4 de março de 2023 12:40 por Da Redação
(*) Eleonora DUSE Leite é funcionária pública e graduanda em jornalismo.
No último dia 27 de fevereiro fez 10 anos da partida de meu pai, Braulio Leite Júnior. Um homem das artes, embora seu ponta pé de Iniciação tenha sido o Teatro. Foi tudo o que quis, e realizou muito pela cultura do nosso Estado, mas mesmo assim não foi reconhecido pelo poder público.
Criou a Fundação Teatro Deodoro, a qual foi extinta, mesmo sendo um órgão cultural tão realizador. O Misa, Museu da Imagem e do Som, onde milhares de fotos e documentos são documentados e servem como fonte de pesquisa e informação sobre pessoas, monumentos e curiosidades. Criou o Centro de Belas Artes, onde concentrou as quatro belas artes, Teatro, Música, Dança e Artes Plásticas, dando oportunidades de acesso a arte e cultura para todos sem distinção, independente de poder financeiro, cor, religião ou ligação política. Criou corais, grupos de Teatro, orquestras Filarmônica e de Câmara. Idealizador, criativo e excelente administrador de tudo que fez, sempre teve sucesso no que colocava a mão, foi abençoado por sua maestria de ser especial. Foi jornalista, cronista, contista , escritor e poeta, coisa que poucos sabem pois não se sentia assim, o que era mesmo, era apaixonado por sua terra, pelo teatro com suas luzes, seus urdimentos, gambiarras e coxias, e era conhecedor de cada parte dele. Foi um pai extremamente amoroso, um avô encantador e contador de histórias. Era real em suas interpretações e todos se apaixonavam em ouvi-lo contando-as.
Só quem o conhecia sabia realmente quem era Braulio. Brigão, lutador, desbravador, amigo fiel, leal, amigo de todas as horas e momentos. Sensível, chorão, pura emoção a “flor da pele”. Emocional e emotivo, assim foi sempre, dentro do teatro, na família e nas amizades. Ia até as últimas em favor de quem tinha razão e merecimento, abraçava problemas que nem eram seus com a mesma intensidade se fosse e no final sempre se saia bem, porque sempre acreditava. Devoto de Nossa Senhora, a quem tinha verdadeira adoração e sempre muito agradecido por tudo que a vida lhe proporcionou. Rezava baixinho pedindo proteção e acreditava ter.
Um eterno menino grande, foi assim sempre. O seu peso e seu coração era proporcionalmente iguais, tamanho se confundiam. Sempre foi assim.
Muitos amigos que o admiravam e tinham o prazer de sua amizade, que junto a ele ajudaram a construir o seu legado. E foram muitos, mas tinham também aqueles que não faziam e que só criticavam, mas esses eram colocados de escanteio e em algum momento quando se reunia com os verdadeiros amigos, riam, imitavam, gargalhavam dos “tais “.
Gostava de festas, de reunir, de recepcionar. Um bom de garfo e de comidas cavernosas, pesadas, aquelas que dão “sustança”, como ele dizia.
Não foi rico de dinheiro. Vivia bem. Sua riqueza era a família, as realizações, seus amigos verdadeiros e sua terra, que por muitas vezes esbravejou da boca para fora pela incompetência, deslealdade e a falta de amor de muitos que poderiam ter feito mais pela sua cidade. Muitas propostas recebeu para sair das Alagoas, ganhar fortuna no Brasil e no exterior, mas nenhuma tinha a beleza do encontro, o prazer de suas águas mornas, o coqueiral e suas vistas bucólicas. Alagoas foi para sempre sua terra Natal e imortal.
E hoje, depois desses dez anos de sua passagem, olho e vejo essa terra que tanto homens ilustres teve, mas só meia dúzia são lembrados e outros tantos esquecidos. Uns exaltados sempre e outros caindo no ostracismo por falta de conhecimento, leitura ou até falta de educação. Infelizmente a nossa terra tem essas coisas, não por culpa dela, mas pela irreverência de alguns que sabem eles próprios quem são.
Peço a Deus todos os dias pelas minhas filhas, sobrinhos e netas que sejam justos com seu avô (Braulio Leite Júnior ), com seu tio (Gustavo Guilherme de Pontes Leite) e que representem e revelem sempre de onde vieram e quem são, porque assim eles serão eternos nas lembranças de cada uma e isso se perpetuará.