30 de novembro de 2022 11:40 por Geraldo de Majella
Maceió, 30 de novembro de 2022
Exmo. Sr. Governador:
Resolvi escrever esta carta como um cidadão alagoano, ex-estudante de escola pública, filho de professora primária, hoje, ensino fundamental.
Não nos conhecemos pessoalmente, mas, o tenho, como todos os alagoanos também o têm, como o governador eleito pelo voto popular.
Alagoas, governador, encontra-se no limiar de perder as oportunidades para superar a pobreza e romper a barreira da baixa escolaridade. Não existe outra alavanca de mudança para o Estado de Alagoas a não ser a educação pública e de qualidade. A única que é inclusiva.
O analfabetismo e a educação não satisfatória são a condenação definitiva de milhões de alagoanos, no médio e longo prazo, caso não sejam retomadas ações na área como efetiva prioridade.
A mudança, no meu entendimento, deve ser operacionalizada através da liderança do governador. O secretário (a) é quem gerencia, motiva os milhares de professores, funcionários e alunos.
Governador Paulo Dantas, o processo educacional é complexo e diverso. As múltiplas redes que constituem esse universo não devem sofrer descontinuidade como vem ocorrendo nas últimas duas décadas.
Os avanços divulgados, relativos aos indicadores na área, são positivos, mas, ainda insuficientes para romper a barreira da exclusão. Esse dilema não é apenas das redes públicas de ensino, também é da rede privada.
Evidentemente, há nichos da classe média e da elite econômica que furam essa barreira, aliás, nunca foram emparedados, sempre tiveram ensino de boa qualidade em Alagoas e procuram escolas de excelência fora do estado e até no estrangeiro.
Governador, a sua ida à Inglaterra, onde participou de evento de relevância internacional, cria perspectiva para pensar o que fazer para revolucionar a educação pública de Alagoas.
O economista liberal norte-americano e ganhador do prêmio Nobel, Milton Friedman (1912-2006), popularizou a frase “Não há almoços grátis”, ao usá-la, em 1975, como o título de um de seus livros. Esse pensamento faz parte da filosofia do mundo capitalista que tem como um de seus legítimos representantes no Brasil o bilionário Jorge Paulo Lemann, com a credencial de ser o homem mais rico do País.
A Fundação Lemann se diz filantrópica. Essa instituição empresarial é mantida através de recursos, previstos na legislação, e que seriam pagos como impostos. Lemann define esse mecanismo como filantropia. Todas as fundações empresariais se utilizam do mesmo mecanismo e procuram atuar nas mais diversas áreas.
Governador Paulo Dantas, não me tenha como um adversário das fundações empresariais, mas, como um defensor da educação pública cujo responsável e principal provedor são o Estado brasileiro e alagoano.
As parcerias com essa e outras entidades podem ser realizadas, porém, me permita uma sugestão: crie um grupo executivo de trabalho, plural, com especialistas das universidades públicas alagoanas, Ufal e Uneal, além do Sinteal e alguns intelectuais para formular um Plano Básico para discutir a Educação de Alagoas. Esse grupo deve estar sob a sua liderança.
O ganho em ações e efetividades seria enorme, as ferramentas de controle e as metodologias seriam criadas de acordo com a realidade regional.
Vossa Excelência poderia, com sucesso, realizar Encontros Anuais de Lideranças oriundas das escolas em cada município, na primeira fase, a segunda fase seria o regional e o grande encontro estadual, na terceira fase.
Esse seria um passo relevante para alavancar a Educação e autoestima desse fantástico universo, em todas as suas dimensões.
Governador, me desculpe se me alonguei, o meu objetivo não é cansá-lo, mas, quem sabe, encontrar um ponto de reflexão entre a sua viagem à Inglaterra e a realidade das Alagoas.
Atenciosamente,
Geraldo de Majella
1 Comentário
Parabéns Geraldo de Majella! por essa importante iniciativa de se dirigir ao governador eleito com um alerta sobre o papel da Fundações Privadas na Educação brasileira. Essas fundações querem simplesmente dirigir os rumos da Educação no país para criar uma sociedade dócil ao neoliberalismo como já o fazem em muitos estados, como o Rio de Janeiro. Estejamos em alerta! Façamos as necessárias política e pressão para que o governo de Alagoas não seja mais um a deixar a Educação Pública cair nas mãos da ideologia liberal.