segunda-feira 23 de dezembro de 2024

Caso Braskem deixa em risco acervo com mais de 30 mil livros

Filha luta para preservar acervo montado pelo promotor de Justiça Wilson da Silva Barros, que faleceu no ano de 2018

19 de dezembro de 2022 4:35 por Da Redação

Priscilla Barros na biblioteca montada pelo pai | Edilson Omena/Tribuna Independente

Uma biblioteca com mais de 30 mil títulos pode se perder, em mais um prejuízo causado pela ação da Braskem e Maceió. O acervo foi montado pelo promotor de Justiça Wilson da Silva Barros, que faleceu no ano de 2018.

A filha dele, Priscilla Barros, luta para preservar a coleção, que fica na casa da família, no bairro do Pinheiro, um dos locais atingidos pelo afundamento do solo desencadeado pela mineração de sal-gema.

Na terça-feira, 29, Priscilla divulgou uma carta, onde relata a situação e a luta para manter vida a riqueza cultural construída pelo pai. “Já se vão quatro longos e duros anos sendo molestados, constrangidos e humilhados por uma Empresa Multinacional que faz o que quer, como quer, que dita as regras e que é totalmente desprovida de quaisquer sensibilidade”, relata.

Enquanto não recebe uma proposta de indenização que considera justa, Priscilla Barros conta que vive em situação precária, juntamente com a avó paterna, de quase 94 anos, que sofre de Alzheimer.

“Vivemos isoladas, sem acesso à internet, por muitas vezes sem energia, sem água, correndo diversos riscos, tudo isso pela intransigência, crueldade e frieza dessa empresa que em suas propagandas mente de forma desenfreada, afirmando bondades as quais nunca foram ofertadas”, conta.

A filha do promotor de justiça cobra ainda as autoridades por uma solução para o drama das famílias prejudicadas pela Braskem.

“Peço-lhes que ajudem-nos nessa luta imensamente desproporcional, entre pessoas comuns e um GIGANTE Multinacional.  Pedindo-lhes apenas que reconheçam e ofertem consideração a um Patrimônio deixado pela pessoa mais importante da minha vida, meu melhor amigo, meu pai, maior exemplo de honradez a quem devo tudo o que sou, a ele que tanto fez por mim, lutarei até o fim para manter viva sua memória e seu sonho de menino (Sua Biblioteca)”, clama.

Saiba mais sobre o caso:

Leia a carta abaixo, na íntegra:

Chamo-me Priscilla Barros, sou filha do Promotor de Justiça Wilson da Silva Barros, falecido no ano de 2018.

Meu pai, ao longo de sua carreira, exerceu sua profissão com dedicação e esmero, sempre justo e leal ao que fazia e aos seus, ensinou-me a lutar pelo bem e pelo correto mesmo que para isso precisasse seguir sozinha.

Ensinou-me a ser forte e nunca temer se comigo galgar a verdade e os bons sentimentos.

Ensinou-me o valor da decência e da honestidade, mostrando-me sempre que vale sim a pena ser do “bem” mesmo que isso muitas vezes faça com outros não me vejam com simpatia.

Ensinou-me sobre valores longínquos os quais já não desfrutamos mais.

Falou-me da vida e das dificuldades que por vezes nos visitam, mas também contou-me sobre a importância de termos amigos de verdade.

Mostrou-me a essência da verdadeira amizade, sempre ao meu lado passando-me lições valiosas.

E uma destas falava-me da importância do Ministério Público, o qual cresci ouvindo que fora criado para lutar e defender o cidadão de bem, priorizando sempre o bem maior do mesmo.

Cá estou eu, mais uma vez, a escrever suplicando para que algo enfim seja feito.

Já se vão quatro longos e duros anos sendo molestados, constrangidos e humilhados por uma Empresa Multinacional que faz o que quer, como quer, que dita as regras e que é totalmente desprovida de quaisquer sensibilidade.

Notem que desde o princípio desta catástrofe socioambiental, hoje considerada a maior do mundo, que tenho lutado arduamente para que eles simplesmente levem em consideração um Patrimônio Cultural que acolhe mais de 30 mil Obras que ao longo dos anos pertenceram ao meu pai um Promotor de Justiça que honrou o Estado, que nos seus 66 anos de vida sempre mostrou-se dotado de coragem e bons princípios.

Venho através desta partilhar com os senhores toda essa situação.

Toda essa tortura emocional acarretou-me problemas de saúde o que faz com que tudo torne-se ainda muito mais difícil uma vez que minha avó paterna é portadora de Alzheimer e eu sou a única a cuidar dela. Necessitamos de paz e descanso, mas para que isso ocorra a Justiça precisa ser feita de forma urgente e célere.

Minha avó já nos seus quase 94 anos precisa de tranquilidade e sossego, mas temos sido continuamente desrespeitadas, constrangidas e humilhadas por esta Empresa Mercenária.    

