sexta-feira 27 de dezembro de 2024

Supermercados seguem sendo coniventes com casos de racismo

Os supermercados no Brasil são verdadeiras vitrines da opressão e da exploração
Eventos recentes demonstram que racismo nos supermercados não foi superado. Foto: Reinaldo Canato

Por A Verdade

Novos casos de agressão e assassinato de pessoas negras em grandes redes de supermercados escancaram a farsa de suas “ações contra o racismo”, muito divulgadas na imprensa burguesa. É preciso seguir denunciando a conivência e a cumplicidade dos monopólios com esses crimes

Guilherme Arruda e Felipe Gomes | São Paulo (SP)


No último mês de novembro, a denúncia de um caso de racismo em um supermercado em Suzano (SP) e o assassinato de um homem em uma loja do Oxxo em São Paulo (SP) relembraram a todo o país que as “medidas antirracistas” supostamente tomadas pelos donos das grandes empresas do varejo após escândalos anteriores foram uma verdadeira farsa.

No dia 3 de novembro, o policial militar Vinicius de Lima Brito deu 11 tiros pelas costas de um jovem negro de 26 anos que havia furtado sabão em pó de uma unidade do Oxxo. O agente havia sido reprovado em um exame psicológico da Polícia Militar três anos antes, por demonstrar “inadequação” em sua capacidade de controle emocional. Mesmo assim, a corporação o permitia andar armado pelas ruas, o que inevitavelmente levou ao crime do mês passado.

Apesar da execução brutal que cometeu, o soldado da PM sequer foi preso até um mês depois do caso, quando o rapper Eduardo Taddeo, tio do jovem assassinado, publicou em suas redes sociais a gravação das câmeras da loja que provavam o crime. Segundo o pai do jovem, o corpo de seu filho ficou estendido por várias horas após a morte no estacionamento do Oxxo, que seguiu funcionando normalmente.

Já no dia 6 de novembro, um homem negro relata que foi seguido, agredido e ridicularizado em Suzano por seguranças do Supermercado Nagumo, que o acusaram falsamente de ter roubado produtos. Diógenes da Silva conta que, depois de pegar um frango, notou que estava sendo seguido. Um segurança o abordou e disse: “Tá com rabo preso, negão?”.

Mesmo após Diógenes negar que tivesse roubado qualquer mercadoria, os seguranças o cercaram, agrediram-no com um soco na costela e forçaram o homem a se despir para supostamente provar que não estava escondendo nada. “Eu tirei a roupa dentro do mercado, na frente de muitas pessoas. Foi muito humilhante”, disse ele a um canal de TV.

Após provar que a acusação de roubo era falsa, Diógenes chamou a Polícia Militar para denunciar o caso de racismo, mas a viatura nunca veio. Em nota, o Supermercado Nagumo afirmou que seus “profissionais são devidamente treinados para que não ocorram quaisquer ocorrências como a citada”.

Aparentemente, o “treinamento” não serviu para conter o racismo escancarado em uma unidade da rede de supermercados. Da mesma forma, onde estava o “treinamento” do PM que deu 11 tiros nas costas de um jovem, que supostamente deveria imobilizá-lo e não assassiná-lo friamente, segundo dizem os porta-vozes da corporação que mais mata no Brasil?

Racismo atinge clientes e funcionários

Antes desses dois crimes recentes, o Brasil já havia sido palco de uma série de casos de discriminação contra negros em supermercados. Em alguns deles, a violência racista chegou ao ponto de levar à morte das vítimas.

Em 2020, seguranças da rede Ricoy torturaram um adolescente negro nos fundos de uma unidade na Vila Joaniza, bairro da Zona Sul de São Paulo. O garoto foi agredido com chicotes e fios elétricos enquanto estava amarrado e nu, em cenas que revivem os tempos da escravidão. Vídeos da sessão de tortura foram gravados e postados na Internet pelos próprios agressores criminosos.

Naquele mesmo ano, o assassinato de João Alberto Freitas, o Beto, nas dependências de um Carrefour em Porto Alegre chocou o país. Dois seguranças do mercado – um deles sem autorização para trabalhar como tal por ser membro da Brigada Militar do RS – o espancaram e asfixiaram até a morte no estacionamento da loja.

Apesar do evidente racismo que originou as agressões contra Beto, um homem negro, o Tribunal de Justiça do RS afastou a “motivação racial” do crime, em julgamento que corre sob segredo de justiça. O caso aconteceu um dia antes do Dia da Consciência Negra em uma rede de supermercados que hoje também é conhecida por seu apoio aos crimes bárbaros dos sionistas contra o povo palestino na Faixa de Gaza.

Os trabalhadores dos supermercados também são alvo do racismo, com a conivência da direção das lojas. Mais recentemente, também no Rio Grande do Sul, um supermercado foi condenado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região a indenizar uma funcionária negra que foi chamada de “escrava” enquanto trabalhava. Durante os oito meses que trabalhou na rede, a mulher relatou sofrer “repetidas situações de humilhação e agressões verbais com teor racista”.

Ao denunciar o ocorrido, a gerência se omitia alegando que “o cliente sempre tem razão” e não tomando qualquer providência. Pela negligência, um juiz determinou que o supermercado terá que pagar R$30 mil reais à trabalhadora negra, quantia que jamais poderá reparar as agressões sofridas, uma vez que até mesmo na letra fria da lei burguesa o crime de racismo é inafiançável.

Luta contra a fome

Os supermercados no Brasil são verdadeiras vitrines da opressão e da exploração. Enquanto a classe trabalhadora brasileira sofre com salários de fome e situações de trabalho cada vez mais precárias, os supermercados ostentam em suas vitrines tudo aquilo que a nossa sociedade é capaz de produzir mas incapaz de fornecer para a população a um preço razoável para que se tenha um padrão de vida minimamente digno.

É injustificável que falte comida no estômago do povo enquanto as prateleiras estão cheias. É inaceitável que o preço a se pagar por um item de necessidade básica sejam 11 balas nas costas, e que mesmo quando se tenha dinheiro para comprar, um trabalhador corra o risco de ser assassinado por conta da cor de sua pele.

Esse tipo de violência expõe a herança escravista que o capitalismo carrega dentro de si. Todos os anos, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) condena esse escárnio em sua jornada de luta contra a fome, ocupando supermercados e pautando o debate público acerca da fome e do racismo no país.

No último dia 7 de setembro, o movimento realizou a maior jornada contra a fome de sua história, conquistando 13,5 mil cestas básicas em todo o país. A cobertura do evento, inspirador em sua vitória, está disponível no canal do jornal A Verdade.

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