15 de novembro de 2021 9:50 por Braulio Leite Junior
Em 1898, no antigo largo da Cotinguiba, também chamado das Princesas, hoje praça Marechal Deodoro, quando governador do Estado o Dr. Manoel José Duarte, foram Iniciadas as obras de um teatro que receberia o nome de Teatro 16 de Setembro. A casa de espetáculos que estava sendo construída no local onde hoje se encontra a estátua do Proclamador da República, foi considerada, à época, de grandes proporções.
Por razões não esclarecidas, o teatro em construção foi demolido, supondo-se que a não continuação das obras deveu-se a qualidade do terreno, sem solidez bastante para a construção do edifício em terreno como o que circundava o Beco do Reguinho, hoje Rua Mas Cabral. Outra razão, seria a descontinuidade administrativa e politica do governo seguinte.
Só na gestão do Dr. Joaquim Paulo Vieira Malta, em 1905, foi iniciada a construção do atual Teatro Deodoro, Edifício menor do que o que fora projetado no governo anterior, o Teatro levou cinco anos para ser construído, segundo a planta do Arquiteto Luiz Lucariny, tendo como mestre-de-obras o Sr. Antônio Barreiros Filho. Lucariny, também foi o autor do projeto do Teatro 7 de Setembro” de Penedo.
Bem como da reforma do Palácio do Governo e do Tribunal de Justiça. Sua pedra fundamental lançada em 11 de junho de 1905, “era de mármore” tinha gravação alusiva ao ato e fico sobreposta a uma caixa de zinco contendo além de jornais do dia, moedas correntes da época. O ato foi realizado em presença do Governador, do Intendente Dr. Sampaio Marques, autoridades e grande número de pessoas.
Para a obra chegar ao termino, o Estado de alagoas teve de contrair empréstimo externo negociado em Londres, no valor de 5.000.000 (cinco contos de réis), sendo parte deste dinheiro utilizado na construção que, conforme documento, “aos 15 dias do mês de Novembro de 1910, no salão de honra do novo edifício, a 1 hora da tarde, em presença de grande número de pessoas, o Sr. Governador do Estado-Dr. Euclides Vieira Malta, acompanhado do Dr. Francisco Pontes de Miranda, Secretário da Fazenda, do Intendente do município Dr. Demócrito Brandão Gracindo, e outras autoridades, declarou Inaugurado o Theatro, congratulando-se com o povo alagoano por tão importante melhoramento. A noite, como espetáculo de estrela, foram encenadas as peças “O Dote” de Arthur Azevedo e o monólogo “O Beijo” do alagoano J. Brito”,
A “Tribuna”, de 15 de novembro de 1910, descrevia a construção, da qual reproduzimos alguns trechos: “O THEATRO DEODORO, nome mandado adotar por lei estadual de 1902, quando Governador o dr. Joaquim Paulo, que o iniciou, e um primor de bom gosto arquitetônico. A frente construída em estilo Jônico e renascença, tem 3 largas portas envernizadas, que junto dos lavores coloridos e dourados no alto do frontispício, produzem o mais agradável efeito. A entrada encontra-se vestíbulo e saguão ligados à Biblioteca, e em seguida o Buffet, com balcões e bancas de fino mármore e lavatórios, nas melhores condições de higiene e comodidade. A esquerda fica o Gabinete do Diretor, seguindo-se o Vestiário para senhoras e a em trada para o Salão Nobre. Esta parte superior contém 2 Gabinetes bem decorados, com esplêndidos lustres de cristal e um gabinete para senhoras, com “toilettes” Ao centro, o Salão Nobre propriamente dito, com teto em alto relevo, de tons de ouro de 18 quilates e rico mobiliário estilo Luiz XVI. Em seguida área central, que divide o Salão Nobre da Sala de Espetáculos, contendo 400 cadeiras na platéia e mais de 800 espectadores nas gerais. Entre as cadeiras e o palco, fica o local destinado nado à orquestra. O teto é feito de placas de ferro em alto relevo, de onde pende um magnifico lustre de cristal colorido. Duas escadas dão acesso para a primeira e segunda ordens de camarotes. A primeira tem 20 camarotes comuns, tendo aos la dos do proscênio 2 camarotes especiais, um do Governador do Estado, outro do In tendente da Capital, e, ao centro, o camarote do Diretor do Teatro. A segunda ordem contém 16 camarotes e as arquibancadas com 132 lugares numerados. Os camarotes possuem janelas para áreas laterais onde, ao fundo, encontram-se os mictórios e aparelhos sanitários. A caixa contém 11 camarins, vasto salão para bagagens, almoxarifado e outras dependências. O pano de boca de veludo “grená”, representa a cachoeira de Paulo Afonso, trabalho do Professor Orestes Scercoell, a quem se deve todo o serviço de decoração e cenografia do Theatro Deodoro. É necessário salientar a profusão de luz, a abundância de água, a existência de um serviço para incêndios, e a dimensão dos camarotes, que são os maiores conhecidos”.
