16 de dezembro de 2020 7:09 por Da Redação
Depois de três anos de uma experiência pioneira, o Serviço Social da Indústria (Sesi), em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), forma, nesta quinta-feira (17), 198 estudantes de cinco estados – Alagoas (40), Bahia (51), Ceará (20), Espírito Santo (57) e Goiás (30). É a primeira turma do Novo Ensino Médio no Brasil, formada no chamado Itinerário V, que associa o ensino regular à formação técnica e profissional.
Os alunos ingressaram com gratuidade e 81,5% vieram de escolas públicas, 87% são da classe D e 13% são classe C. Receber o certificado do Ensino Médio e do curso técnico de Eletrotécnica, em meio às dificuldades impostas pela pandemia e pela realidade socioeconômica das famílias, é a primeira conquista de uma nova trajetória que eles começaram a escrever em 2018.
A estrutura Sesi Senai possibilitou adaptar as aulas para o modelo a distância e cumprir o calendário escolar sem prejuízos na formação. O curso de Eletrotécnica foi escolhido para as primeiras turmas após pesquisa em âmbito nacional, considerando a demanda de profissionais. Por atuar em diferentes segmentos com manutenção, projeto e execução elétrica e eletrônica, o técnico em eletrotécnica é um dos mais requisitados, com salário médio de R$ 1.700,00 a R$ 3.390,00.
Diretor-superintendente do Sesi e diretor-geral do Senai, Rafael Lucchesi explica que as organizações são a referência nacional para implementar a formação técnica e profissional. Enquanto as escolas públicas e privadas têm até 2022 para implementar e estão dando os primeiros passos, a rede forma a primeira turma após três anos de muito aprendizado.
“Por mais de um século, tivemos um mesmo modelo de ensino, que não acompanhou as mudanças tecnológicas e as necessidades do mercado de trabalho e da indústria. O Novo Ensino Médio é a revolução desse modelo, possibilitando aos jovens experimentarem e construírem planos para o futuro profissional”, defende.
A diretora de Educação e Tecnologia do Sesi Senai em Alagoas, Cristina Suruagy, lembrou a implantação desta turma, os desafios, a evolução e conclui que esta formatura é um marco para a Educação brasileira.
“Saímos na frente mais uma vez, a Rede Sesi Senai de Educação no Brasil mostra para o que veio e dá essa contribuição imensa para a Educação do nosso país. Esse modelo veio para ficar, é bem sucedido, e os nossos parabéns a essa turma que abraçou todo esse desafio junto conosco: equipe pedagógica, nossos professores e a esses alunos, nosso desejo imenso que eles saiam vitoriosos disso, que eles vão além e conquistem muito mais”, disse.
Oferta nacional e estadual
Em 2019 e 2020, o Sesi ampliou a oferta do Novo Ensino Médio, que hoje é adotado em 22 estados, 78 escolas, 139 turmas, com 6.538 estudantes matriculados. Além do itinerário V, para o qual existem 20 cursos técnicos, entre Eletrotécnica, Redes de Computadores, Programação de Jogos Digitais, Mecatrônica, Meio Ambiente, Automação, Edificações, Informática para Internet, Logística e Alimentos, a rede já oferece os itinerários de Ciências da Natureza e Matemática.
Em Alagoas, já a partir do ano letivo de 2021, todas as turmas a partir do 1° ano serão ofertadas no modelo do Novo Ensino Médio.
O Novo Ensino Médio
Estabelecido pela Lei nº 13.415/2017, o Novo Ensino Médio prevê aumento da carga horária, de 2400 horas para 3000 horas, composta 60% pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e 40% pelos itinerários formativos: Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e Formação Técnica e Profissional.
O aprendizado é por área de conhecimento, com foco no desenvolvimento de competências e habilidades e não mais por disciplinas. A abordagem interdisciplinar incentiva trabalhos em grupo, o autoconhecimento e o protagonismo na construção de um projeto de vida e de carreira.
O modelo de ensino também está alinhado à abordagem educacional conhecida como STEAM – acrônimo em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes/Design e Matemática. Além da carência de profissionais nas áreas de engenharia e tecnologia, o Brasil caiu no ranking em ciência e matemática na última edição do Pisa, Programa Internacional de Avaliação de Estudantes.
Outra vantagem, no que diz respeito ao itinerário formativo técnico profissional, é que ele contempla o estágio e a aprendizagem, que auxiliam o jovem no ingresso no mercado de trabalho e na geração de renda – um dos principais fatores para o abandono nessa etapa escolar.
Nos países-membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 48% dos estudantes do ensino médio fazem educação profissional; no Brasil, índice não chega a 10%. A formação prepara o aluno para os desafios atuais, com competências ligadas à indústria do futuro, o que contribui para a empregabilidade dos jovens, a capacidade inovativa das empresas, a produtividade e a economia do país.
De acordo com o IBGE, 44,2% dos brasileiros de 14 a 17 anos e 31,4% dos de 18 a 24 anos de idade estão desempregados e em busca de trabalho.
Cases de Alagoas
Nos três anos de formação, estudantes, pais e docentes relatam amadurecimento profissional e pessoal dos formandos.
A diarista Elisângela Pastora da Silva, 40 anos, é mãe do Carlos Eduardo dos Santos Silva, 18 anos. Para ela, o filho ter um diploma e uma profissão mostra que, apesar de todas as restrições financeiras enfrentadas pela família, o amor, a união e o esforço preenchem qualquer dificuldade. Carlos será o primeiro da família a ter o ensino médio e uma profissão técnica. Elisângela estudou até a antiga 7ª série do ensino fundamental e o pai de Carlos cursou até a 4ª série do ensino fundamental.
Para Carlos Eduardo dos Santos Silva, a principal descoberta a robótica, que resultou em um fascínio pela tecnologia. “Não conhecia nada de robótica, comecei a ter contato quando a minha turma foi convidada para participar de um campeonato. A gente foi aprendendo e eu me apaixonei e me dediquei muito a isso”. Assim que terminar o ensino médio, ele pretende trabalhar na área de eletrotécnica e começar uma faculdade nos próximos dois anos. “Eu já sei a faculdade que eu quero ir. Só que ela é particular. Por isso, eu tenho que ter autonomia”.
Kettlen Caroline Rocha Lima Abreu, 17 anos, inspira familiares e amigos pelo foco e dedicação. Filha de técnica de enfermagem e vigilante, a jovem sonha em ser médica e se esforça pela carreira desejada – além da carga horária normal, estuda no contraturno e nos fins de semana para se preparar para o Enem. Moradora de Jacintinho, bairro popular de Maceió, a garota precisa sair de casa às 10 horas para chegar às 12 horas no SESI em Benedito Bentes. O que mais a surpreendeu no novo modelo foi o estímulo dos professores à criatividade, aos debates e ao desenvolvimento de habilidades e competências. “Eram muitos trabalhos e a gente sempre tinha algo para fazer, para nos estimular. Eu aprendi na escola que a gente tem que sair da caixinha, trazer algo a mais… os professores sempre falam isso”.
Fonte: Assessoria