terça-feira 24 de setembro de 2024

Cuba reabre as portas para o turismo

Estão previstos 400 voos semanais para a Ilha, ainda este ano, segundo o embaixador Rolando Gómez Gonzáles
Embaixador Rolando Antonio Gómes Gonzáles | Cortesia

Por Súsan Faria, do Diplomacia Business

Quase 80% dos cubanos tomaram três doses de vacina contra a Covid-19. Os 10 aeroportos da Ilha que estavam fechados, por causa da pandemia, voltaram a operar e espera-se 100 mil turistas até o final deste ano nas paradisíacas praias cubanas. A rede hoteleira de Cuba conta atualmente com cerca de 70 mil quartos e até 2030 prevê-se a ampliação para mais de 100 mil quartos.

Quem conta as novidades da Ilha com exclusividade para o Diplomacia Business é o embaixador Rolando Gómez Gonzáles.  “As próximas inaugurações serão de 40 hotéis, que vão agregar 18 mil novos quartos à oferta turística, incluindo hotéis de luxo nas principais cidades do país”, explica o diplomata. Ele analisa que “o destino turístico de Cuba é apreciado no mundo todo, pelo conforto de seus hotéis, a beleza de suas praias e paisagens e sobretudo pela hospitalidade dos cubanos e a segurança cidadã”.

Rolando Gómez González tem 66 anos e ocupa o cargo de embaixador de Cuba no Brasil desde junho de 2017. Antes, foi embaixador na Bolívia (2011-2014), Paraguai (2009-2011) e Haiti (2001-2005). Foi Diretor de Cooperação Internacional do Ministério de Relações Exteriores de Cuba e cumpriu missões diplomáticas, antes de ser embaixador, na Tunísia, Líbia, Unesco e Bolívia. Veja a entrevista completa:

Diplomacia Business – Cuba tem atrações turísticas espetaculares, setor que garante renda e emprego ao país. Por quanto tempo esse setor ficou paralisado, em função da pandemia da Covid-19, e o que se espera para 2022 no setor turístico do país?

Embaixador de Cuba no Brasil, Rolando Antonio Gómes Gonzáles – Antes da chegada da pandemia, o turismo representava para Cuba a segunda fonte mais importante de receita em divisas e contribuía com cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2020, o país previa receber cerca de 4,5 milhões de visitantes internacionais, número possível considerando que 4,2 milhões de turistas viajaram para o país em 2019.

A partir de 23 de março de 2020, o turismo em Cuba praticamente deixou de existir devido ao fechamento de aeroportos e portos, devido ao aumento do número de infectados pela Covid, resultado do contato entre cubanos e turistas. No entanto, no dia 15 de novembro, reiniciaram as operações turísticas, com a expectativa de chegar neste dia a mais de 60 voos nos diferentes terminais aéreos do país. Será um processo de crescimento contínuo, que até o final do ano deve representar mais de 400 voos semanais.

A rede hoteleira da Ilha conta atualmente com cerca de 70 mil quartos, sendo que até 2030 os planos oficiais preveem a construção de mais de 100 mil quartos. As próximas inaugurações serão de 40 hotéis, que vão agregar 18 mil novos quartos à oferta turística, incluindo hotéis de luxo nas principais cidades do país. O destino turístico de Cuba é apreciado no mundo todo, pelo conforto de seus hotéis, a beleza de suas praias e paisagens e sobretudo pela hospitalidade dos cubanos e a segurança cidadã.

Como Cuba enfrentou a Covid-19? E hoje como está o controle dessa pandemia na Ilha? Quanto por cento da população cubana está vacinada?

Embaixador Rolando Antonio Gómes Gonzáles – Cuba é um país bloqueado pela potência mais poderosa do mundo e não sabemos por quanto tempo essa situação vai durar. Por isso, devemos alcançar uma soberania tecnológica cada vez maior.

O setor biotecnológico e farmacêutico foi concebido com o objetivo de alcançar essa soberania na produção de medicamentos e de outros produtos para a saúde. Hoje nossa indústria abastece o Sistema Único de Saúde com mais de 900 produtos, dos quais 359 são medicamentos.

As vacinas cubanas contra Covid-19 são um exemplo importante de soberania tecnológica. Da mesma forma, 85% dos medicamentos do protocolo cubano para o tratamento da COVID-19 são produzidos em nossa indústria de biotecnologia.

Os resultados alcançados no combate à pandemia também se devem à existência de um sistema abrangente de enfrentamento, trabalho intersetorial e participação comunitária. Além disso, por ter um Sistema Único de Saúde público, gratuito e acessível, o que garantiu uma resposta efetiva ao enfrentamento da COVID-19.

Até 14 de novembro, as doses das vacinas cubanas anticovid-19 administradas no país somavam 27.424.183. O Ministério da Saúde informou que 10.086.396 cubanos (90%) receberam pelo menos uma dose das vacinas Sovereign 02 ou Soberana Plus, do Finlay Vaccine Institute, e Abdala, do Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia (CIGB). Com três doses, 8.679.636 cidadãos completaram o esquema de vacinação, quantidade que representa 77,6% da população.

Cuba também apresenta indicadores muito favoráveis ​​no enfrentamento da pandemia com letalidade de 0,86% contra 2,01% no mundo e 2,44% nas Américas, enquanto 98,98% dos pacientes com COVID-19 se recuperaram.

As vacinas cubanas contra a Covid-19 estão à venda ou foram vendidas a outros países?

