocupações, gera riscos. Então eu fiz a junção entre essas duas temáticas no sentido de tentar investigar ‘De que forma a internet poderia ter relação com a ideação suicida, ou seja, investigar se a internet poderia influenciar de alguma forma no pensamento suicida desse jovem?’”.

Metodologia

A pesquisa foi realizada em duas etapas: uma etapa quantitativa e uma, qualitativa. A etapa quantitativa foi composta por 503 estudantes de seis cursos da área da saúde. Os estudantes foram sorteados e preencheram alguns instrumentos de coleta, entre eles um “Questionário de Ideação Suicida” e o “Teste de Dependência de Internet”.

O Teste de Dependência de Internet tinha 20 questões relacionadas ao uso da internet e considerava o tempo que a pessoa permanecia conectada em momentos recreativos, não levando em conta a utilização para fins profissionais ou de estudo. Ao final, o indivíduo era classificado, de acordo com seu escore, como “normal” (não dependente), dependente leve, dependente moderado ou dependente grave.

Aqueles estudantes que obtiveram, simultaneamente, a presença de ideação suicida e foram classificados como dependente moderado ou dependente grave foram convidados para a segunda etapa, que aconteceu por meio de entrevistas individuais.

Produção científica

Além de resultar em uma tese de doutorado, a pesquisa implicará na produção de uma cartilha de conscientização sobre o uso racional da Internet e na elaboração de dois artigos a serem publicados em periódicos científicos de visibilidade nacional e internacional.

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