quinta-feira 26 de dezembro de 2024

O mundo aguardando a mãe de todas as bolhas, por Luís Nassif

A economia dos EUA responde por 27% da economia global, muito longe dos 70% de participação nos índices de ações.
Reprodução

Por Luis Nassif, do Jornal GGN

2025 poderá ser o ano mais desafiador em uma década que já contou com uma pandemia mundial.

No caso do Brasil, a aguardada elevação da Selic aumentará exponencialmente o número de empresas em recuperação judicial e de consumidores inadimplentes. Prosseguirá o terrorismo fiscal, brandido por agentes de mercado e pela mídia.

Em cima de uma situação interna vulnerável, há cumulus-nimbus se formando no horizonte da economia ocidental, conforme alerta de Ruchir Sharma, um renomado estrategista global e analista econômico, atualmente presidente da Rockefeller International e fundador da Breakout Capital, em artigo publicado no Financial Times.

Há consenso de que, com Donald Trump, os EUA aumentarão seu papel de aspirador de dólares. De um lado, porque as tarifas de importação pressionarão a inflação interna levando o FED a aumentar os juros. De outro, porque as isenções fiscais a grandes grupos aumentarão mais ainda seus lucros.

Tudo isso ocorre em uma momento em que está em formação o que Sharma chama de “a mãe de todas as bolhas”.

Os investidores globais estão comprometendo mais capital em um único país do que jamais ocorreu na história moderna, diz ele. Criou-se uma situação em que o mercado de ações dos EUA flutua acima do mundo real. Os preços relativos são os mais altos desde que os dados começaram há mais de um século e as avaliações relativas estão no pico, desde que os dados começaram há meio século.

Hoje, os EUA respondem por quase 70% do principal índice de ações global, contra 30 por cento na década de 1980. E o dólar, por algumas medidas, é negociado a um valor mais alto do que em qualquer outro momento desde que o mundo desenvolvido abandonou as taxas de câmbio fixas há 50 anos.

A economia dos EUA responde por 27% da economia global, muito longe dos 70% de participação nos índices de ações. E, com a vitória de Trump, aumenta a confiança dos especuladores em novo salto no dólar e nos índices norte-americanos.

Diz ele que, viajando pela Ásia e Europa, observa-se uma onda de investimentos sendo canalizados para os Estados Unidos. Em Mumbai, consultores financeiros estão pressionando seus clientes a diversificarem fora da Índia comprando o único mercado que é ainda mais caro — a América.

No auge da bolha dos pontocom, em 2000, as ações dos EUA estavam mais valorizadas do que agora, mas o mercado dos EUA não era negociado com um prêmio tão grande em relação ao resto do mundo

O mesmo ocorre no poder de atração dos Estados Unidos na dívida global. Em 2024, os estrangeiros despejam o equivalente a uma taxa anualizada de US$ 1 trilhão, quase o dobro do fluxo para a Zona do Euro. Os EUA agora atraem mais de 70 por cento dos fluxos para o mercado global de US$ 13 trilhões para investimentos privados, que incluem ações e crédito.

No passado, diz ele, bolhas como nos anos 20 ou na era pontocom faziam com que o mercado norte-americano puxasse os demais mercados. Hoje em dia, ele suga os recursos de todos os demais mercados.

Os investidores se iludem com a ideia de que os fundamentos determinam os preços e o sentimento do mercado. Mas chega um momento, diz ele, em que o sentimento começa a determinar os fundamentos. E, aí, se tem a mãe de todas as bolhas. Só não se sabe, ainda, o que vai determinar seu estouro.

Em algum momento, a estratégia monetária e cambial do Brasil terá que incluir um novo e fundamental elemento na sua formulação.

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