Luiz Lucariny, morreu um ano antes da Inauguração. Isto aumentou a superstição de que no dia em que o Teatro fosse inaugurado, haveria um desabamento, vez que ali teria sido iniciada a construção de uma igreja, que foi interrompida e posteriormente demolida, para dar lugar ao Teatro. Por causa disso muita gente deixo de Ir à festa de inauguração… Quatro anos depois de Inaugurado, foi arrendado a uma firma comercial que o transformou em cinema. Reação de intelectuais através da imprensa, o fez voltar as suas finalidades artísticas. Outra tentativa foi esboçada nos anos de 1942 e 1943, quando o Teatro pertencia à Prefeitura, rechaçada pelo jornal “A Noticia” à frente o seu diretor Jornalista José Antônio. Graças a ele o Teatro Deodoro não foi “tragado pelo cinema” conforme se verificou com vários teatros brasileiros. Era a “época de ouro” dos “embaixadores” de Hollywood no Brasil, transformando os teatros em salas cinematográficas.
Cinco foram as restaurações e reformas realizadas no Teatro Deodoro. Em 18X1, quando era Interventor Interino o Dr. Jugurtha Couto; em 1940, conserto de terminado pela Prefeito Abdon Arroxelas, quando transferido para a municipalidade em 1937, tornou-se depósito de material e seus jardins usados para pasto e cocheira dos animais da Limpeza pública. Até então, vinha sendo restaurado sem que a sua estrutura física original fosse alterada. Em 1946, no entanto, na Interventoria de Guedes de Miranda, sofreu a sua 1° reforma, sendo criadas 20 frisas no local onde se localizavam as “gerais” e abolidos os camarotes de 2 que foram transformando em gerais. Sua lotação que era de 1.650 espectadores (nas gerais, não há vendo lugar para sentar, o espectador ficava em pé) passou a ser 752 lugares, além de ter sido construído um paredão no final da platéia, restaurante na lateral direita, Jardins e uma passagem aérea ligando o salão nobre. Em 1957, no Governo Muniz Falcão, a restauração foi feita obedecendo a linha criada em 1946, fazendo voltar, originariamente, os 16 camarotes de 2e o uso do porão e camarins do baixo palco, tendo sido aumentada sua lotação para 870 lugares. Em 1975, no Governo Afrânio Lages, a reforma manteve a linha adotada em 1946, porém reduzindo-se a lotação para 610 lugares, vez que foram abolidos os camarotes de 2a e as “gerais” também, nesta reforma, foi substituída a pintura e a decoração do Salão Nobre, de autoria de Orestes Scercoell em 1910, restaurada em 1946 pelo Professor Lourenço Peixoto e em 1957 pelo Pintor Jose Paulino de Albuquerque Lins. Em 1979, a Fundação à qual pertence o Teatro, mandou restaurar as gerais e aumentou o número de lugares nas frizas e camarotes de 1, totalizando condições para comportar 1000 espectadores Suas características técnicas são apreciáveis apesar de ter sido prejudicada a sua acústica com a reforma de 1975.
