quinta-feira 21 de novembro de 2024

Eduardo Bastos e suas “Aquarelas da Alma”

Suas aquarelas, apresentam uma criativa, sensível, poética e inteligente produção artística, vão além de retratar a Cidade

22 de setembro de 2024 5:27 por Da Redação

 

Por Tereza Pereira

Fotografias: Tereza Pereira e Eduardo Vieira

A exposição do artista plástico, maceioense, Eduardo Henrique Omena Bastos “Aquarelas da Alma”, que estará aberta até o dia 25 de setembro, na rua Cônego Machado, Farol, oferece ao público um extraordinário conjunto de perspectivas, ou ponto de vista, pensamento, concepção, visão, olhar, interpretação, compreensão, sentido, ângulo, ótica, prisma, propósito, ideia, expectativa, oportunidades, possibilidades, mas acima de tudo uma imersão na complexa realidade humana e seu contexto social. Suas aquarelas, apresentam uma criativa, sensível, poética e inteligente produção artística, vão além de retratar a Cidade. A imersão nos leva, desde a representação da realidade social com suas singularidades, a desigualdade expressa, a fragilidade das situações humanas, em uma série dirigida por meio de um olhar dialético para proporcionar sensibilidade crítica ao observador.

 

É um mergulho na alma poética da cultura, danças, folguedos, religiosidade, musicalidade e ofícios urbanos, como “Afazeres do Mar”, tem o retrato urbano de Maceió e personalidades nacionais e internacionais como Graciliano Ramos, Chico Mendes, Che Guevara, Jan Van Eyck. Para Eduardo Bastos, a Arte pode ser socializadora, questionadora, construtiva e ao mesmo tempo participativa, segundo o artista o Tema precisa levar a uma reflexão, buscar algum sentido o qual venha contribuir e resultar em um bem estar social, considera isso muito relevante. Então, “o artista precisa ficar atento às demandas sociais: há pessoas dormindo nas ruas, desamparadas, passando fome e frio, marginalizadas”.

Bastos comenta, é preciso ter visão crítica, uma dialética, toda essa violência não é natural, parafraseando Brecht. A sua proposta é retratar a realidade: “Não é coisa boa de se ver, mas precisa ser mostrado”. E recorda a filósofa Hannah Arendt, “a maldade não se dá por causa da natureza de caráter ou de personalidade, mas pela incapacidade de julgar e conhecer as situações, os fatos, as estruturas e o contexto”. E complementa, muitos passarão despercebidos, devido a banalização do mal (Arendt), coisa comum na sociedade do acúmulo e usura. Entretanto, o artista alimenta a certeza de que é possível por meio da arte, tocar o coração de alguém.

Para o arquiteto, professor no Curso Superior e Tecnológico de Design de Interiores, do IFAL – a Arte sempre esteve presente em sua vida. Linhas arquitetônicas da cidade, sempre lhe chamaram atenção, desde sua infância e o desenho fez parte de sua vida, assim como para todas crianças. O incentivo familiar foi bem importante.

 

“Lembro dos passeios de minha infância pelo comércio de Maceió, zona central da cidade, com mamãe e minha tia Lili. Ficava fascinado as fachadas antigas que não mais existem, salvo poucos exemplares e as lojas de brinquedos, é claro”. Para Eduardo Bastos, o grande incentivo ao desenho foi por meio de sua mãe – gostava de vê-la sorrindo quando entregara um rabisco, depois ela falava, “esse menino é um artista!” Esses momentos felizes constam na memória afetiva do artista. Bastos, recorda que nasceu numa família católica, seus motivos eram: Jesus, Sagrada Família, Santos, entre outros. Além de gostar muito de desenhar personagens de gibis e seriados de Televisão, principalmente os cowboys.

Perguntado sobre quais traços familiares e sociais foram determinantes na sua formação como arquiteto e artista plástico, Eduardo Bastos diz: o desenho e a paixão pela matemática, o levaram à Arquitetura, mas logo, logo percebeu que a Arquitetura vai muito além disso. Para ele, a Arquitetura o despertou à paixão pela Perspectiva e consequentemente pela Arte. “Obviamente, tive bons professores de História da Arte e da Arquitetura, que também me influenciaram”.

 

Com relação aos principais mestres e escolas de Artes que lhe influenciaram, destacou Gustave Courbert, Jean-François Millet, Van Gogh, Edgar Degas, Paul Gauguin. Mas, a Escola Realista pelos temas que abordam e o Impressionismo, segundo Bastos, o encantam. “Devo destacar um artista, o qual gostaria de ter feito o que ele fez, dando expressividade e personalidade aos seus modelos de maneira muito inovadora – Egon Schiele.

 

Sobre as escolhas de seus temas, Bastos afirma, “a escolha de meus temas se dá de maneira intuitiva, normalmente desenho por fotografias que eu mesmo faço, com assuntos que me interessam”. Exemplifica, a série Os Invisibilizados, Casarios antigos, coisas da minha cidade e personagens que fizeram histórias, amigos, etc. Com relação a técnica, gosta da aquarela por produzir um resultado mais rápido, apesar do planejamento pra ser executada. “Mas, me dá grande satisfação pela delicadeza, transparência e imprevisibilidade, enfim, acho bonito!”

 

Considera sua arte ativista, como afirmou e também talvez subversiva, “como creio que toda Arte deveria ser, mas é somente um ponto de vista meu!”

Ainda assim, comenta Eduardo Bastos, “tenho recebido encomendas, algumas da burguesia local, para fazer retratos – nem só de aplausos vive o artista (Rsss!).

Mas, não imagino minhas obras decorando apartamentos “chiques”! Se alguém diante de uma obra minha, começar a questionar a sociedade que vivemos e quanto o mundo é injusto e isso “mexer” com sua cabeça, me dou por satisfeito!

 

A sensibilidade e a observação levaram o arquiteto e artista Eduardo Bastos, a entrar em contato como Movimento dos “Urban Sketchers”, uma comunidade global de desenhistas urbanos, cuja missão é produzir, compartilhar e publicar representações inseridas na história dos locais onde eles vivem e para onde eles viajam.

Entre as séries que encontramos na Exposição, observamos Invisibilizados, moradores de rua, recicladores, cuja expressões nos chamam atenção. Bastos comenta, “o meu querido amigo que no ano passado partiu para outro plano, professor Sávio Almeida, certa vez escreveu no periódico CAMPUS, que eu enviava mensagens para pessoas que jamais as receberiam”. O artista manifesta, que já teve oportunidade de encontrar com alguns moradores de rua, flanelinha, recicladora e até gari da prefeitura, onde os reencontrou e que ficaram bem alegres com o resultado das aquarelas.

 

Sobre conselhos que daria para jovens artistas, que tem o dom da inspiração e sensibilidade, Eduardo Bastos declarou, “não sou nenhuma autoridade para dar conselhos, talvez diria: busquem conhecimento, aperfeiçoem-se cada dia, estudem muito e façam da sua Arte um instrumento para tornar o mundo mais humano e solidário.

 

Esta exposição, que iniciou em 15 de agosto, representa sem dúvida “Aquarelas da Alma”. Sua curadoria é organizada pela professora Caroline Gusmão. Recomendamos que visitem, entrem em contato. Este trabalho fica aberto até o próximo dia 25 de setembro, na Galeria de Artes do Cesmac, Cônego Machado, Farol. Confiram de perto!

 

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