2 de janeiro de 2025 3:49 por Da Redação
Por Geraldo de Majella*
Hoje, 2 de janeiro, celebro 64 anos com saúde e a disposição que me impulsionou na juventude a abraçar a luta por um mundo mais justo. Foram tempos sombrios, marcados pela desconfiança, perseguição e violência — mas também por resistência e esperança. As trevas, que pareciam intransponíveis, foram afastadas, e o horizonte antes distante da redemocratização do Brasil tornou-se realidade, fruto de lutas, coragem, persistência e sonhos compartilhados.
O caminho percorrido é marcado por sangue, cruzes e sepulturas, enquanto centenas de brasileiros permanecem desaparecidos — mortos sem sepultura. Ou, como definiu o deputado federal Alencar Furtado (MDB-PR): “Para que não haja no Brasil lares em pranto; para que as mulheres não enviúvem de maridos vivos, quem sabe, ou mortos, talvez — viúvas do quem sabe e do talvez; para que não tenhamos filhos de pais vivos ou mortos, órfãos do quem sabe e do talvez.”
As vitórias eleitorais e a conquista da Anistia abriram as portas das cadeias e dos aeroportos, permitindo que os exilados retornassem à sua pátria, vilipendiada pelos ditadores, e que milhares emergissem da vida clandestina.
Me vejo, muitas vezes, rememorando fatos da História do Brasil e de Alagoas que as atuais gerações têm dificuldade de acreditar que aconteceram. Mas é certo: toda ditadura é abominável e de tão cruel não é de se espantar que jovens desconheçam os horrores daquele tempo.
Os laços de família e amizade são, muitas vezes, esgarçados: “irmão desconhece irmão”. Passados quase 61 anos do fatídico 1º de abril de 1964, os ecos ressoam como se fosse hoje. Bolsonaristas tentaram um golpe de Estado, fracassaram na consumação, mas espalharam o ódio em todas as latitudes, produzindo um impacto devastador e duradouro nas famílias e na sociedade.
Há um vídeo postado nas redes sociais que viralizou, contendo o célebre discurso do Dr. Ulisses Guimarães na promulgação da Constituição Cidadã, no dia 5 de outubro de 1988, quando, em um gesto memorável, disse: “Tenho ódio e nojo à ditadura. Ódio e nojo.” Essa frase é a síntese do pensamento de um democrata que capitaneou a Assembleia Nacional Constituinte, enfatizando o compromisso com os direitos fundamentais e a rejeição a qualquer forma de autoritarismo, ecoando o sentimento de uma nação que buscava virar a página dos anos de repressão.
Dr. Ulisses foi ainda mais direto ao afirmar: “A sociedade é representada por Rubens Paiva”, deputado federal paulista que foi preso e assassinado em um quartel do Exército no Rio de Janeiro, e cujo nome consta na lista dos desaparecidos políticos.
A sociedade brasileira segue, infelizmente, dividida entre os que se entregam à barbárie da extrema-direita e aqueles que persistem na árdua luta para garantir a democracia e a ordem constitucional. Porém, há uma confiança que vai além da esperança: a convicção de que todos os fascistas que conspiraram contra a democracia serão, enfim, condenados e presos.
Centenas de “bagrinhos” já enfrentaram as consequências de seus atos, mas o ano de 2025 será, sem dúvida, o ano de purificação, o ano em que a alma da nação encontrará algum alívio, com as condenações e prisões de Bolsonaro, seus militares, e dos políticos e empresários que apoiaram e financiaram a tentativa de golpe de Estado. A justiça, que esteve ausente, finalmente encontrará seu caminho, e com ela, a esperança renovada de que a democracia será preservada.
Esse presente o povo brasileiro merece!
Nos meus 64 anos, desejo celebrar, ao longo dos próximos doze meses, em meio aos meus familiares, amigas e amigos, de forma alegre e plena, sem jamais ceder ao cansaço. Pois, mesmo diante das batalhas constantes contra as injustiças, o autoritarismo e a violência, sigo firme, erguendo a bandeira dos direitos humanos — essa que, para mim, se impõe como a linha divisória entre a civilização e a barbárie. Que este tempo de festa seja, igualmente, um tempo de renovação da luta, de reafirmação do compromisso com um mundo mais justo, mais humano, onde a solidariedade e a liberdade sejam as bases sobre as quais é possível construir um futuro digno para todos.
A música e a poesia sempre exerceram um fascínio maior sobre mim do que a política em si. Elas têm a capacidade de tocar a alma, de traduzir o que palavras muitas vezes não conseguem expressar. No entanto, sei que sem a política, sem o compromisso com a construção de um mundo mais justo, não é possível viver plenamente. Entre tantas melodias que me acompanham e me encantam, uma se destaca, sempre retornando aos meus ouvidos com renovada emoção: “Nunca Pare de Sonhar”, de Gonzaguinha. Uma canção que me inspira, que me lembra da importância de nunca desistir, de continuar sonhando e lutando.
Até logo, e que 2025 seja um ano de renovação, de sonhos e de conquistas!
Nunca pare de sonhar.
Ontem um menino que brincava me falou
Hoje é semente do amanhã
Para não ter medo que este tempo vai passar
Não se desespere e nem pare de sonhar
Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs
Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar
Fé na vida, fé no homem, fé no que virá
Nós podemos tudo, nós podemos mais
Vamos lá fazer o que será
*É historiador e jornalista
3 Comentários
Meu camarada lhe desejo nesses 64 anos, uma vida plena de alegria e muito sucesso
Parabéns triplo, Majella, pelo aniversário , crônica e compromisso renovado. Abraço de Melbourne para você e Vania.
Parabéns pelo seu aniveversário, Majella. Parabéns pela sua luta necessária, Camarada. Que este novo ciclo traga muitas alegrias e conquistas. Grande abraço