segunda-feira 23 de dezembro de 2024

Bar do Sete, um local acolhedor para os boêmios em Anadia

Fundador, José Barbosa, era uma pessoa bem-humorada, cuidava da cozinha e do balcão com atenção e de um modo muito particular

19 de dezembro de 2022 4:35 por Geraldo de Majella

Fachada do Bar do Sete | Arquivo

A definição de bar se refere a um estabelecimento comercial onde são servidas bebidas alcoólicas e não alcoólicas, como refrigerantes, café, chás, sucos. Servem também petiscos, sanduíches e outros lanches rápidos.

A palavra é derivada de “balcão”, móvel que é básico na estrutura desses estabelecimentos e que serve como divisória, uma espécie de “muro” que separa quem trabalha e o público, na altura do tórax, onde são colocados as bebidas e os petiscos.

O balcão para os boêmios – a depender da disposição do espaço – serve como o local mais procurado pelos clientes para conversar de maneira quase intimista. As prateleiras servem como espaço de ornamentação e exposição da variedade de bebidas. Esse é o modelo clássico.

O Bar do Sete, em Anadia-AL, funcionou por quase cinquenta anos na Avenida Fernandes Lima, a principal do município. O proprietário e fundador era um dedicado funcionário público, oficial de justiça, José Barbosa da Fonseca, já falecido.

A escolha do nome não se baseou em uma superstição, mas, por ter sido este o sétimo estabelecimento aberto por José Barbosa. O bar foi o ponto de encontro da boemia da cidade durante décadas, onde eram servidas bebidas e tira-gostos. Na entrada, havia uma sinuca e um balcão com o formato da letra L, algumas mesas e cadeiras distribuídas ao lado das paredes.

José Barbosa incorporou o nome do local ao seu próprio nome, passando a ser chamado por “Sete”. Era uma pessoa bem-humorada, cuidava da cozinha e do balcão com atenção e de um modo muito particular. Tinha tiradas como “abrir os trabalhos”, o que significava começar a beber no meio da manhã enquanto servia a clientela.

O Sete tinha hábitos diferentes para não dizer estranhos. Não se sabe, ao certo, qual a sua motivação para beber cerveja, com gosto e prazer, sem que fosse gelada. Pegava a garrafa da caixa e, ainda, fazia apologia do ato. Sorvia cada copo, sempre, de uma vez.

José Barbosa era conhecido pelo bom humor | Arquivo

Beber cerveja “quente” é comum na Alemanha ou na Bélgica, onde os mosteiros da Ordem Trapista fabricam cervejas para serem consumidas sem que estejam geladas. É uma tradição milenar e, também, um conhecido roteiro turístico, onde a produção é degustada em qualquer estação do ano. Não é o caso de Anadia, cidade localizada na região da Mata alagoana.

O Bar do Sete era um recanto sagrado onde saíam saborosos tira-gostos de carne suína, bovina, miúdos de galinha, rim bovino assado, galinha de capoeira, caldinhos, sarapatel, mocotó, acompanhados de vinagrete e o inigualável feijão de corda, pimenta malagueta e de cheiro e buchada de bode.

Os bebedores mais ortodoxos dispunham, de acordo com o calendário de frutas da época, de tira-gostos no verão. O caju era o carro-chefe. Tinha ainda seriguela, cajá, abacaxi e cajarana, principalmente, se ainda estivesse amadurecendo. Os apreciadores de aguardente reputam esta fruta como a melhor para sorver goles generosos de cachaça, por causa do sabor agridoce e ácido quando madura.

Cardápio era simples, mas, único

O cardápio compõe o painel da memória afetiva dos boêmios da cidade como uma das suas marcas. Não havia nada excepcional, tudo era muito simples e bem temperado, principalmente, com bom humor e a sua alegria contagiante.

O Bar do Sete é um dos locais mais lembrados pelas gerações que o conheceram e onde parte significativa da história da cidade foi vivenciada entre o balcão, a sinuca e suas mesas. A memória olfativa é recorrente e remete aos cheiros das comidas servidas.

Bêbados chatos eram punidos com o “cartão vermelho”

O Sete criou situações hoje imortalizadas entre os boêmios como a instituição dos cartões amarelo e vermelho, como são utilizados pelos árbitros nas partidas de futebol. Essa regra levada ao balcão era destinada ao bebedor que alcançava um grau etílico que o tornava inconveniente – um bêbado chato. É nesse instante e para esse tipo que o cartão amarelo era aplicado.

Mas, se eventualmente, o cliente continuasse excedendo a regra a alternativa possível era mais radical: seria aplicado o cartão vermelho e, nesse caso, era exigida a sua retirada do bar. E se, por acaso, houvesse reclamação da parte do cliente inconveniente, a punição por insubordinação seria aplicada com a suspensão: uma semana sem frequentar o bar.

Tudo era dito com muito bom humor e com raras contestações. Era nesse clima de camaradagem e intenso consumo de bebidas que José Barbosa tocou a vida e fez, também, a felicidade de muita gente com o seu bar e o seu bom humor.

A memória afetiva do Bar do Sete merece o registro através da publicação em livro ou o registro audiovisual das inúmeras histórias, personagens, famosos e anônimos que tiveram, na boemia e da vida cotidiana de Anadia, o Bar do Sete como um local acolhedor.

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