19 de março de 2022 12:40 por Redação
A contratação da socióloga e especialista em planejamento urbano e regional Nair Palhano, pela Prefeitura de Maceió, é vista com desconfiança por lideranças de movimentos de moradores e comerciantes dos bairros atingidos pela mineração da Braskem.
No último dia 11, o Gabinete de Gestão Integrada para a Adoção de Medidas de Enfrentamento aos Impactos do Afundamento dos Bairros (GGI dos Bairros) anunciou que ela vai produzir um relatório científico de danos não materiais sofridos pelas vítimas do desastre socioambiental.
Presidente da Associação dos Empreendedores do Pinheiro e integrante do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB), o empresário Alexandre Sampaio acredita que, no caso da capital alagoana, o laudo a ser produzido pela especialista, que atuou em outras tragédias como o rompimento da barragem de Mariana, em Minas Gerais, não vai gerar efeitos práticos.
“Primeiro, eu estranhei o recorte ‘não materiais’, porque tudo é uma coisa só. Porque quem dependia do bairro para se sustentar tem um dano moral, porque perdeu dinheiro. Quem teve problemas de saúde, sofrimento e tudo, porque tinha uma vida estável e isso está relacionado à perda de pertencimento, a sentimentos ruins, mas, também a prejuízos materiais e imateriais”, disse ele.
Empresário diz que mediação por autocomposição é a solução
De acordo com Sampaio, a prefeitura teria atuado de forma mais efetiva pela população atingida pela mineração de sal-gema se tivesse assinado o pedido de mediação, por meio de autocomposição, entre a mineradora e os moradores e empresários, que foi protocolado no Ministério Público Federal em Alagoas (MPF/AL) em junho do ano passado.
Os poderes públicos, destaca, “deveriam ajudar as vítimas a terem força política para mudar os critérios injustos de negociação com a Braskem”.
Sampaio questiona a metodologia da pesquisa a ser feita em Maceió. O correto, segundo ele, seria a realização de um censo para saber o nível total de afetação econômica, social, de saúde, de mobilidade urbana para, depois, desenvolver políticas públicas adequadas.
De acordo com o GGI dos bairros, a especialista veio com a missão de indicar e propor caminhos, entender como estão as pessoas atingidas pós-desastre e apresentar novas possibilidades de diálogo com a mineradora.
“O entorno da área de risco tornou-se uma situação dramática, foi atingido também, e não avaliar essa área como parte do problema é uma violação de direito”, disse a consultora durante a reunião com as lideranças comunitárias no dia 11 deste mês.
Os principais danos não materiais apontados pela socióloga são a realocação das áreas remanescentes, alteração do termo de acordo, de forma a incluir essas áreas com base nos critérios socioeconômico e social, e assistência de saúde para as famílias afetadas que tiveram consequências físicas e psicológicas.
Para liderança, ouvir apenas “meia dúzia de pessoas” não gera dados confiáveis
Alexandre Sampaio esteve na reunião de lideranças e questionou a socióloga sobre como o relatório será construído. A resposta é que ele será elaborado por meio de entrevistas com as pessoas durante reuniões. Isso, para ele, não é suficiente.
“Eu acho que isso é muito pouco, né? O Município de Maceió ou o Governo do Estado tinham que fazer um censo, uma pesquisa de profundidade porque a quantidade de pessoas atingidas diretamente, que são mais de 70 mil e o entorno que dá mais de 40 mil pessoas, e a quantidade de empresas, que chega perto das seis mil, é um número muito significativo para você fazer meia dúzia de entrevistas e achar que vai concluir alguma coisa importante”, afirma.
Segundo o empresário, a tendência é que os dados apresentados neste relatório não reflitam a realidade. “O fato de não pesquisar sobre a saúde dessas vítimas e dos seus familiares, o fato de não pesquisar sobre os danos econômicos e sociais que aconteceram nos bairros, o fato de não pesquisar o quanto o esvaziamento de cinco bairros afetou o entorno, o quanto os imóveis perderam valor nisso… tem tanta coisa que precisa ser pesquisada, para uma socióloga que mal entendia sobre o que está acontecendo vir conversar com meia dúzia de pessoas”, conclui Alexandre Sampaio.