21 de janeiro de 2021 5:14 por Marcos Berillo
Apenas com uma “canetada”, o prefeito de Maceió, JHC, desrespeitou toda uma história do povo alagoano e do povo brasileiro, além de evidenciar que o racismo estrutural está entranhado no Executivo municipal.
É com esse sentimento de indignação que uma das mais respeitadas vozes do movimento negro alagoano, o historiador e professor da Ufal, Zezito Araújo, analisa o ato assinado por João Henrique Caldas que, atendendo a um projeto do vereador Luciano Marinho, “rebatizou” o espaço conhecido como Parque Jatiúca.
Antes denominada Dandara dos Palmares, guerreira negra do século 17, esposa de Zumbi, com quem teve três filhos, o local passa a se chamar Nossa Senhora da Rosa Mística. Segundo o professor, sai o nome de um símbolo da História Negra de Alagoas e do Brasil e entra um símbolo hegemônico eurocêntrico-cristão.
De acordo com ele, esse ato marca o início de uma campanha. “Acredito eu que, se nós não tomarmos providência, muitos símbolos e muita representação da História Negra de Alagoas e do Quilombo dos Palmares, esses nossos dirigentes – está aí o exemplo do prefeito JHC – vão destruir e apagar sem consultar a nossa comunidade”, disse Zezito.
O movimento negro vai reagir a essa investida contra a memória afro-brasileira. As lideranças vão acionar o Ministério Público Estadual para levar o caso à Justiça. Elas também tentam uma audiência com o prefeito JHC. “Queremos discutir com ele essa sua posição, por assinar esse ato sem consultar a comunidade e abrir um espaço de diálogo para mostrar a ele que a História de Alagoas não é feita só por um símbolo de cunho religioso, mas, por todas as formas de religião”, explica Zezito.
A ideia é evitar que a contribuição dos africanos para a sociedade brasileira seja apagada da história. “Não tenho nada a ver com esse símbolo, mas, perpassa essa simbologia por essas representações hegemônicas brancas, européias, que eles querem impor em detrimento daquilo que é nosso, daquilo que é natural, é do povo alagoano e do povo brasileiro”, ressaltou.
De acordo com o historiador, a mudança do nome da praça também é uma demonstração de como o racismo estrutural está entranhado no Poder Executivo municipal. “Tomar uma medida dessas evidencia que isso é uma prática, sim, do racismo estrutural. Você negar as expressões culturais de um segmento da população negra eu considero, sim, um ato racista. Infelizmente, [cometido]pela maior autoridade da cidade de Maceió, que é o prefeito JHC”, lamentou o professor Zezito Araújo.