Com setenta anos de construído, é ponto de convergência de quase todos movimento artísticos, culturais e filantrópicos do Estado de Alagoas. Ocupando área considerável no centro da capital, abriga e incentiva a evolução cultural da terra que tantos artistas e intelectuais projetou no cenário da Inteligência brasileira. No seu palco exibiram-se milhares de artistas dentre os quais Lucila Peres, que o inaugurou, Itália Fausto, Bidu Sayão, Clara Welss, Leopoldo Froes, Carmen Miranda, Mesquitinha e quase todos os grandes nomes da atualidade cênica nacional: Companhia de Opera e Operetas como Luis Biloro, Lírica Italiana e Vicente Celestino; Sinfônicas regidas por Ferdinand Jouteux, Eleazar de Carvalho e Guido Calligani; declamadores como Margarida Lopes de Almeida e Villaret: bailarinos como Nina Verchinina, Istvan Rabovsky e Beatriz Consuelo; no seu salão de espetáculos, pronunciaram discursos, conferências e palestras entre muitos, Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Washington Luiz, Demócrito Gracindo, Ernesto Penteado ,Júlio Dantas; ali foi fundada a Academia Alagoana de Letras e a Liga Alagoana de Desportos; dali partiram para a projeção nacional, entre outros, o compositor e Maestro Heckel Tavares, o filólogo Aurélio Buarque de Holanda, o escritor Povina Cavalcante, o poeta Jorge de Lima, o antropólogo sociólogo Manoel Diegues Júnior e os atores Sady Cabral e Paulo Gracindo. No seu Salão Nobre foram oferecidos banquetes e homenagens ao Presidente Washington Luiz, Nilo Peçanha.
Seus espelhos e lustres ainda refletem Imagens passadas, quando “sinhazinhas” suspiravam de emoção ao ouvirem textos de Arthur Azevedo, dos alagoanos J. Brito e Rodrigues de Melo, de Viriato Correa e Gastão Tojeiro, bem como da nossa mocidade universitária, assistindo e encenando Millor Fernandes, Bretch, Nelson Rodrigues ou Tcheckov.
Desde sua inauguração, teve várlos Diretores, sendo o primeiro o jornalista Alvaro Flores. Além deste: Agrário Almeida, Filadelfo Wanderley, Oscar Mauricio da Rocha, Moreira Lima, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Luiz Lavenére, Theo Brandão, Guedes Lins, Lincoln Cavalcante, Josué Junior, Edmilson Pontes e o autor destas notas. Fato curioso é que durante muitos anos, a Direção do Teatro Deodoro foi considerada função honorifica, sendo ocupada, na maioria das vezes, por personalidades das mais destacadas da vida cultural ou econômica do Estado. Era uma “comenda” com a qual o Governador agraciava “personas gratas” ao governo.
Atualmente é órgão Integrante da FUNTED criada e Implantada pelo Governo, nas gestões Divaldo Suruagy, Ernani Dorville, Geraldo Melo e Gullherme Palmeira. A partir de novembro de 1978, o Teatro com as possibilidades de suas novas condições administrativas, tem tido vida cultural e artística Intensa, abrigando cursos de Teatro, Música, Galeria de Artes Plásticas, Orquestra Filarmônica, Coral Infantil, Concurso de Peças, apresentação das Academias de Balé, além de pro mover através do Projeto Arte Nossa “shows”, exibindo, até agora, 262 artistas alagoanos ou aqui radicados, batendo todos os recordes de realizações em toda a historia da tradicional casa de cultura artística.
E por tudo isso, é o Teatro Deodoro, para a nossa gente e para nossa terra, um divisor de aguas na História Alagoana, em se tratando de Arte e Cultura.
Bibliografia:
“Livro de Registro de Acontecimentos no Teatro Deodoro” – Pesquisa no APA, Jornal de Alagoas e IHGA História dos Teatros de Maceló” – de Félix Lima Júnior Estudos Alagoanos – DEC 1961- Maceló.
Governo Guilherme Palmeira
Bráulio Leite Júnior foi presidente da Fundação Teatro Deodoro, é autor do livro História de Maceió, Edição Catavento, 2000.