domingo 22 de dezembro de 2024

O megadesastre de Maceió tem solução, mas ninguém quer ouvir

Por Elias Fragoso*
Braskem destruiu bairros de Maceió | Crédito: Wanessa Oliveira/Mídia Caeté

Em março chegamos a 5 anos do megadesastre que desfigurou Maceió com absolutamente nada resolvido. E este ano se completa 47 anos da implantação irregular da fábrica da “Salgema” dentro de Maceió, um esbulho das terras de Maceió e uma ocupação ambientalmente criminosa por parte da empresa que se transformou na atual Braskem.

Sem que nada tenha sido feito até hoje pelas autoridades – coniventes e encoloiadas – com a situação pró-Braskem para resolver as duas questões. Essa empresa, não custa relembrar, é um dos seis maiores grupos do gigante mercado cloroquímico global e talvez por isso, se sinta no direito de cometer suas aberrações em Maceió com o apoio das instituições do executivo, do legislativo e do judiciário.

Contra os interesses de Maceió, contra o povo de Maceió, contra a Lagoa Mundaú e o meio ambiente e contra os refugiados ambientais da Braskem (os diretos, expulsos de suas casas situadas dentro da área afetada e os indiretos, do entorno das áreas afetadas que tiveram prejuízo gigante com a desvalorização brutal dos seus imóveis, residenciais, comerciais e industriais). Uma situação que já ultrapassou a todos os limites.

E fez de Maceió uma cidade sitiada pela Braskem.

A destruição de milhares de casas e estabelecimentos chega a um tribunal europeu | 082notícias

Que é também a governadora e a prefeita das áreas que ela destruiu fruto de um acordo surreal, desequilibrado e muito esquisito feito – diante do pasmo dos alagoanos – sob os auspícios da justiça federal e com o aval do MPF estadual e da Defensoria Pública do Estado. Que nem o governo do estado, nem a prefeitura de Maceió, nem a OAB, nem ninguém, exceto os prejudicados moradores, deram um pio para anulá-lo.

Coisa estranha de gente estranha, mas muito sabida, que continuam até hoje suspeitamente omissas para dizer o mínimo (mínimo mesmo). Um acordo leonino que só beneficia a Braskem e mantém todos os que lutam por justiça, reféns da (in) justiça de nada poder fazer contra a empresa por conta de um movimento de bastidor que faria Rui Barbosa se revirar no túmulo, tamanha a vergonha que ele suscita.

Nesse sentido, a coluna agradece ao Sindifisco por lembrar a todos que é preciso resolver o problema de Maceió e, por apontar as soluções apresentadas no livro “Rasgando a Cortina de Silêncios”, o lado B da exploração de Maceió como alternativa técnica a ser considerada para o enfrentamento com sucesso do problema. Aliás, a única disponível em livro sobre o tema.

Divulgação

O livro, um sucesso de vendas em Alagoas, agora parte para ser distribuído no Brasil, Portugal e demais países de língua portuguesa. Escrito a 6 mãos, teve o colunista como organizador e responsável pela análise econômica do tema e contou com o auxílio luxuoso do Prof. Dr. Zé Geraldo Marques, um dos papas do meio ambiente neste país; do Ms. Abel Galindo o único engenheiro de Alagoas a se insurgir e denunciar a Braskem pelo megadesastre que ela provocou em Maceió, e profissional reconhecido nacionalmente em sua atividade.

E também do prof. Dr. Edson Bezerra, autor do Manifesto Sururu um ensaio seminal sobre a identidade alagoana, e um dos intelectuais mais respeitados de Alagoas, que foi responsável por dissecar as implicações sociológicas do desastre entre os refugiados ambientais e para a população de Maceió; e do Dr.Cláudio Vieira, nosso mestre e guia das leis que nos brindou com um texto primoroso sobre o crime e da Braskem e as sendas que podem ser trilhadas para enfrentá-lo e resolvê-lo.

