18 de outubro de 2021 8:28 por Da Redação
Os três senadores de Alagoas, Rodrigo Cunha, Renan Calheiros e Fernando Collor, são de grupos políticos distintos. Renan e Collor, em determinados períodos da história, já estiveram em lados opostos. Em outros, foram aliados. Atualmente, estão em lados opostos. O senador Rodrigo Cunha, por se mais jovem, não mantém relações políticas com nenhum dos dois, tendo iniciado a sua carreira política em 2014, ao ser eleito deputado estadual e, em 2018, foi eleito senador.
A meteórica carreira política de Rodrigo Cunha é, talvez, um dos fatores que tem dificultado sua afirmação no cenário estadual. Acrescido da falta de um programa claro e consistente que pudesse nortear o seu mandato. A retórica da mudança e da renovação foi a base da sua campanha, sem compromissos com os grupos políticos estabelecidos.
Mesmo sendo do PSDB e tendo recebido o apoio integral do então governador Téo Vilela, Cunha flertou durante a campanha com o bolsonarismo, fez coro com antipetismo, no caso local, simbolizado pelo anticalheiros e se apoiou no discurso anticorrupção da Operação Lava Jato.
A imagem de jovem “renovador”, que ele vendia nos primeiros meses do mandato, o credenciou como uma opção eleitoral em ascensão, mas o que foi abundante durante a campanha eleitoral tem faltado para o exercício do mandato. Rodrigo Cunha, no Senado Federal, é mais um entre os 81 senadores.
De perfil ideológico liberal-conservador, tem na economia de mercado um dos seus dogmas, o que o levou a se ligar ao bloco de senadores que são empresários e conservadores. Tem votado em pautas onde os trabalhadores da iniciativa privada e os servidores públicos ficaram mais vulneráveis, o que o credencia como mais um político conservador no Congresso Nacional.
Os quase três anos no exercício do mandato pode parecer pouco tempo, mas não é, desde que tivesse construído um projeto político com amplitude, onde o desenvolvimento com inclusão social, a educação e a agricultura familiar fossem vetores de sua política durante os oito anos como senador da República.
Mas, em relação a um dos temas centrais do momento, o senador Rodrigo Cunha passa ao largo: a defesa do Estado Democrático de Direito. A democracia tem sido atacada pelo presidente da República que é quem representa a extrema-direita no Brasil. Enquanto isso, o senador parece indiferente aos rompantes autoritários de Bolsonaro.
Essa postura não é sinal de habilidade ou esperteza política é a falta de compromisso com a República. A democracia foi reconquistada depois de longos vinte e um anos de feroz ditadura militar, para o senador pode ser coisa do passado, mas não é. Os arautos da ditadura militar tem contado com o seu apoio, às vezes explicito e em outras declarado.
O silêncio obsequioso do jovem senador dói nos tímpanos dos democratas. Essa é uma diferença insuperável em relação ao senador Renan Calheiros.
Renan Calheiros: o sobrevivente
Os inúmeros bombardeios que sofreu antes da Operação lava Jato, durante e depois, o credencia como uma das lideranças do Congresso Nacional e sobrevivente de intensa fuzilaria. As críticas ao senador podem e devem ser feitas – faz parte do processo democrático – mas não é honesto acusá-lo de ser indiferente à questão democrática, de tergiversar na defesa do Estado Democrático de Direito.
Esse é o terreno onde Renan Calheiros se formou e por mais que tenha andado por atalhos que muitos não gostariam que ele tivesse trilhado, é na defesa da liberdade que ele se supera e como uma fera tem investido contra a presa, no caso: Jair Bolsonaro e et caterva.
Dito desta maneira não é para eximir o longevo senador das suas faltas, se quiserem entender desta maneira, mas para reafirmar a sua postura no campo democrático. A defesa da democracia, como na atual conjuntura, que está sofrendo ameaças e o golpismo ronda o céu da Pátria, pois é nesse momento em que os democratas e a esquerda (se desejar: as esquerdas) são os primeiros e os principais alvos dos autoritários e dos ditadores. Exemplos tem nos países do continente latino americano e no Brasil.
