“Uma imagem vale mais do que mil palavras”. A frase atribuída ao filósofo chinês Confúcio (552-476 a.C) traduz a real ideia do poder da comunicação por meio das imagens. Esse pensamento milenar continua atual e temos um bom exemplo.
A violência nas escolas tem sido pauta de todos os meios de comunicação do país, com repercussão internacional. Um dos casos mais recentes foi a morte de quatro crianças numa creche na cidade de Blumenau, em Santa Catarina.
O site da SSP noticia que a Polícia Civil (PC) realizou, na manhã do dia 13, uma palestra com o objetivo de tranquilizar e conscientizar a comunidade escolar sobre a criação de perfis falsos em redes sociais com ameaças a alunos e profissionais das unidades de ensino em Alagoas. Essa é uma área especifica que a PC tem domínio e pode contribuir com a rede pública e privada de ensino.
A imagem dos policiais em pé e ostensivamente armados no ambiente escolar é antipedagógica e reforça o imaginário do uso de armas, inclusive, dentro da escola. A imagem de policiais, homens e mulheres fortemente armados comprova que as policias são despreparadas para se relacionar com a escola.
O delegado Sidney Tenório, titular da Delegacia de Crimes Cibernéticos, e os agentes receberam capacitação e continuam se aprimorando para poder desenvolver o trabalho de excelência com reconhecimento dos especialistas.
A presença da polícia na escola pode e deve ser percebido pela comunidade escolar como uma oportunidade de conhecimento e troca de experiências dentro do ciclo de palestras que é parte do Plano de Prevenção à Violência nas Escolas. É urgente entender que a escola é a parte mais diversa e complexa que está sob a responsabilidade do Estado brasileiro.
Propostas aleatórias
Como reação da sociedade, ergue-se uma onda de proteção às crianças e adolescentes, professores e funcionários das escolas. Quase que instantaneamente foram criadas patrulhas específicas para garantir a segurança da comunidade escolar, contratação de policiais aposentados e de empresas de vigilância privada, enfim, um amontoado de propostas aleatórias.
Espasmos anunciados nas primeiras horas e dias após as tragédias. Além, óbvio, de parlamentares que anunciam projetos de lei para endurecer a legislação.
Entre 2011 e 2023, ocorreram 11 episódios de ataques a escolas, dos quais 5 ocorreram entre o mês de setembro de 2022 e abril de 2023. Em doze anos, 37 pessoas foram vítimas de atentados em instituições de ensino no Brasil. O maior foi o massacre de Realengo, bairro da Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, com 12 mortes.
É inegável o clima de pânico nas escolas do país depois dos últimos atentados em São Paulo, no dia 27 de março, e Santa Catarina, no dia 5 passado. Em Alagoas há registros, segundo o governador Paulo Dantas, de dezenas de ameaças e ataques às escolas.
O governo de Alagoas anunciou a criação de um Plano de Ação para combater a violência nas escolas. Identificar as causas é o primeiro passo para o Estado começar a encaminhar as soluções possíveis.
Ódio e bolsonarismo pioram a situação
A educação, nos últimos quatro anos (governo Bolsonaro), foi o principal alvo da extrema-direita. A política de Estado implantada por Bolsonaro, como operador político, sob a orientação ideológica do intelectual de extrema-direita, Olavo de Carvalho, foi marcada por ataques à escola pública brasileira, estabelecendo a premissa de que a escola pública era o centro de formação ideológica do pensamento de esquerda e, mais, os professores eram os alvos a serem abatidos como se fossem as peças dessa pseudo engrenagem. O resultado está aparecendo de maneira dramática em todos os estados.
A disseminação de armas é um dos vetores da violência letal nos atentados ocorridos nas escolas. A combinação macabra, sustentada pela ideologia de extrema-direita, armas, discurso de ódio e intolerância é o substrato perfeito proliferado por políticos extremistas.
A extensão e profundidade do problema não é conhecida do mundo acadêmico e, muito menos, dos gestores que continuam agindo por impulso. O impacto das redes sociais e, principalmente, dos laboratórios de extrema-direita que produz fake news em quantidade industrial, com o objetivo de desestruturar os Estados democráticos, ainda é desconhecido.
Fortalecer a Ronda Escolar, criar um núcleo de inteligência da segurança escolar são medidas que devem ser permanentes. A desagregação que vem acontecendo nas escolas tem origem distinta e que não são casos de polícia. As consequências dos conflitos que ocorrem na escola e, também, nos lares, não são trabalhadas por profissionais com habilitação para identificar os problemas na sua origem e encaminhar soluções.
A Secretaria de Estado da Educação de Alagoas, as suas congêneres e mesmo o Ministério da Educação (MEC) não estão suficientemente preparados para lidar com o problema da violência nas escolas desde antes.
Plano deve ser elaborado em conjunto
Quando o governador Paulo Dantas anunciou, no dia 12, o Plano de Ação, apenas duas secretarias estavam presentes ou foram mencionadas, a da Secretaria de Segurança Pública e Secretaria de Estado da Educação, que receberam a incumbência de formular medidas contra as ameaças.
A Secretaria da Mulher e dos Direitos Humanos é imprescindível para discutir o problema e com outras instituições elaborar um diagnóstico. O Conselho Estadual dos Direitos Humanos é outro órgão do Estado com responsabilidades definidas na formulação de políticas públicas. As universidades, Ufal, Uneal, Uncisal e o Ifal desenvolvem pesquisas em saúde pública, direitos humanos, segurança pública, psicologia social, entre outras áreas. É imprescindível a participação dos especialistas na discussão e na formulação de politicas públicas para prevenir a violência e capacitar os professores, os diretores e trabalhadores das escolas.
Entender as razões que têm proporcionado o crescimento vertiginoso da violência entre alunos, professores e trabalhadores da Educação é o caminho para se buscar soluções compartilhadas com os diversos campos do conhecimento científico.
Mas, para tanto, é necessário dialogar com quem vivencia o dia a dia da escola pública, que são os professores, os trabalhadores e os diretores, e os sindicatos que representam a categoria.
A palavra ensina, mas, o exemplo arrasta.
O govenador Paulo Dantas, o secretário da Educação, Marcius Beltrão, liderem um movimento para resgatar a educação e a escola pública. O caminho é dialogar com quem está nas salas de aula. Não há solução fácil para problema complexo.