7 de dezembro de 2024 9:38 por Da Redação
Por Stanley de Carvalho*
O ano era 1984. Graças à petulância do DCE, à insistência do Marcos de Farias Costa, irmão caçula do também compositor e do já saudoso Marcondes Costa, assim como ao inicio do afrouxamento da censura ditatorial sobre as Artes e a Cultura, a canção que havia sido vetada anteriormente foi liberada. Alvíssaras!
Lembro que um ponto visado pelos dois “analistas curturais” de plantão era a palavra ¨Revolta¨, inserida na letra de minha autoria, lindamente ornamentada pela melodia perfeita do Marcos Costa. Quando tentei argumentar a poética do temo para o agente da PF, ele rebateu e falou:
– Se eu deixar passar essa musica, vão me transferir para Manaus, para censurar bunda de índio!
Passados um, dois anos, a persistência valeu a pena. César Rodrigues, sobre o tímido piano do próprio Marcos, gravou, em fita cassete, o material para a Inscrição. Resultado da Seleção: aprovada!
Dai começou a epopéia do Marcos, para correr atrás, já que eu tinha caído, acometido por uma febre tifoide que me deixou por quase um mês isolado em casa.
Marcos foi competente. Convidou o Brandão para fazer o arranjo e, para defender, nada mais nada menos, que Leureny, a Dama da Noite que aveludaria notas e acordes, com o carinho de quem nina uma criança ao colo e a altivez de quem, das trincheiras, exorta a Liberdade. A canção foi classificada para a Final! Grande Brandão! Imensa Leureny!
A Grande Final foi num 01 de fevereiro do ano de 1984 e fora transferida para o Ginásio do CRB que dispunha de maior espaço para acomodar as grandes torcidas, bem mais que o Teatro Deodoro, palco das Classificatórias e onde, exatos 40 anos depois, Leureny, igualmente grandiosa e igualmente popular, viria a comemorar sua festa de 80 anos.
Nesse dia, a Salmonella Typhi ainda me tinha como refém e, isolado, eu teria que angustiosamente esperar o outro dia, para saber das novidades do Festival. Fosse hoje, o Celular me levaria até à Cena iluminada. Mas, não aconteceu assim.
O Marcos não aguentou a emoção e de um Orelhão próximo ao Ginásio enviou a notícia para meu telefone fixo, em Riacho Doce:
– Ganhamos! Cabelo e barba!!!
Melhor música = Canção do Terceiro Mundo
Melhor Intérprete = Leureny Barbosa
Melhor arranjo= José Brandão
Deixei o coração bater apressado, imaginando a farra que deveria acontecer, talvez no Bar do Biu ou mesmo no Bar Gracy, em comemoração e entre cervejas e violão. Esta era, na época, a maneira de se agradecer aos que irmanavam com suas vozes insuperáveis, seus dotes artísticos invejáveis e empenho altruísta. Essas coisas ainda não eram mensuradas em dinheiro….
(*) Stanley de Carvalho é engenheiro civil e compositor
Fonte: Acervo Gustavo Gomes