Destaco o papel da arquiteta e urbanista Ms.Isadora Padilha que muito contribuiu conosco na organização do livro e com quem tivemos o prazer de construir uma proposta de solução urbana para a área do mega acidente e para a área ocupada pela indústria dentro de Maceió. Duas intervenções sem falsa modéstia, modernas, avançadas e “Smarts” que encaminhariam soluções para o problema e mudariam a cara de Maceió. Do tipo ganha-ganha. Para a empresa, para a cidade e para os refugiados ambientais da Braskem. Uma proposta técnica, feita a céu aberto, sem nada de zonas cinzentas, reuniões misteriosas, ou acordos espúrios.

Milhares de imóveis foram destruídos pela Braskem, em Maceió

Mas que, até o momento, passados seis meses do lançamento do livro (e das propostas) não mereceu de ninguém sequer um convite para uma reunião, um debate, um seminário, uma discussão sobre o que ela pode proporcionar a Maceió e seu futuro. Por que será?

Por que somos independentes e apontamos para as feridas de todos nesse processo? Por que não nos aliamos a grupinhos medíocres que cheiram a naftalina que controlam a vida da cidade? Por que não “passamos a mão” em cima de quem quer que seja? Ou existem outros interesses difusos para fazer a coisa ir do jeito que está caminhando, todos bancando o avestruz, como se o problema não fosse de cada um. É sim, de todos, e de cada um de nós. Até quando essa covardia com Maceió?

Agora, eu me pergunto: aonde estão a OAB, os conselhos de arquitetura, de engenharia, de economia, de sociologia, das áreas da educação (tão prejudicada) que não se mexem, que nunca nos fizeram um mísero convite para discutir nossas ideias e propostas? Tenho sempre dito: não preciso disso, minha vida tá resolvida, mas não posso coonestar com essa safadeza que estão fazendo com a minha cidade de onde estive ausente por quase 40 anos.

Por que a defesa civil, o IMA, o prefeito de Maceió não querem discutir as propostas, por que querem continuar sendo lacaios da Braskem? Onde estão as associações empresariais da cidade, cadê a academia (as públicas e as privadas) sempre caladas, ausentes do debate ou neutras, portanto, favoráveis passivas à Braskem?

Por que nossa representação federal nunca nos convidou ao menos para fazer de conta que se importam com o assunto? O mesmo a Assembleia Legislativa e a Câmara de Vereadores de Maceió, que não promovem um debatezinho mesmo que de araque para dar uma satisfação aos sonhadores? Ninguém move um dedo, nem mesmo para boicotar as propostas…

Não é a toa que a Braskem continua a “passar a sua boiada” por aqui. Afinal, está na dela. Defende os interesses dos seus acionistas. Mas e essa gente toda daqui que não defende Maceió? Que faz papel de avestruz, e omissos defendem a Braskem. Isso mesmo, a omissão vergonhosa dos aqui citados só tem um único beneficiário: a Braskem.

O que vocês estão fazendo? Querem acabar com Maceió? Não se finjam de enganados – nossa terra não é só sol e praia. Isso é uma nesga num universo de mega problemas dos quais a Braskem é um deles. Esta cidade senhores, detém o infame, vergonhoso, criminoso 1.266º lugar no ranking do IDH dos municípios desse país e Alagoas é o pior estado do Brasil para se viver segundo dado recentemente publicado. E aí? Vamos insistir em continuar nisso? E não se venha com a lorota que é papel dos políticos. Não é. Nesse estado, o papel de quase todos eles é cuidar deles mesmos.

Deem prioridade a Maceió, a terra onde vocês vivem. Onde seus filhos vivem. Onde vocês ganham a vida. Que está sendo vilipendiada à vista de todos!

Estamos tentando fazer a nossa parte. Que tal fazermos juntos?

*É economista

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1 Comentário

  • Diante dos absurdos reais…me engasgo com um deles: a que destruiu fica dona do pedaço de Maceió… Será o veneno que Julieta de Romeu tomou? Será que a morte dessa parte passa a pertencer a quem a envenenou??? Como prêmio??? Maceió pertence a todos nós alagoanos. Não moro nem morei nos bairros afetados mas a Braskem afetou Maceió por inteiro!!!

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