Alfredo Gaspar e JHC manipulam valores do próprio patrimônio declarado ao TRE

23 de setembro de 2020 8:08 por Thania Valença

A política muda ou revela as pessoas? Essa pergunta pode ter uma resposta a partir da declaração de bens dos candidatos a prefeito de Maceió. Como o registro de candidatura no Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas (TRE/AL) exige que se saiba qual o patrimônio do candidato, o cidadão e eleitor tem algumas surpresas.
O candidato Alfredo Gaspar de Mendonça, por exemplo, aos 50 anos de idade, tem uma Conta Poupança Ouro no Banco do Brasil com míseros R$ 94,79 de saldo. Sua conta bancária, também no Banco do Brasil, é um pouco mais recheada, com saldo de R$ 36.174,41.
Outra curiosidade sobre o ex-procurador geral de Justiça, que renunciou ao cargo para ser candidato a prefeito, é o valor de sua residência.
Segundo a declaração de bens, a casa de Alfredo Gaspar vale R$ 63.085,44. O valor é incompatível com a localização e área do imóvel. A residência do ex-procurador foi construída em dois lotes de terreno no Jardim do Horto, condomínio de classe média alta.
“Dois (02) lotes de terreno no Jardim do Horto, lotes 04 e 05, onde o declarante construiu sua casa residencial” – é como está descrito na declaração de bens do candidato, divulgada pelo TRE/AL.
Uma pesquisa básica em site de imobiliária revela que, no Horto, um lote tem em média 650m2, e custa cerca de R$ 640 mil. Já as casas, valem, em média, R$ 1 milhão e 600 mil. A questão é, se o procurador Alfredo Gaspar de Mendonça construiu nos dois lotes por que declarou a área como terreno?
No patrimônio do ex-procurador consta mais um “lote de terreno no loteamento Jardim do Horto I, Reg 65.761, livro n 2R3, adquirido em 1994”, cujo valor é de R$ 10.121,45. O que houve? A pandemia Covid-19 acabou com o que o mercado chama de valorização imobiliária?
A única situação em que o valor do imóvel não precisa ser atualizado é na Declaração do Imposto de Renda. Para o Leão, não faz diferença se você comprou um terreno por R$ 20 mil em 1995, e declara esse valor, e hoje ele custa R$ 200 mil. Essa atualização só é exigida pela Receita Federal no caso de venda do patrimônio imobiliário.
Assim, resta saber por que o terreno de propriedade do candidato Alfredo Gaspar, localizado em um condomínio de ricos, custa tão pouco (meros R$ 10 mil).
O ex-procurador informou que tem ainda, como bens a declarar, um terreno no povoado Barra Nova, município de Marechal Deodoro, onde construiu casa residencial, cujo valor é de R$ 95.900; um automóvel modelo Nissan Kicks SL, ano 2016/2017, branco, adquirido em nome de sua esposa; e 1,25% do capital da empresa Agropecuaria Fazenda Nova, possuindo 1250 quotas, no valor individual de R$ 1,00 cada cota, o que totaliza R$ 1.250.
Por fim, o candidato do MDB informa à Justiça Eleitoral que dispõe de R$ 53.500, dinheiro em espécie – moeda nacional.
Somados todos os bens que declarou, o patrimônio do ex-procurador Alfredo Gaspar de Mendonça é de apenas R$ 341.626,09.

JHC e seu apartamento top
Bem mais jovem, seu concorrente, deputado João Henrique Holanda Caldas (PSB), mais conhecido como JHC, de 33 anos, declarou um patrimônio mais expressivo. A soma de todos os bens de propriedade de JHC, segundo o TRE/AL, totaliza R$1.973.391,98.
Na declaração do deputado consta um trio elétrico (caminhão Ford F 12160), no valor de R$ 70 mil; aplicação de renda fixa (CDB, RDB e outros) no valor de R$ 147.217,83; quotas da empresa Smarth Tech Eireli, que somam R$ 100 mil; caderneta de poupança da Caixa com R$ 6.014,41, quotas da empresa Alagoas Comunicações Ltda, no valor de R$ 45 mil; contas bancárias que somam 9.461,92; e a quantia de R$ 45 mil em dinheiro, moeda nacional.
Todavia, top mesmo na declaração de bens do deputado JHC é o apartamento que ele tem na Avenida Álvaro Otacílio, endereço de ricos, na orla da praia da Jatiúca, área nobre de Maceió. O imóvel aparece na declaração de bens que o deputado encaminhou ao TRE/AL com valor de R$ R$1.547.697,82.
Não é bem assim, considerando o que os corretores chamam de valorização imobiliária. Na verdade, um apartamento no mesmo endereço (mesmo edifício, vale salientar), custa em média R$ 2 milhões e 600 mil.
Bom, se os candidatos já começam escamoteando informações sobre o próprio patrimônio, mais do que nunca o eleitor que preza por princípios de transparência e honestidade deve ficar atento na hora de escolher em quem votar.

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