domingo 12 de janeiro de 2025

Esquecido pelas autoridades alagoanas, Graciliano Ramos faria hoje 130 anos

Legado do escritor vai da literatura ao cinema, passando pela política

28 de outubro de 2022 8:09 por Geraldo de Majella

O escritor Graciliano Ramos

O escritor Graciliano Ramos (1892-1953) nasceu há exatos 130 anos, no 27 de outubro de 1892, no município de Quebrangulo, em Alagoas. É o primeiro dos 16 filhos de Sebastião Ramos de Oliveira e de Maria Amélia Ferro Ramos.

O principal escritor de Alagoas continua sendo tratado como um ilustre desconhecido em sua própria terra. A Casa Museu Graciliano Ramos, no município de Palmeira dos Índios, onde foi prefeito, foi fechada para reforma e segue assim há cinco anos.

A obra foi paralisada sem explicação. O descaso com a memória do ilustre alagoano deve ser entendido como uma política deliberada para que a história e a memória do Mestre Graça, como era carinhosamente tratado, seja esquecida.

A Prefeitura de Palmeira dos Índios, na administração do prefeito Júlio César, é a única responsável pelo descaso e incúria.

Patrimônio cultural e histórico está sujeito à destruição

Mestre Graça é um dos maiores romancistas brasileiros e da Língua Portuguesa. O escritor foi cronista, contista e memorialista, tendo trabalhado entre 1914 e 1915 como revisor nos jornais cariocas Correio da Manhã, A Tarde e O Século do Rio de Janeiro, e colaborou, simultaneamente, para o jornal fluminense Paraíba do Sul e para o Jornal de Alagoas.

Primeiros passos

Graciliano Ramos viveu, quando criança, entre as cidades de Buíque, no Agreste pernambucano e Viçosa, na Zona da Mata alagoana. Com sete anos de idade, vivendo em Viçosa, Graciliano passa a estudar no Internato Alagoano. É neste colégio que vê sua primeira obra publicada: o conto Pequeno Pedinte, no jornalzinho O Dilúculo (Alvorada), sob a assinatura de G. Ramos.

Político e escritor

Em 1927, foi eleito prefeito de Palmeira dos Índios (AL), toma posse em janeiro de 1928 e renuncia ao cargo em abril de 1930. No mês de maio é nomeado diretor da Imprensa Oficial.

É nomeado pelo governador Osman Loureiro diretor da Instrução Pública de Alagoas, cargo equivalente a Secretário Estadual da Educação.

Nesse período, é contratado como redator do Jornal de Alagoas, onde publica vários trabalhos, entre eles, Comandante dos Burros, Doutores e Mulheres, não publicados em livro.

Ele publica o romance Caetés, seu primeiro livro, pela Editora Schmidt do Rio de Janeiro. Em 1934, publica o segundo romance, São Bernardo, pela Editora Ariel (RJ).

Confira sua obra:

Após a ditadura do Estado Novo (1937-1945), o Brasil é redemocratizado e o Partido Comunista Brasileiro (PCB) adquire o registro junto Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em agosto, filia-se ao PCB, a convite de Luís Carlos Prestes, secretário-geral do partido.

Preso político

Graciliano Ramos é preso, em Maceió, no dia 3 de março de 1936, sendo levado num porão de navio para o Rio de Janeiro onde fica preso por dez meses, sendo libertado no dia 3 de janeiro de 1937. O escritor não voltou a viver em Alagoas, se estabelecendo na cidade do Rio de Janeiro. Preso, em agosto, a Editora José Olympio lança Angústia, seu terceiro romance, que ganha o Prêmio Lima Barreto, instituído pela Revista Acadêmica.

Em liberdade e trabalhando no Rio de Janeiro, lança, em 1938, Vidas Secas, seu quarto romance. Graciliano Ramos morre na Cidade do Rio de Janeiro, no dia 30 de março de 1953, aos 61 anos.

Graciliano no cinema

Graciliano Ramos teve, até o momento, três das suas obras adaptadas para o cinema. A primeira filmada foi Vidas Secas, em 1963, por Nelson Pereira dos Santos, que recebe, com o filme, o Prêmio Cinema de Arte, o de Melhor Filme para a Juventude e o Prêmio Office Catolique de Cinéma, durante o XVII Festival Internacional de Cinema de Cannes.

Em 1972, o cineasta Leon Hirszman filma o romance São Bernardo e, em 1984, Nelson Pereira dos Santos filma Memórias do Cárcere. A Rede Globo adapta A Terra dos Meninos Pelados para a televisão.

O cineasta alagoano Esdras Batista (1923-1988) nascido em Maceió e radicado no Rio de Janeiro é o autor da única imagem em movimento do escritor alagoano. Esdras foi ao apartamento do escritor que estava doente num momento em que o pintor Cândido Portinari e a sua esposa visitavam o amigo. Essa informação foi prestada pelo pesquisador alagoano Claudevan Melo.

O cineasta alagoano Esdras Batista

Graciliano Ramos é o que de melhor Alagoas produziu em sua história.  O aniversário de nascimento do Mestre Graça não será esquecido pelos seus admiradores.

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