30 de agosto de 2022 1:20 por Da Redação
Por Sérgio Abranches
A eleição para presidente deste ano é diferente de todas as outras. Ela não tem precedentes. É a primeira vez que um presidente em final de mandato busca a reeleição e tem como principal oponente um ex-presidente. Tecnicamente, ambos buscam a reeleição. Bolsonaro tenta um novo mandato consecutivo. Lula busca uma reeleição intercalada por três mandatos de outros presidentes: Dilma Rousseff, Michel Temer e Bolsonaro.
É, também, a primeira vez que o presidente no cargo começa a campanha pela reeleição em desvantagem. Bolsonaro quer ser reeleito com popularidade negativa, rejeição alta e desvantagem nas pesquisas de intenções de voto. É o que se poderia chamar de uma campanha agônica.
Outra singularidade desta eleição presidencial é o grau aparente de antecipação da decisão de voto por parte da grande maioria dos eleitores. É inédita a cristalização das intenções de voto. Nunca foi tão pequena a distância entre intenção de voto espontânea, quando o eleitor responde de bate-pronto, e a estimulada, quando o eleitor lê os nomes dos candidatos numa cartela.
Na última pesquisa IPEC, esta diferença esstava em 4 pontos para Lula (40% x 44%) e de 1 ponto (31% x 32%) para Bolsonaro. No levantamento Datafolha de agosto, é de 4 pontos para Lula (40% vs 44%) e de 1 ponto para Bolsonaro (31% x 32%). É um indicador forte de consolidação das intenções de voto.
Chama particularmente atenção a ínfima diferença entre espontânea e estimulada para Bolsonaro. A intenção de voto para Bolsonaro é firme e inelástica, o que pode indicar um teto na casa de 35%. Se este teto se confirmar, ele se explica pela rejeição, pela impopularidade de Bolsonaro e pela avaliação negativa de seu governo.
A estabilidade mostrada pelas pesquisas, que se estende desde o início do ano, explica a proporção muito baixa de indecisos na primeira semana da campanha oficial. Os indecisos seriam de 15% e 20%, hoje.
Não há dúvida de que se trata de uma eleição sem precedentes. Significa dizer que não temos base suficiente para identificar tendências ou fazer previsões. Dificilmente os padrões de eleições passadas se aplicariam a esta. São situações muito distintas. Nas eleições passadas os eleitores decidiam entre seu sentimento sobre o governo que se encerrava e sua confiança nas promessas dos candidatos concorrentes, principalmente do principal adversário do presidente buscando a reeleição.
A singularidade desta eleição presidencial que se aproxima rapidamente do dia do voto na urna torna ainda mais duvidosas afirmações que fazem parte da visão convencional das eleições. Uma delas diz que segundo turno é uma nova eleição, Nunca foi assim. O candidato que disputa em vantagem o segundo o turno, tende a ser o vitorioso.
Não é provável que eventos normais, de baixa ou média intensidade, como sabatinas, debates e propaganda eleitoral convencional, tenham efeito suficiente para quebrar a cristalização. Só eventos disruptivos, de alta octanagem. Estes, são eventos incomuns e inesperados, portanto é difícil prever quais seriam. O grau de cristalização inédito das intenções de voto indicam a vitória de Lula. Se ela ocorrerá no primeiro turno dependerá na variação na margem das intenções de voto para Lula e Bolsonaro e eventual migração de intenções de voto para Ciro e Simone, que também estão bastante consolidadas.