O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), fez a sua campanha com um discurso de combate à violência. Oficial do Exército, esteve na Missão de Paz da ONU no Haiti (2005-2006), deixou a carreira militar em 2008 com a patente de capitão, ingressando na política e na gestão pública, onde ganhou notoriedade como ministro da Infraestrutura no governo de Jair Bolsonaro.
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, capitão Guilherme Derrite, nomeado por Tarcísio, carrega um histórico controverso. Ex-integrante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), Derrite foi afastado da unidade após denúncias de excesso de letalidade durante operações policiais. Sob sua gestão, a abordagem ostensiva e repressiva ganhou ainda mais força.
Um dos episódios mais emblemáticos dessa política foi a Operação Verão, realizada pela Polícia Militar na Baixada Santista, ostensivamente, para combater o tráfico de drogas. A operação, que foi uma retaliação pela morte do policial Samuel, resultou em 56 óbitos, gerando grande repercussão e questionamentos sobre abuso de força e violação de direitos. Ao ser questionado sobre o número de mortos, Derrite afirmou: “Eu nem sabia que eram 56”.
Esse tem sido o protocolo adotado pelo governador de São Paulo e pelo secretário de Segurança Pública. Mudanças internas na corporação têm ocorrido, com a substituição de oficiais e a promoção de oficiais alinhados as diretrizes políticas do governador e do secretário. A “reestruturação” da PM paulista vem transformando a tropa numa milícia cuja ação é o enfrentamento direto e de alta letalidade.
Os números não mentem
O número de pessoas mortas pela polícia nos primeiros nove meses de 2024 já ultrapassa o total registrado em cada um dos últimos três anos, refletindo um aumento significativo na letalidade policial no estado de São Paulo. Em 2023, foram 384 mortes; em 2022, 275; e, em 2021, 447. Esses dados revelam uma escalada preocupante na violência estatal, que tem gerado questionamentos sobre a condução da segurança pública e a eficiência das políticas repressivas adotadas.
A polícia de São Paulo matou 496 pessoas entre janeiro e setembro de 2024, de acordo com um balanço divulgado pela Secretaria da Segurança Pública (SSP). Comparado ao mesmo período de 2023, quando 283 pessoas foram mortas, o número de 2024 representa um aumento de 75%, evidenciando uma escalada significativa na letalidade policial no estado.
Câmera corporal
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, determinou que o governo de São Paulo preste novos esclarecimentos sobre o uso de câmeras corporais adquiridas pelo Estado para a Polícia Militar. Em abril, a Defensoria Pública paulista pediu que a corte analisasse o uso do equipamento no estado. O pedido ocorreu após a gestão Tarcísio lançar um edital para a contratação de 12 mil novas câmeras que seriam acionadas voluntariamente pelos policiais, e não por gravação automática e ininterrupta.