26 de janeiro de 2023 2:31 por Da Redação
O crime socioambiental da Braskem, que destruiu cinco bairros de Maceió pela mineração de sal-gema, será denunciado durante o Fórum Social Mundial 2023, que está sendo realizado até este sábado, 28, em Porto Alegre-RS.
Este ano, o evento tem como tema “Democracia, direitos dos povos e do planeta – Outro mundo é possível”, e terá, no total, mais de 150 atividades realizadas por centenas de movimentos e organizações sociais do Brasil e de outros países.
Hoje (26) à noite, uma carta do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB) será lida durante a palestra da ministra Marina Silva no evento. Assinado por Cássio de Araújo Silva, Neirevane Nunes de Souza e Maurício Sarmento, o documento ressalta que esse crime não pode ser esquecido e nem a Braskem permanecer impune. “Devemos lutar para que outros crimes ambientais como este jamais se repitam”, dizem os signatários.
Veja fala de Maurício Sarmento, diretamente de Porto Alegre:
Além dos danos sociais, a carta denuncia os impactos ambientais da tragédia. “Há um complexo lagunar que margeia os bairros do Bom Parto, Mutange e Bebedouro que devido ao afundamento do solo já perdeu 17 hectares de Manguezal que hoje se encontram 100% submersos, comprometendo toda a cadeia produtiva do Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba que é um dos mais importantes estuários do Brasil”.
Leia a carta abaixo, na íntegra:
CARTA DO MOVIMENTO UNIFICADO DAS VÍTIMAS DA BRASKEM – MUVB FÓRUM SOCIAL MUNDIAL 2023
O Movimento Unificado das Vítimas da Braskem vem através desta carta tornar público o maior crime socioambiental em área urbana no mundo promovido pela Braskem em Maceió-AL, que através da mineração de sal-gema de forma irresponsável levou ao afundamento e destruição de 5 bairros da capital alagoana.
A mineração de sal-gema teve início em 1941, logo após ser encontrada uma importante jazida do mineral em Maceió. Ele é utilizado como matéria-prima pra produção de plástico, cloro e soda cáustica. E na década de 70 a Salgema Industrias Químicas se instalou numa área ambientalmente imprópria para esse tipo de empreendimento, no litoral, numa área de restinga e de um importante estuário. Infelizmente com a conivência do poder público durante mais de 40 anos a Braskem vem explorando o nosso solo de forma irresponsável e criminosa através de 35 minas e 90% dessas minas possuem de 70m a 150m de diâmetro e de 70m a 90m de altura. Foram 5 bairros afetados: Bebedouro, Pinheiro, Mutange, Bom Parto e Farol, com cerca de mais de 60 mil vítimas. Famílias que foram obrigadas a deixar tudo pra trás e saírem de suas casas, um desmonte completo na vida dessas pessoas, sonhos destruídos, perda do convívio comunitário, quebra de vínculos e o afastamento das famílias que antes viviam próximas. Grande parte dessas vítimas está adoecida com depressão, síndrome do pânico e 11 pessoas tiraram a própria vida por não suportarem essa situação.
No dia 03 de março de 2023 completará 5 anos da ocorrência do primeiro tremor que fez com que esse crime viesse a tona, há famílias que há mais de 3 anos ainda não foram indenizadas. E os valores oferecidos como indenização é vergonhoso e irrisório que não chega nem a metade do valor real do imóvel. A Braskem tem um lucro anual exorbitante e tem direcionado um patrocínio milionário ao programa BBB23 da TV Globo, mas tem tripudiado sobre as suas vítimas em Maceió. A publicidade que faz sobre preocupação com a sustentabilidade e responsabilidade social é uma farsa.
Além de tudo isso há uma situação muito grave que são as comunidades remanescentes que ainda se encontram na área afetada pela mineração da Braskem que ainda não foram reconhecidas pelo poder publico como área se risco. E essas populações dos Flexais, Quebradas, Marquês de Abrantes e Vila Saem, além do risco geológico já comprovado por estudos de engenharia, estão ilhados e convivem com o isolamento socioeconômico e co a insegurança em situação de total vulnerabilidade. Vale ressaltar que essas comunidades estão inseridas na área de influência de impacto ambiental da Braskem e sendo assim fazem parte do passivo ambiental da mineradora. Mesmo assim, a Braskem viola os direitos individuais e coletivos negando a estas famílias a reparação integral dos danos causados pela sua mineração criminosa.
Além da área habitada nestes bairros, a área de estuário também esta sendo seriamente afetada. Há um complexo lagunar que margeia os bairros do Bom Parto, Mutange e Bebedouro que devido ao afundamento do solo já perdeu 17 hectares de Manguezal que hoje se encontram 100% submersos, comprometendo toda a cadeia produtiva do Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba que é um dos mais importantes estuários do Brasil.
Há outro problema que é o impacto sobre a fauna urbana, vários animais estão em situação de abadono e quase todos os dias são encontrados animais mortos na área, principalmente gatos. E a Braskem se limita a castrar os animais e a devolver aos mesmos locais, entregues a própria sorte, sem nenhuma garantia de bem estar animal aos que permanecem nestes bairros destruídos.
A Braskem também tem sido responsável pela violação do patrimônio público, pois afetou o patrimônio histórico e cultural tanto material como também imaterial desses bairros. O que representa um dano irreparável para a história desses bairros e para o Estado de Alagoas.
O Movimento Unificados das Vitimas da Braskem há 3 anos vem lutando pela reparação integral de todas as vitimas da Braskem e defendemos o direito a realocação e indenização das comunidades remanescentes das áreas afetadas.
A Braskem lá fora ostenta seus selos de suposta sustentabilidade ambiental e social, mas em Alagoas é responsável pelo maior crime socioambiental já visto no mundo em área urbana. Maceió afunda sem parar enquanto a Braskem mente, o povo clama por justiça e o poder público se cala.
Para entender melhor o que envolve o crime da Braskem em Maceió assista e divulgue o Documentário ‘A Braskem passou por aqui’ de Carlos Pronzato que está disponível no you tube.
Não podemos permitir que esse crime seja esquecido e a Braskem permaneça impune. Devemos lutar para que outros crimes ambientais como este jamais se repitam.
Cássio de Araújo Silva
Neirevane Nunes F. de Souza
Maurício Sarmento
2 Comentários
Isso mesmo,Braskem tem que ser punida pelos estragos socioambiental,pelo sofrimento dos moradores e desvalorização dos imóveis,pois tds estar e continua num prejuízo irreversível,tanto material quanto psicológico,um verdadeiro massacre e ainda obrigados a ficar num bairro onde já não existe meios de sobrevivência,que a verdadeira justiça faça valer no que o povo ainda quer acreditar
Agradeço primeiramente a Deus,segundo nossos companheiros de luta,Maurício,Neirevane,Cassio de Araújo,sou muito grata a vocês ,que Deus os abençoe por toda força e determinação,que Deus tome a frente de td,amém…