Embaixador Rolando Antonio Gómes Gonzáles – Em 21 de setembro, foi assinado em Havana um contrato que prevê inicialmente a venda de 5 milhões de doses da vacina Abdala ao Vietnã. Outros países como Venezuela, Nicarágua e Irã também administram vacinas elaboradas por instituições científicas cubanas para enfrentar o coronavírus. Em agosto passado, a Comissão Federal de Proteção contra Riscos Sanitários (Cofepris) do México emitiu parecer técnico favorável sobre a vacina Abdala, desenvolvida pelo CIGB. Os intercâmbios com a OMS e a OPAS para o reconhecimento e validação de nossas vacinas também estão progredindo.

A partir do dia 15 de novembro, os voos internacionais passaram a operar melhor em Cuba. Fica mais fácil para os brasileiros e pessoas do mundo todo chegar em Cuba a partir deste final de ano? O que se espera e o que se exige dos turistas estrangeiros em Cuba?

Embaixador Rolando Antonio Gómes Gonzáles – Os 10 aeroportos internacionais do país abriram suas portas para receber os primeiros viajantes após meses de restrições devido à pandemia. Dependendo dos voos que estão sendo negociados e da situação da pandemia nos mercados emissores, podemos ter 100 mil viajantes antes do final de 2021.

O mercado russo tem sido o principal cliente de Varadero e das atrações do norte do país. Junto com a reabertura das fronteiras cubanas, foram feitas negociações com operadores turísticos da Rússia, da Alemanha, França, Espanha, Itália, Polônia, Sérvia e Turquia.

Nessa nova etapa do turismo, em meio à pandemia, os viajantes estão cada vez mais exigentes, buscando segurança sanitária e lazer gratuito. Para isso, em Cuba foi concebido o Programa de Turismo Mais Seguro e Higiênico, que estabelece a obrigação de os centros turísticos, públicos e privados, possuírem um certificado que comprove suas boas práticas sanitárias.

Todos os viajantes (cubanos ou estrangeiros) que entrarem em Cuba deverão apresentar passaporte sanitário ou certificado internacional anticovid para as vacinas certificadas pelos órgãos reguladores correspondentes. Aqueles que não possuem estes documentos são obrigados a apresentar a certificação PCR Covid-19 negativa na chegada ao país com no mínimo 72 horas antes da viagem, realizada em laboratório certificado no país de origem.

Quais acordos ou negócios o governo cubano tem interesse em fazer com o Brasil?

Embaixador de Cuba Rolando Antonio Gómes Gonzáles: Cuba é um país com enormes possibilidades de investimento. Atualmente, são 503 oportunidades oferecidas a empresários de todo o mundo que desejam operar com a Ilha por um valor de 12 bilhões de dólares, entre as quais vão desde grandes iniciativas de engenharia ou energia até pequenos empreendimentos. Atualmente trabalham na Ilha investidores de cerca de 40 países, com projetos localizados em toda a Ilha e principalmente na Zona Especial de Desenvolvimento de Mariel.

Da mesma forma, o Brasil é um mercado importante para nossas importações, especialmente alimentos e máquinas agrícolas, entre muitos outros ramos, e queremos continuar ampliando esses laços comerciais, bem como as nossas exportações, que ainda são muito limitadas, mas têm muitas oportunidades no Brasil. Temos interesse em ter investidores brasileiros em Cuba, onde encontrarão enormes benefícios. São muitas as potencialidades de oferta na produção de alimentos, energia, indústria, construção e turismo, entre muitas outras esferas.

A música cubana é famosa no mundo todo. O cineasta alemão Wim Wenders filmou Buena Vista Social Club e o sucesso foi estrondoso. Que futuro o sr. vislumbra para os músicos cubanos?

Embaixador Rolando Antonio Gómes Gonzáles: A música cubana é muito apreciada no Brasil e no mundo. Possui grande prestígio e é muito valorizada pela sua variedade e qualidade. Temos certeza de que continuará crescendo e se desenvolvendo com incalculáveis ​​nuances de criação e interpretação. Este enorme potencial é apoiado por inúmeras escolas de arte em quase todos os conselhos do país e por instituições de nível superior, que permitem o aperfeiçoamento permanente e a plena realização dos nossos músicos e artistas em geral.

Espera-se uma reforma econômica em Cuba. Como deve ser essa reforma? Há projeções sobre o futuro da economia cubana, hoje ainda muito sacrificada pelas sanções impostas por políticas vindas de fora do país?

Embaixador Rolando Antonio Gómes Gonzáles: A estratégia que estamos aplicando para impulsionar a economia parte da necessidade de transformar o comportamento da economia cubana com agressividade, intensidade e inovação. As transformações em curso avançam em todos os setores da economia, buscando estimular as exportações, promovendo a produção nacional para atender à demanda interna, valorizando os sistemas territoriais de produção e o papel dos governos locais.

O governo cubano aprovou medidas que visam aumentar a eficiência da estatal, estimular a ação de novos atores econômicos por meio das chamadas MPMEs, desbloquear processos e cadeias produtivas.

Apesar das dificuldades da pandemia e da intensificação do bloqueio econômico dos Estados Unidos, o ano terminou com 29 novos projetos de investimento estrangeiro, com um montante comprometido de mais de 2,4 bilhões de dólares. Além disso, existem atualmente mais de 30 projetos em estágio avançado de negociação, cujo investimento ultrapassa os 3 bilhões de dólares, que podem ser aprovados no restante de 2021.

Estamos tentando acabar com todos os obstáculos e ataduras ao pleno desenvolvimento das nossas forças produtivas, com uma abordagem aberta e estimulante, que deverá ter um impacto favorável na recuperação econômica do país, após a pandemia e a intensificação do bloqueio comercial.

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