29 de setembro de 2020 12:39 por Da Redação
Thania Valença – Não há trégua, até agora, no embate entre Luciano Barbosa e os Calheiros, pai e filho. A se confirmar, a ruptura aberta por Luciano Barbosa põe em perigo o projeto de Renan Filho de chegar ao Senado.
Se conseguir ser candidato e vencer a eleição em Arapiraca, Luciano entrega o comando da sucessão de Renan Filho ao deputado estadual Marcelo Vítor, que é aliado do deputado federal Arthur Lira, e deverá ser reeleito presidente da Assembleia Legislativa. O que lhe garante, em caso de vitória de Luciano, em Arapiraca, assumir o governo em 2022.
Se perder, continua no cargo de vice-governador para conduzir o estado no afastamento de Renan Filho. Também nesse cenário, a situação dos Calheiros é difícil. Afinal, a não ser que haja um bom acordo (seja lá o que isso signifique), Luciano continuará “um pote até aqui de mágoa”.
Alguns dos interessados na cizânia entre Renans (pai e filho) e o vice-governador, são, por exemplo, os senadores Fernando Collor e Rodrigo Cunha, e os deputados federais Arthur Lira e Marx Beltrão.
O senador Fernando Collor, cujo mandato termina em dois anos, está na torcida, como uma hiena. Em busca da reeleição, Collor certamente não quer enfrentar o jovem e vigoroso Renan Filho.
Já Arthur Lira, o mais novo “amigo de infância” de Jair Bolsonaro, tem interesse na divisão por ser potencialmente candidato a governador com apoio de caciques que desejam defenestrar os Calheiros do poder em Alagoas.
O deputado Max Beltrão é outro que corre por fora e tem vivo interesse, mesmo sem declarar publicamente, em disputar a vaga ao Senado (ou ao governo), podendo negociar com o frentão.
A estratégia deles (Collor, Arthur Lira, Marx Beltrão e outros) é atrair Luciano Barbosa para esse campo.
O rompimento é um caminho aberto e favorável para Arthur Lira ser apoiado pela estrutura governamental, além do apoio do governo federal, tendo Collor como candidato desse grupo à única vaga de senador. Liderando a chapa para a Câmara Federal, Marcelo Vítor e Marx Beltrão seriam puxadores de votos em troca de compromisso futuro. Por exemplo, em 2026, Marx disputaria uma das duas vagas para o Senado.
Potencial candidato a governador, Rodrigo Cunha é outro na torcida para que Luciano Barbosa continue com “faca nos dentes”.
A mágoa do aliado reserva
A aliança entre Renan Calheiros e Luciano Barbosa vem de longa data, desde o tempo em que o vice-governador era militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), no final da década de 1980, e o senador uma liderança estudantil que emergia sob a órbita dessa legenda. É uma relação que passou por momentos de triste memória, como o famigerado Plano de Demissão Voluntária (PDV), do qual Renan foi avalista e Luciano executor.
Sim, o tecnocrata Luciano Barbosa, com o apoio de Renan Calheiros, foi indicado secretário extraordinário no governo Divaldo Suruagy, para materializar o programa que deixou milhares de famílias alagoanas na amargura. Mas esse fato só vem ao caso se ele for candidato a prefeito de Arapiraca. Será que seus adversários vão relembrar?
A verdade é que, durante anos, a aliança com os Calheiros só trouxe vantagens para Luciano Barbosa. Ser ministro do governo de Fernando Henrique Cardoso foi uma delas!
Todavia, nos últimos tempos, o vice-governador começou a se sentir um reserva sem muito valor. E a mágoa eclodiu com a operação da Polícia Federal em que sua filha e o genro foram presos. Não se viu uma manifestação pública de solidariedade prestada pelos Calheiros.
O que era invisível – a mágoa pela honra pessoal e familiar atingida – tomou dimensão surpreendente. O aliado de primeira (e de todas as horas) se rebelou, abrindo uma fenda que pode beneficiar os adversários.
Não se pode esquecer que Luciano Barbosa, tecnocrata que aprendeu na prática as manhas da política, é inteligente e sabe muito dos intramuros do poder em Alagoas.