3 de março de 2022 10:01 por Da Redação
Blogue de Homero Fonseca Jornalista, jornalista. Escritor menor. Leitor maior.
A Ucrânia é apenas o território onde duas potências capitalistas se enfrentam. A guerra é entre EUA e Rússia. O que está em jogo é o protagonismo na geopolítica mundial. Não se trata de um FLA X FLU, onde escolhemos um lado para torcer.
Desde o fim da União Soviética, no começo dos anos 1990, os EUA se tornaram a potência hegemônica, firmando-se via economia, diplomacia ou pelas armas como o poder dominante num mundo unipolar. Essa política é sustentada no essencial pelos presidentes americanos, sejam republicanos ou democratas.
Ao ser extinto o Pacto de Varsóvia, o mesmo deveria ter acontecido com a OTAN (eram o braço armado institucional dos dois lados da Guerra Fria). Mas, oportunisticamente, os americanos aproveitaram o vácuo para fortalecê-la sob seu comando. E foi cercando a antiga URSS de bases militares nas ex-repúblicas comunistas. Faltava a Ucrânia. Desde 2014, essa hipótese estava sendo construída e o atual governo ucraniano acelerou o passo nessa direção. Foi a gota d’água para o czar Putin partir para a agressão militar, numa jogada de alto risco. Sua meta é restaurar a bipolaridade do poder mundial, em que o império russo volte ao protagonismo.
A imprensa brasileira, alinhada ideologicamente a Washington, fornece-nos uma cobertura despudoradamente parcial, na realidade uma versão propagandística dos fatos: apresenta o imperialismo russo como o Dragão da Maldade em contraposição aos Super-heróis do Bem (EUA, OTAN, governo da Ucrânia). Quando os americanos invadiram o Iraque, por exemplo, não se enfatizaram as atrocidades dos invasores, a mortandade de civis, o heroísmo da resistência iraquiana.
Como analisa a ucraniana Yuliya Yurchenko, professora de Economia Política na Universidade de Greenwich e autora do livro Ukraine and the Empire of Capital: from Marketisation to the Armed Conflict (2018): “A transição voraz do país para uma economia de mercado dirigida pelo bloco cleptocrático dominante, tornou a Ucrânia numa vítima do implacável crescimento do império do capital, vulnerável à colisão entre os imperialismos capitalistas russo e ocidental”[1].
Não tem super-herói nem mocinho nessa história. Não à toa, a extrema direita mundial está dividida entre Putin e as milícias ucranianas (vide Bolsonaro X seus seguidores que pregavam a ucranização do Brasil).
Penso que uma posição consequente dos progressistas deve ser:
Pela paz, com a cessação das hostilidades e retirada das tropas russas, em paralelo a uma solução diplomática que impeça a presença da OTAN em território ucraniano.
REFERÊNCIA
[1] “A Ucrânia e o Império do Capital”:
A Ucrânia e o Império do Capital | Esquerda