5 de julho de 2021 3:03 por Da Redação
Texto: Eleonora Duse Leite é funcionária pública e graduanda em jornalismo
De uns tempos para cá venho tendo a certeza de que nada e nem ninguém é para sempre. Triste constatação.
Quando era criança eu tinha a convicção de que meus pais eram eternos, viveriam eternamente ali juntos a mim, que eu teria sempre a companhia deles… E ai, fui crescendo com a mesma impressão, nada tinha mudado. Olhava para o lado e lá estava ele, meu pai, a me olhar com seus olhos protetores e de muito amor. Viro e vejo do outro lado, minha mãe, inspirando compreensão e respirando amor. Ambos tinham um único desejo no olhar, a felicidade, e assim foi o desejo deles.
Cresci, me tornei adulta e lá estavam eles com o mesmo olhar de sempre, tão conhecidos e de sentimentos tão duradouros, expostos para mim. Nunca até hoje vi olhos tão expressivos e acalentadores, e olhem que já vi muitos olhares demonstradores de carinho e afeto, mas com certeza nunca como os deles.
E o tempo foi passando, me tornei mulher, mãe e ainda continuava a ter e ver aqueles mesmos olhos e eles agora são para minhas filhas que desde cedo já sabem serem agraciadas com aqueles olhares que eu tanto falava. E eu, com minha imaginação infantil que continuava ainda acreditava que aqueles belos olhos seriam para sempre…
Aos poucos isso foi mudando, olhares foram envelhecendo, uma névoa foi descendo, o brilho vinha se transformando em um breve chamado, e aos poucos papai teve sua vela vida apagada e nas ultimas horas mesmo com os olhos estáticos, mesmos com os olhos tristes pela primeira vez, ainda, contudo, para mim mantinha aquele olhar cheio de amos substancial. E eu? O que seria de mim sem aquele olhar tão bem festejado por anos? Choro, sinceramente não sei. Perder aquele olhar era como perder um pouco da inocência, e começar a enxergar o mundo de outro plano, com outra visão, de uma nova vista. E isso doeu. Não sei o quanto e não busco justificativa, eu apenas sinto. Aquele olhar que recebia era o complemento, o aconchego seguro, um riso sem fim.
Hoje, depois de oito anos longos e longe, ainda conto com os olhos dela, minha mãe. Aquela de olhar compreensivo, amoroso, seguro e sábio. Ai congelo. Já cresci e entendo que só existe eternidade na saudade, na falta e precisamente no amor que de nenhuma forma desaparece, apenas toca as estrelas e lá nos encontramos.
Oro, peço a Deus que mantenha por um bom tempo essa mulher que me criou, me ensinou a olhar igual a ela e a ter esse olhar brilhante e esperançoso, abertos para mim e para todos que independente da ligação, dos laços, com certeza conhecerá as estrelas.