Por Gabriel Ferreira, da Agência Tatu
Roda de Capoeira, Tambor de Crioula, Samba de Roda e Literatura de Cordel. Essas são algumas das expressões que integram os bens culturais imateriais do Nordeste, região diversa que conta com 24 registros no mapa interativo divulgado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
A Agência Tatu analisou os bens imateriais registrados no Nordeste, que representam um grupo cultural específico ou uma comunidade dos estados da região.
Bens culturais imateriais do Nordeste registrados no IPHAN
O levantamento aconteceu a partir da publicação do Decreto 3.551 do ano 2000, que instituiu o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial. “[esse registro]é aplicado aos bens que se enquadram nas seguintes categorias: celebrações, lugares, formas de expressão e saberes, ou seja, as práticas, representações, expressões, lugares, conhecimentos e técnicas que os grupos sociais reconhecem como parte do seu patrimônio cultural”, explica Melissa Mota, arquiteta e urbanista que atuou na coordenação do projeto em Alagoas.
Alguns dos bens imateriais ultrapassam as fronteiras de um único estado nordestino, ou seja, são compartilhados por diversos estados da região, como a Capoeira, Teatro de Bonecos Popular do Nordeste, Literatura de Cordel, Repente, Ciranda do Nordeste e Matrizes Tradicionais do Forró.
Essas expressões fazem parte da identidade de uma comunidade ou de um povo, já que é formada por diversos comportamentos e hábitos. “Tradições com repetições temporais, identificação identitária, sentimento de pertencimento e unificação de subjetividade para a formação de grupos sociais, evidenciam a possibilidade da existência de um bem cultural imaterial”, relatou o antropólogo e produtor cultural, Cadu Ávila.
Bens imateriais por estado nordestino
Dos 24 bens imateriais nordestinos registrados, 17 são de abrangência estadual ou regional, já que foram identificados em apenas um, dois ou no máximo três estados do Nordeste.
Pernambuco é o estado nordestino com mais bens imateriais locais registrados, contando com quatro: Cavalo-Marinho, Feira de Caruaru, Maracatu Baque Solto, Maracatu Nação, Frevo e Caboclinho.
A Bahia vem em seguida com quatro bens imateriais locais: Bembé do Mercado, Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim, Ofício das Baianas de Acarajé e Samba de Roda do Recôncavo Baiano.
O Maranhão possui dois bens imateriais registrados pelo Iphan: o Tambor de Crioula e o Complexo Cultural do Bumba-meu-boi, ambos representando importantes tradições culturais afro-brasileiras que envolvem música, dança e dramatização de histórias.
No Ceará, a Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio é um bem imaterial registrado pelo Iphan. Essa festa é uma celebração religiosa anual em homenagem a Santo Antônio, o padroeiro da cidade de Barbalha.
A Paraíba tem um bem local registrado, que é a Feira de Campina Grande, uma das maiores feiras agropecuárias do Brasil.
A Produção Tradicional e Práticas Socioculturais é um bem imaterial local do Piauí, que inclui diversas práticas, como a produção artesanal de cerâmica e bordados, além de festas e celebrações populares.
O Rio Grande do Norte tem um bem imaterial registrado, a Festa de Sant’Ana de Caicó, uma das maiores celebrações religiosas do Nordeste, atraindo milhares de fiéis e visitantes para a cidade de Caicó.
Já em Sergipe, o modo de fazer renda irlandesa é um bem imaterial registrado pelo Iphan, que destaca a produção artesanal da renda e a transmissão da cultura de geração em geração.
Bens imateriais de Alagoas
Alagoas é o único estado da região que não possui nenhum bem imaterial local e próprio registrado. “Durante muito tempo, as políticas patrimoniais no IPHAN no Brasil e em Alagoas estiveram muito focadas no patrimônio material”, explica Melissa Mota.
A arquiteta diz, ainda, que os investimentos em pesquisa para proteção e preservação do patrimônio cultural imaterial são recentes, especialmente em Alagoas.
O produtor cultural e antropólogo, Cadu Ávila, reforça a importância da presença dos bens imateriais para a cultura local dos estados. “A valorização dos bens culturais imateriais é uma forma de fortalecer o turismo cultural, [esse]é o debate atual sobre a economia criativa que o Brasil está retornando no pós-pandemia. Esse valor dos bens culturais imateriais é o que pode gerar interesse da sociedade pela sua própria cultura”, finaliza.