Vivemos isoladas, sem acesso à internet, por muitas vezes sem energia, sem água, correndo diversos riscos, tudo isso pela intransigência, crueldade e frieza dessa empresa que em suas propagandas mente de forma desenfreada, afirmando bondades as quais nunca foram ofertadas.

Uma situação fácil de ser solucionada e que já poderia ter sido resolvida desde o princípio, evitando que hoje vivêssemos de forma desumana e esquecidas num bairro fantasma. 

É revoltante e deveras triste ver a Braskem patrocinando eventos, ofertando bilhões de reais à Prefeitura, mas quando se trata das vítimas e de um erro que ela mesma causou, os afetados precisam “mendigar” pelos seus direitos.

Isso é inaceitável. 

A Braskem transformou vidas em ruínas, quantos se foram em decorrência dessa situação???

Mais de 1.500 vidas se foram numa Guerra Silenciosa, é devastador, nada se faz contra esta Empresa. 

Quantos ainda enfermos

E nada se faz???

O dinheiro e o poder não podem falar mais alto do que a dignidade e a honradez.

As vozes silenciosas dos que se foram clamam por Justiça, nós que aqui ainda estamos , resistindo e sobrevivendo em meio a esse caos , clamamos para que os poucos mas verdadeiros homens de bem levantem-se e intercedam por nós.

A Braskem precisa, deve ser punida.               

Sinceramente eu acho que a briga maior, o foco maior seria com os Órgãos Públicos, com os Órgãos Competentes.

Por que afirmo tais palavras?

Porque nós pagamos impostos.

Pagamos impostos para morar, pagamos impostos para construir, pagamos uma série de impostos anuais em função da estrutura que nos pertence.

E de repente o Estado, a Prefeitura permitem que essa Empresa entre e faça uma bagunça dessas???

E na hora em que mais necessitamos abandonam-nos à própria sorte???

Será justo que os afetados, as vítimas passem a cobrar somente a Empresa???

A cobrança em si tem que ser ofertada aos Órgãos Públicos que permitiram que isso acontecesse e ainda esteja infelizmente acontecendo.

Em outra face o número de pessoas que perderam seus negócios , suas empresas , suas moradias , o que me deixa abismada e totalmente decepcionada é que essa Empresa que devastou as vidas de  inúmeras famílias prossegue , continua e ainda encontra-se dentro do nosso Estado, trabalhando, ganhando, lucrando.

É absurdamente inacreditável.  

Cadê o Estado???

Ninguém se levanta???

Nossa luta é covarde, exageradamente desigual, onde quem realmente deveria encontrar-se brigando não se coloca adiante, não toma a frente, deixando-nos com um adversário materialmente falando muito maior.

A briga precisa ser do Ministério Público que como ensinou-me meu pai, foi criado para lutar e defender o cidadão de bem.

Essa briga teria de ser da Prefeitura e do Estado porque é deles a obrigação de zelar pelo bem-estar físico, psicológico e material de cada um de nós.

Não almejamos nada mais do que aquilo que é   correto e justo.

Queremos o que é nosso por direito.

Temos pedido apenas que nos paguem o valor justo e atual, uma vez que os anos passaram, os reajustes vieram e necessitamos recomeçar nossas vidas com dignidade e conforto como outrora tínhamos.

No meu caso o que tenho suplicado é que apenas reconheçam que ao deixar a minha casa necessitarei construir uma nova Biblioteca para preservar aquilo que ao meu pai pertenceu e que ele tanto estimava.

Qual é a dificuldade em reconhecer um acervo, um tesouro Cultural com mais de 30 mil Obras???    

Há quase cinco anos sepultei o corpo de meu pai, porém seus ensinamentos e em especial sua memória ficaram arraigadas em mim e assim estarão comigo enquanto vida eu tiver, assim sendo não posso acovardar-me e não vou, mesmo diante de uma luta tão desigual.

Cá estou fazendo mais um apelo aos Órgãos Públicos e aos Órgãos Competentes.

Peço-lhes que ajudem-nos nessa luta imensamente  desproporcional , entre pessoas comuns e um GIGANTE Multinacional.  Pedindo-lhes apenas que reconheçam e ofertem  consideração a um Patrimônio deixado pela pessoa mais importante da minha vida, meu melhor amigo, meu pai, maior exemplo de honradez a quem devo tudo o que sou,a ele que tanto fez por mim, lutarei até o fim para manter viva sua memória e seu sonho de menino (Sua Biblioteca).

Um GIGANTE, uma Multinacional que tirou não só de mim como de inúmeras famílias o direito de morar com dignidade , tranquilidade e segurança.    

Suplico -lhes respeito, tratando com justiça, sensibilidade e zelo o caso de cada remascencente.

Priscilla Barros , 29 de Novembro de 2022.

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