O papel desempenhado pelo senador como relator da CPI da Covid tem sido relevante por motivos óbvios, primeiro: por revelar ao mundo o quanto é perverso o presidente do Brasil; segundo: a CPI é uma trincheira de combate ao maior crime perpetrado por um governante no país, o grupo majoritário de senadores que compõe a CPI tem pensamento político-ideológico plural, são democratas e para quem respeitar a Constituição Federal é uma obrigação. Esses motivos são suficientes para combater o neonazismo representado por Jair Bolsonaro e seus apoiadores.
A gravidade do momento em que o Brasil passa é de tal magnitude que as divergências secundárias e, mesmo eleitorais, devem ser relevadas em benefício da unidade de forças políticas, econômicas e sociais a ser construída para derrotar a extrema-direita que ascendeu ao poder no Brasil.
As organizações de esquerda em Alagoas não tem essa perspectiva, mas, os eleitores e as personalidades do mundo cultural, artístico, político e empresarial tendem, com ressalvas, formar uma frente ampla contra o fascismo bolsonarista. Essa ideia se fortalece com a perspectiva da candidatura Lula se apresentar como uma alternativa real o que, de fato, vem sendo apontado por vários institutos de pesquisas.
Unidade não se faz apenas com os que pensam de maneira igual ou semelhante, mas é para ser feita com os que pensam e são diferentes e que em determinado momento histórico se juntam para combater um inimigo comum. Esse momento se aproxima.
Collor: nunca foi diferente do que se apresenta hoje
Fernando Collor é, a seu modo, coerente por nunca ter mudado de posição político-ideológica, sempre foi um político de direita e autoritário. Hoje, por interesses pragmáticos e para sobreviver politicamente e, tentar garantir uma sobrevida para as suas empresas de comunicação, que devem dezenas de milhões de reais ao governo federal e não honram as dívidas trabalhistas com os trabalhadores. A tentativa desesperada para salvar o mandato de senador e, com o mandato, poder salvar as empresas da falência.
Collor iniciou o governo Bolsonaro com criticas, não demorou muito tempo realizou uma inflexão e se tornou um dos mais ardorosos extremistas da bancada bolsonarista no Senado Federal.
Ao ser acossado pelos adversários locais, no caso o governador Renan Filho que vai disputar a vaga de senador nas eleições de 2022 e com amplas chances de vitória, Collor reage com a fúria habitual. O sinal vermelho foi aceso e a voz altissonante se levantou com discurso cada vez mais radical e ameaçador. Entra em cena o discurso belicoso utilizado em campanhas eleitorais.
Os Calheiros, o senador e o governador, já o conhecem e sabem como agir para neutralizá-lo. Um dos meios é a aproximação ainda maior das lideranças das cidades do interior de Alagoas, a força estatal bem utilizada é devastadora do ponto de vista eleitoral. Collor tem andado com frequência pelo interior e tem se utilizado das mídias sociais como nunca fez.
Ao que parece a sua estratégia é tentar conseguir o apoio da legião de bolsonaristas ou parte dela tida como “raiz”, entenda-se como tal os eleitores de classe média, mais mobilizados, e que são ativos nas redes sociais e tem como “militância” a disseminação de Fake News.
Outro ponto da sua estratégia é formar um forte grupo de políticos que lhe garanta sustentação na disputa pela vaga no senado. Esse é o campo onde os profissionais (prefeitos, vereadores, deputados estaduais e federais, os que vão tentar a reeleição e os que pela primeira vez entrarão na disputa) vão sem cerimonia realizar simulações matemáticas antes de decidir quem irão apoiar Collor ou Renan Filho.
Uma pergunta é necessária ser feita: quem faz parte do grupo político de Fernando Collor em Alagoas e qual é o seu partido? Essa resposta é fundamental para conhecer quais serão os primeiros passos a serem dados em direção à vitória eleitoral de 2022.
O crescimento eleitoral da candidatura Lula em Alagoas e no país é um indicador forte para que os apoios à candidatura Collor sejam desidratados. Lula é o único político de expressão nacional que influencia positivamente em eleições regionais, não é a primeira vez.
A tendência das eleições majoritárias em Alagoas é serem plebiscitárias. Se isso se confirmar, Fernando Collor poderá se tornar ex-senador da República. Bolsonaro, certamente, será o pior ex-presidente da República, inclusive ganhando nesse quesito de Fernando Collor. A conferir.