Há profissões que, por muito tempo, foram rotuladas como “coisa de homem”. No entanto, em um mundo que aos poucos vai quebrando as barreiras de gênero, as mulheres têm mostrado que podem ocupar qualquer espaço. Nesta reportagem especial, conheceremos a história de Wedja e Maria José, motoristas dos ônibus escolares da Secretaria de Estado da Educação (Seduc) que exercem seu trabalho com excelência e conquistam os estudantes com simpatia, gentileza e conselhos.
Superando desafios
Ao longo dos últimos 20 anos, Wedja Lydiane enfrentou desafios e superou obstáculos como condutora de transporte escolar. Inspirada pelo avô, ela decidiu trilhar um caminho tradicionalmente ocupado por homens, provando que competência e determinação não têm gênero.
Em muitas das empresas onde trabalhou, a alagoana foi a única mulher entre motoristas, o que, por vezes, a fez se sentir deslocada. Mesmo assim, jamais permitiu que olhares e comentários a fizessem desanimar. “Eu me sentia deslocada, como se aquele lugar não fosse para mim, mas decidi lutar pelo meu sonho. Enfrentei comentários maldosos de colegas que diziam que eu deveria voltar para o fogão. Mas a verdade é que a mulher pode dirigir o que quiser – seja um fogão ou um ônibus. Eu escolhi o ônibus”, destaca ela.
O preconceito, porém, era uma constante no dia a dia da motorista, mesmo em situações imprevistas. “Teve uma vez, quando eu trabalhava em Minas Gerais, que o caminhão deslizou por conta da lama, depois de um dia de muita chuva. Era algo que poderia acontecer com qualquer pessoa, mas a primeira coisa que disseram foi: isso só aconteceu porque é uma mulher dirigindo. Qualquer problema no veículo já vinha acompanhado dessa frase, como se fosse culpa minha só por ser mulher”, lembra.
Apesar da frustração, a alagoana encontrou forças ao perceber que sua presença naquele espaço também abria portas. “Com o tempo, vi que outras mulheres estavam se inspirando no que eu fazia e isso me deu motivação para continuar. Era como se meu trabalho fosse uma forma de mostrar que lugar de mulher é onde ela quiser estar”, recorda.
Prestes a completar cinco anos de serviço prestado à Seduc, Wedja destaca o seu papel, que vai além da função de motorista. “Passamos praticamente o dia todo com os estudantes, ouvindo suas histórias, o que nos faz ser não só motoristas, mas também ombro amigo e educadores. Ensinamos a importância de não depredar os ônibus, respeitar os colegas e cultivar bons valores, e é gratificante ver que esses ensinamentos ficam com eles para a vida toda. Quando encontro ex-alunos do Cepa na rua e eles vêm me cumprimentar, dizendo que sentem saudade, é muito emocionante. Me enche de orgulho ver o quanto cresceram, conquistando o mundo na faculdade ou no mercado de trabalho”, revela ela.
Wedja é responsável pela rota que vai do bairro do Ouro Preto até o Centro de Estudos e Pesquisas Aplicadas (Cepa), transportando alunos de diferentes idades, de crianças a adolescentes. Ao relembrar o início de seu sonho, ela se emociona. “Eu via meu avô chegando em casa com o ônibus, achava aquilo lindo, mas nunca soube se conseguiria chegar lá também. Hoje, posso dizer que cheguei e estou muito feliz com o que faço. Não me vejo fazendo outra coisa. É um prazer imenso levar esses meninos para casa com segurança e ver o sorriso deles ao final de cada dia”, conclui a motorista, com a satisfação de ter encontrado seu verdadeiro propósito de vida.
Ocupando espaços
Infelizmente, a luta contra o preconceito de gênero vivida por Wedja Lidyane não é um caso isolado. Maria José Batista, conhecida como “Tia Bebê”, também compartilha histórias semelhantes. Apesar de possuir habilitação na categoria D desde 2011, só teve a oportunidade de assumir o volante três anos atrás, já na Seduc. Antes disso, as empresas de transporte só a contratavam para outras funções, como a de cobradora. Para ela, a razão estava nítida: ser mulher.
“Tinha um grupo de mulheres habilitadas comigo na empresa, mas nenhuma de nós conseguiu a tão sonhada oportunidade. A gente atendia a todos os pré-requisitos, mas era evidente que não nos contratavam porque éramos mulheres. Foi então que decidi sair e tentar algo novo na Seduc. Aqui, fui acolhida como em uma segunda casa e finalmente pude realizar meu sonho”, conta Maria, emocionada.
Mulher no volante, na visão de Maria José, é sinônimo de cuidado e atenção. “A gente é mais calma, gentil e paciente, qualidades que fazem toda a diferença, principalmente quando se trata de transporte escolar. Lidar com crianças e adolescentes não é só dirigir, é cuidar deles como se fossem nossos próprios filhos, com atenção e carinho”, explica.
Ela considera que a ideia de que “mulher dirige mal” é um estereótipo ultrapassado, que não corresponde à realidade que vive todos os dias, onde a habilidade e o compromisso com a segurança são suas maiores prioridades.
Diariamente, Tia Bebê conduz estudantes, em sua maioria crianças, do complexo habitacional Benedito Bentes até o Cepa. Apesar dos desafios, ela considera a experiência gratificante e aproveita a convivência para ensinar valores. “Sempre digo que gentileza gera gentileza. Aqui no ônibus, eles aprendem a dar bom dia, dizer obrigado, essas palavrinhas mágicas que às vezes acabam se perdendo no dia a dia. Também os educo a cuidar do ônibus, a não riscar nem rasgar os assentos, porque isso aqui é deles, e precisamos zelar pelo que é nosso.”, explica ela.
Emily Vitória, de 11 anos, aluna do 6º ano da Escola Estadual Professora Maria José Loureiro, vê em Maria uma inspiração: “Aqui no ônibus, todo mundo é amigo, e a tia sempre nos ensina a sermos bons uns com os outros e a cuidar do ônibus”, conta.
Já Milleny Monique, de 17 anos, estudante do 1º ano da Escola Estadual Princesa Isabel, sente-se mais confiante com a motorista. “Eu me sinto mais segura quando é motorista mulher. Dá para conversar sobre qualquer coisa”, declara.
Maria encerra a entrevista com gratidão por estar na Seduc e poder viver seu sonho diariamente. “Estar aqui com esses meninos é uma terapia para mim. Amo meu trabalho e aprendo com eles todos os dias”, finaliza.
Oportunidade na área
Está interessado em integrar a equipe de transporte escolar das escolas estaduais? Fique ligado! A Seduc abriu o Processo Seletivo Simplificado (PSS) para selecionar condutores escolares e fiscais de transporte escolar em Arapiraca, Maceió e Rio Largo, conforme as necessidades de cada cidade.
As inscrições já estão abertas e devem ser feitas até o dia 13 de dezembro pelo site www.selecao.educacao.al.gov.br. Ao todo, são 330 vagas, sendo 300 para condutores e 30 para fiscais. A remuneração será de R$ 2.606,28, com carga horária de 44 horas semanais. Além disso, haverá reserva de vagas para pessoas com deficiência, com 5% das vagas destinadas a esse público.
Cada candidato pode se inscrever para apenas um cargo, e será necessário anexar a documentação exigida no edital durante a inscrição. Para mais informações, clique aqui.
Por Assessoria