quarta-feira 15 de janeiro de 2025

Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça

Em fevereiro, Comitê Memória, Verdade e Justiça de Alagoas realizará um ato em memória dos 50 anos do desaparecimento do jornalista e advogado Jayme Amorim de Miranda

15 de janeiro de 2025 6:53 por Da Redação

Reprodução

O Comitê Memória, Verdade e Justiça de Alagoas realizará um ato em memória dos 50 anos do desaparecimento do jornalista e advogado Jayme Amorim de Miranda. O evento acontecerá no dia 4 de fevereiro, às 19 horas, na sede da OAB-AL, no bairro de Jacarecica, em Maceió.

Jayme Amorim de Miranda foi uma das principais lideranças da esquerda alagoana nas décadas de 1950 e 1960. Ele foi o diretor-responsável do semanário A Voz do Povo, órgão oficial do PCB em Alagoas, fundado em 1º de maio de 1946 e destruído pela polícia no dia 1º de abril de 1964.

Advogado formado pela Faculdade de Direito de Alagoas e inscrito na OAB, trabalhou na Cooperativa dos Usineiros de Alagoas e iniciou suas atividades na imprensa alagoana como revisor do Jornal de Alagoas, órgão dos Diários Associados, e do vespertino A Notícia, ambos extintos.

Tendo prestado concurso para a Escola de Sargento das Armas (ESA), foi aprovado e seguiu para Realengo, no Rio de Janeiro, onde iniciou a carreira militar em 1946. No ano seguinte, foi promovido a terceiro-sargento e passou a servir em Pindamonhangaba (SP). O curso obrigatório tinha duração de cinco anos, mas não o cumpriu integralmente, desistindo da vida militar.

Prisão e desaparecimento

Em 1º de abril de 1964, com o golpe militar, foi preso em Maceió e levado para a antiga Penitenciária, onde permaneceu encarcerado até fevereiro de 1965, sendo um dos últimos a ser libertado. Na época, era secretário-geral do PCB em Alagoas. Durante esse período, centenas de trabalhadores, advogados, bancários, médicos, estudantes, operários, camponeses, comerciantes também foram presos.

Em 1965, deixou Alagoas clandestinamente com a família e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde fixou residência. No dia 4 de fevereiro de 1975, foi sequestrado na capital fluminense pelos órgãos repressivos da ditadura militar e levado para São Paulo, onde sofreu terríveis torturas, sendo assassinado por agentes do DOI-CODI. Seu corpo nunca foi encontrado. Anos depois, o Estado brasileiro reconheceu Jayme Miranda, assim como centenas de outros brasileiros e brasileiras, como desaparecido político.

 

Alagoanos desaparecidos

Há três militantes políticos alagoanos desaparecidos durante duas ditaduras militares, a brasileira e a chilena. Essas famílias ainda não puderam encerrar o luto e ter o sagrado direito de enterrar seus mortos.

Luiz Almeida Araújo (1943–1971), professor e militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), nasceu em 27 de agosto de 1943, em Anadia, Alagoas. Filho de João Rodrigues de Araújo e Maria José Mendes de Almeida Araújo, foi sequestrado no dia 24 de junho de 1971 e assassinado. É reconhecido pelo Estado brasileiro como desaparecido político.

 

Amparo (irmã), Maria José (mãe) e Luiz Almeida | Reprodução

Em 1957, aos 14 anos, mudou-se para São Paulo, onde trabalhou como office-boy e estudou à noite no Colégio Santa Inês. Foi nesse ambiente que se envolveu no movimento estudantil, aproximando-se da Juventude Estudantil Católica (JEC). Posteriormente, lecionou História nesse mesmo colégio.

Túlio Roberto Cardoso Quintiliano (1944-1973) nasceu em 6 de setembro de 1944, em Maceió, Alagoas. Filho de Aylton Quintiliano e Nairza Cardoso Quintiliano. Militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), dedicou-se ao movimento estudantil e à engenharia.

Túlio Roberto | Reprodução

Em abril de 1969, foi preso e submetido a torturas em diversos centros de detenção, incluindo a Polícia Federal na Praça Quinze, o DOPS de Belo Horizonte, a Vila Militar/RJ, o campo de Gericinó e a Ilha das Flores. Após quatro meses, foi libertado, formou-se engenheiro e trabalhou no sistema de telecomunicações da interligação Belém-Brasília

Em julho de 1970, condenado à revelia a um ano de prisão por “tentativa de reorganização de partido político fora da lei”, Túlio buscou asilo político no Chile, onde foi acolhido pelo governo de Eduardo Frei. Em Santiago, trabalhou na Gerência de Obras Civis da Corporación de la Reforma Agraria (CORA), órgão responsável pela reforma agrária chilena.

A partir de setembro de 1973 e ao longo das duas décadas seguintes, Nairza (mãe) e Beatriz (esposa) escreveram muitas cartas às autoridades brasileiras, chilenas e de outros países, incluindo ao ACNUR, em Santiago; ao Embaixador e ao Cônsul-geral do Brasil no Chile; ao Subsecretário do Interior e ao Secretário de Defesa Nacional do Chile; a várias embaixadas de terceiros países, para a eventualidade de terem notícia do paradeiro de Túlio.

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