segunda-feira 25 de novembro de 2024

Exposição virtual Kuarup está no ar

Fotos da jornalista Silvana Valença registram ritual sagrado dos povos ancestrais no Alto Xingu
Foto: Divulgação

Em julho de 1998 a jornalista e fotógrafa Silvana Valença recebeu um convite do Ministério da Justiça para participar da cobertura do KUARUP, um dos mais importantes rituais dos povos indígenas do Brasil.

Seguiu viagem de Alagoas até as terras do Parque Nacional do Xingú, em Mato Grosso. Na primeira parada em Brasília, se juntou a outros 50 convidados, entre os quais equipes da imprensa nacional e do Exterior. Em vôo da FAB foram em direção a aldeia Kamayurá, onde estava tudo preparado para a grande festa.

O material colhido gerou 8 páginas no Caderno B da Gazeta de Alagoas e até hoje é considerada por Silvana a mais importante reportagem da sua trajetória na imprensa alagoana. Importante destacar também que a edição foi a segunda maior vendagem do jornal, na época.

O Kuarup é realizado pelos povos indígenas brasileiros para celebrar a memória dos mortos e assim libertá-los para que passem a habitar o mundo espiritual. O ritual realizado na aldeia Kamayurá teve como homenageados os sertanistas Álvaro e Cláudio Villas-Boas, falecidos em 1996 e 1998 respectivamente, e o guerreiro Mariká.

Ao pisar no solo a jornalista se deparou com centenas de índios de 9 nações – Kamayurá, Kalapalo, Matipu , Nafukuá , Kuikuru, Waurá, Aweti, Meynakro e Yawalapiti – e com a presença do indigenista Orlando Villas-Boas, irmão de Álvaro e Cláudio. Ao lado da esposa Marina e dos filhos Villinha e Noel Villas-Boas, o sertanista retornou ao Parque Nacional do Xingú após 14 anos de ausência.

Foto: Divulgação

O ritual sagrado durou 2 intensos dias. Os índios convidados receberam alimentação e armaram redes nas árvores que circundam as 16 ocas da tribo. Uma grande oca foi reservada para a imprensa. “Seguindo orientação da FUNAI, me vacinei contra febre amarela, levei roupa de frio, rede, repelente, cortes de tecido e cigarros, para trocar com os índios”, lembra Silvana.

A festa da ressureição começa com a escolha dos 3 troncos na mata, representando os espíritos a serem libertos para a aldeia das estrelas. As toras de madeira são pintadas e adornadas, como também os familiares que aguardaram luto. Na sequência, índios percorrem a aldeia tocando a flauta uruá. À noite pranteiam os mortos ao redor de pequenas fogueiras.

Durante o Kuarup acontece também o ritual de passagem das meninas da tribo, que marca o término da puberdade. Depois de um ano reclusas nas ocas, elas são conduzidas por guerreiros e apresentadas em sua nova fase de vida.

No segundo dia do Kuarup acontece o huka huka, espécie de luta marcial da cultura indígena brasileira. Do confronto participam campeões guerreiros de todas as tribos, após passarem por processo de limpeza do organismo com chás e banhos de ervas e de terem seus corpos pintados com urucum, jenipapo e adornados com plumas, miçangas e enfeites de linha.

Após o huka huka vem o moitará, ritual de troca onde cada aldeia oferece produtos de sua especialidade. No final do kuarup, os troncos são lançados nas águas na lagoa Ipavu. A partir daquele momento os espíritos de Cláudio, Álvaro e Mariká já habitavam a eternidade.

“Foi a experiência mais incrível da minha carreira. Passadas mais de 2 décadas, até hoje fico emocionada quando lembro. Fico feliz por poder compartilhar essas imagens através da exposição virtual, especialmente agora que o Brasil deu um basta no descaso e desrespeito com a questão indígena.  Mas a partir de 2023 vamos recuperar o protagonismo mundial e desenvolver políticas públicas fundamentais de proteção aos nossos povos originais”, arremata Silvana.
Essa jornada da então editora de cultura do Jornal Gazeta de Alagoas, pode agora ser conferida na exposição virtual Kuarup, acessível através do link http://kuarupexposicao.com.br/.

Fonte: Assessoria

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