29 de setembro de 2020 9:58 por Nivaldo Mota
No dia 12/07, do corrente ano, completou 39 anos de uma partida épica, entre ASA X CRB, decidindo o primeiro turno do campeonato alagoano daquele ano.
Os torcedores mais novos, evidentemente, muitos ou quase a totalidade ficam surpresos com os números que mostramos vez por outra aqui no blog, quando comentamos em um resgate histórico, acontecimentos de um futebol mais jogado, que levava mais torcedores para os estádios.
O campeonato de 1981, ganho pelo CSA, aliás, o azulão do Mutange se sagraria Bicampeão neste ano, começou em 24/05/ e terminou no dia 22/11, quase seis meses de competição. Mas vamos falar do jogo, e por que foi épico? Em primeiro lugar, depois do ressurgimento do ASA, em 1977, o time arapiraquense tinha parado com o futebol entre 1976 e 1977, tanto porque o estádio Coaracy da Mata Fonseca, ou o Municipal, estava em reforma, e também por problemas financeiros, tanto que mudou o seu nome de Associação para Agremiação.
Bom, depois de várias tentativas frustradas para chegar uma final de campeonato, ou que fosse de um turno sequer, o ASA enfim chegava numa final de turno, contra o CRB.
Antes do jogo final, o ASA, na fase preliminar do turno, jogou contra estes times: ASA 2 X 0 Penedense; São Domingos 1 X 1 ASA; ASA 2 X 1 CSA; Capelense 1 X 2 ASA; ASA 4 X 0 Ferroviário; ASA 0 X 0 CRB (renda de Cr$ 1.541.400,00; Público de 13.751 pagantes); ASA 2 X 0 CSE; No quadrangular decisivo, ASA 0 X 0 CSA; ASA 2 X 1 Penedense.
Já o CRB, que tinha perdido o pentacampeonato no ano anterior, para o seu maior rival, começou a competição por baixo, e surpreendentemente chegou a grande final do primeiro turno, com estes resultados: CRB 5 X 1 São Domingos; Ferroviário 0 x 0 CRB; CRB 2 X 0 Penedense; CRB 3 X 0 Capelense; CSE 1 X 3 CRB; ASA 0 X 0 CRB; CSA 1 X 1 CRB (Renda de Cr$ 1.816.600,00; Público pagante de 17.916.); No Quadrangular, CRB 1 X 0 Penedense; CRB 4 X 1 CSA (Renda de Cr$ 2.157.050,00; Público pagante de 18.481 torcedores).
Estava pronta à festa, o jogão daquele domingo, seria fantástico, a primeira vez que o ASA disputaria uma final em sua nova fase, embalados por uma campanha ufanista, só que se esqueceu de combinar com o CRB. Aliás, a feste foi de um colorido jamais visto, o público pagante é recorde até hoje em Arapiraca, mais de 18 mil no estádio Municipal. Por baixo, tinham entre cinco ou seis mil regatianos.
Governador de Alagoas à época, indicação da ditadura fascista era o Guilherme Palmeira e deputado federal Divaldo Suruagy, todos da Arena, partido da sustentação do regime militar, eram praticamente donos do estado de Alagoas. Pois bem, o que se disse daquela decisão é que os dois conseguiram junto à empresa de ônibus Progresso, centenas de ônibus para a torcida Regatiana invadir Arapiraca.
De fato, desde as primeiras horas da manhã, Arapiraca foi sendo invadida por vários ônibus, não sei se chegou a cem, mas eram muitos, carros particulares aos montes, eu ali, morava nesta época na “Terra do Fumo”, contando as horas para ir ao estádio com minha bandeira vermelha e branca que ganhei do mano Roberto em 1972.
Fogo foi sair de casa tapeando o velho Nivaldo, meu pai. Como sair com a bandeira, ele tinha recomendado, não leva a bandeira Motinha, tinha-se o risco, muito pequeno é verdade de possíveis agressões.
Consegui articular como meu vizinho, o Sandro, mais conhecido como “Petinha”, esconda a bandeira na sua casa, quando sair de caso eu pego e vou para o estádio. E assim foi, fui ao Municipal, chegando lá, do lado da torcida do Galo, nunca vi tantas buzinas e bandeiras juntas, era o grande diferencial das charangas da torcida do CRB.
Das regiões vizinhas a Arapiraca, sítios e cidades, caminhonetas D-10 ou D-20, meios caminhões, chegava a toda hora entupidos de gente. Vou traçar um paralelo aqui, mas era como se fosse aquela final da Copa de 1950 entre Brasil e Uruguai, nos corações e mentes, era a mesma paixão ali colocada.
Eu com os meus 16 anos, torcedor do CRB, morando em Arapiraca, fui para o estádio às 12h30min, e os portões já estavam abertos.
O Municipal naquela época tinha aquele lance de arquibancadas de cimento, aquele pedacinho acima onde fica as cabines de rádio e TV. Do lado oposto ficava as arquibancadas metálicas, instaladas desde 1979. Atrás dos gols, aquele que fica hoje as torcidas visitantes, era a geral, todo mundo em pé, no barro vermelho mesmo!
Do outro lado, o da entrada, fizeram para este jogo, uma arquibancada de madeira, com uns seis lances e mais ou menos, com uns 100 metros de cumprimento, o restante era em pé mesmo.
Neste setor ficou a torcida do CRB. Naquela época não havia essa coisa que há hoje, tantos ingressos para o mandante e visitante, era chegar e comprar, não havia essa questão de segurança que temos nos dias atuais, a capacidade do estádio era topar nos muros.
O CRB venceu por 2 X 1, com gols de Almir aos 13 do 1º tempo e Américo aos 24 do 2º. Valmir descontou para o ASA, aos 31 do 1º tempo.
Arapiraca a noite pareceu o Rio de Janeiro em 1950 quando o Brasil perdeu a Copa do Mundo para o Uruguai, coincidência ou não, no mesmo mês, alguns dias de diferença, mas o sentimento naquele dia foi o mesmo para o povo arapiraquense e região.
Namorar naquele dia foi difícil, o clima era de velório, o jeito foi acalenta-la, mas no íntimo eu era toda felicidade, sorriso na cara, expressão de vencedor. No outro dia no colégio, imagina a onda, faz parte do futebol, do melhor do futebol!
Quem apitou foi o juiz Leandro Serpa, do Rio Grande do Sul. ASA jogou com, Jurandir; Toninho, Eliberto, Raimundo e Paulo Silva (Cabral); Deco, Zé Carlos, Luís Carlos (Reinaldo); Marcos Itabaiana, Gilmar e Valmir. Técnico: Alencar.
CRB: Adeildo; Cícero Besouro (Galba), Paulinho Carimbó, Marcos Careta e Hamilton; Sabará, Mundinho e Edu; Américo, Enéias (Israel) e Almir.
Renda de Cr$ 2.159.000,00; Público pagante de 18.481 torcedores