1 de agosto de 2022 12:42 por Da Redação
Por Luis Nassif, do GGN
Lembro-me a primeira vez que assisti a uma convenção da ANPEC (Associação Nacional de Pós-Graduação em Economia), presidida pelo saudoso João Sayad. Foi em Olinda.
Uma das teses apresentadas foi de um professor da Unicamp. Na banca, a implacável Maria da Conceição Tavares. O professor expôs sua tese, um modelito de país. Na hora do questionamento, Conceição indagou:
– Onde entra a agricultura no seu modelo?
O professor incluiu a agricultura.
– E os trabalhadores?
O professor rebolou e incluiu os trabalhadores.
E Conceição prosseguiu perguntando sobre outros atores essenciais para o funcionamento de uma economia. Quando completou o quadro, a tese não mais se sustentava.
O projeto Brasil de Ciro Gomes não é uma tese acadêmica, mas recorreu ao mesmo artifício do professor. Tirou do seu modelo um dos pontos fundamentais, que poderia comprometer todo o raciocínio: a política.
Sem as restrições da política, me deem meio dia e eu mudo o Brasil radicalmente. Montarei um plano que reduzirá os spreads bancários, reduzirá o custo do dinheiro, taxará pesadamente os ganhos financeiros, controlará o câmbio, implementará a renda universal, consolidará a agricultura familiar etc.
Foi o que Ciro fez. Extirpou a política do seu modelito, contou com a colaboração de economistas da FGV e, pimba, salvou o Brasil!
Autocracia?
Só que, sem a variável política, o país desenhado por Ciro não existe. Como montaria a maioria parlamentar?
Se pretender montar um governo autocrático, sem ceder à política, quem seriam seus aliados? Os militares? Uma ditadura? Um governo autocrático, como no projeto militar apresentado, como uma rede de sábios armados, acima das instituições, fiscalizando os princípios defendidos por eles?
O Projeto Lula
Já em Lula o elemento política é essencial, e dá margem a dúvidas, sim.
As alianças permitirão avançar até quanto em reformas fundamentais? Conseguirá romper com o primado do mercado? Conseguirá implementar uma reforma fiscal progressiva?
Devido ao fator política, Lula pouco explicita suas ideias. A diferença entre ele e Ciro, é que Lula transita no mundo real; e Ciro, no mundo de fantasia.
Portanto, é falsa sua bandeira de ser o único candidato que tem um programa econômico. O livro “Projeto Nacional” é uma obra de ficção, tipo “como seria belo o meu país no reino da fantasia, sem política, sem centrão, sem general Paulo Sérgio”.
Publicado originalmente em 29 de julho de 2022