Entrevistadores: Dimas Marques e Wagner Torres
Olá, meu amigos. O blog do Clube do Vinil de Alagoas chega a sua terceira entrevista em grande estilo. Tivemos a honra e o prazer de entrevistar o cantor e compositor Carlos Moura. Artista de grande sucesso nos anos 80, Carlos falou ao blog sobre sua carreira, influências, seus maiores sucessos, e, claro, seus discos. Esperamos que todos gostem. Confiram.
Ps.: Walter Pires não pode comparecer a entrevista, porém enviou algumas perguntas que estarão devidamente creditadas.
Dimas Marques – Como foi o começo da carreira, quando você começou a tocar?
Carlos Moura – Comecei a tocar com 15 anos. Aprendi violão, minha mãe me deu uma guitarra e eu comecei a fazer rock and roll com “Os Bárbaros”, que era uma banda que eu tinha na época. A gente fazia shows pelo interior, depois começamos a fazer baile.
Wagner Torres – “Os Bárbaros” é de Palmeira dos Índios?
CM – Não, é daqui de Maceió.
DM – Fale-nos um pouco mais sobre “Os Bárbaros” e sobre sua outra banda, “O Vento”.
CM – Fundamos “Os Bárbaros” na década de 70, e depois a gente conseguiu fundar “O Vento”, que era eu, Fernando Melo e o Cícero Vieira.
DM – “O Vento” já tinha músicas próprias suas?
CM – Já tinha músicas próprias.
DM – Você chegou a aproveitar essas músicas em sua carreira solo?
CM – Só Reviravolta, as outras foram surgindo, fui compondo.
DM – Como era a cena musical em Alagoas nos anos 70?
CM – Era muito bom na época. Tinha mais bandas fazendo bailes nos clubes. De tarde, no ginásio do CRB, a gente fazia show abrindo o som do “LSD”, que era a banda que o Djavan tocava.
DM – Tinha banda autoral ou só era banda de baile?
CM – Era mais banda de baile.
DM – Quando você decidiu se mudar para o Rio de Janeiro? Por que?
CM – Eu fui correr atrás dos meus discos. Comecei a compor, vi que estava pronto, maduro. Aí fui pro Rio e gravei o Reviravolta, em 79, depois veio o Rosa de Sol e o Água de Cheiro pela Lança/Polygram.
DM – Como foi sua recepção quando desembarcou lá?
CM – Fui pra casa de uma amiga do tio Pedro Teixeira, dona Louracy, aí fiquei lá, tive a sorte de ver Novos Baianos, que eu gosto pra caramba, no teatro Tiradentes. Foi maravilhoso. Mas eu sempre voltava pra Maceió, não foi a época de ficar em definitivo no Rio.
DM – Você teve dificuldade em conseguir contrato pra gravar os discos?
CM – Não, fiz o teste pra gravar e fui aprovado. Era pra gravar um compacto, mas aí acabou saindo o Lp, o que foi melhor pra mim.
DM – Seu primeiro disco, no caso, o Reviravolta, saiu pela Top-Tape. Fale-nos um pouco sobre as gravações desse disco.
CM – Esse disco foi gravado no estúdio Havaí em 80. Teve participação do Robertinho do Recife, muita gente boa, Jamil Joanes, Maurício Einhorn, pessoal legal. Foi produzido pelo George Leibovitz, que é um francês.
DM – Você tem alguma ideia de quantas cópias foram vendidas?
CM – Não tenho ideia.
DM – Você pode falar um pouco sobre a Top-Tape? Como se deu o contato com gravadora?
CM – Eu conheci um produtor chamado Durval Ferreira, que mandou fazer um teste pra ver se eu ficava na gravadora. Daí fui aprovado e gravamos o disco em 1980.
DM – A partir do segundo disco, você passou a ser distribuído pela Lança/Polygram. Como se deu a transição da Top-Tape pra Lança?
CM – Eu passei um ano sem gravar, aí procurei a Lança. Eu já conhecia o Jairo Pires, que era o diretor artístico, e ele bancou dois discos meu. Um que aconteceu nacionalmente, com Minha Sereia; todos os dois nacionalmente. Teve Cometa Mambembe no Água de Cheiro.
DM – Fale um pouco sobre as gravações do Rosa de Sol.
CM – Foi gravado com a banda de Alceu Valença, Zé da Flauta, Paulo Rafael, Firmino, Juninho Moreira e Márcio Miranda. Os arranjos foram do Márcio Miranda e do Paulo Rafael.
Walter Pires – Em qual circunstância foi criado o hit Minha Sereia?
CM – Eu compus essa música quando morava no Rio de Janeiro. Compus de madrugada. Peguei o violão, comecei a escrever. De manhã lembrei, não esqueci. Guardei, e, quando fui gravar o disco, Zé da Flauta até falou: “essa música vai acontecer!”. E aconteceu, graças a Deus.
WT – Você vai ser eternizado pelo Minha Sereia. É um segundo hino de Maceió.
WP – Então, dá pra afirmar que essa foi a música que realmente alavancou a sua carreira!
CM – É verdade.
DM – Além de você, quem mais a gravou?
CM – Leci Brandão, Limão com Mel… São muitas pessoas que eu nem sei. Estão gravando, ainda. A Ivete Sangalo canta ela.
DM – Falando agora sobre o Água de Cheiro, como foram as gravações?
CM – Foi no mesmo estúdio, lá em Bonsucesso, num estúdio chamado Rancho. E nós os mixamos na Polygram. Foi muito boa à gravação, saiu tudo legal, bons músicos, a banda de Alceu era muito boa.
DM – Cometa Mambembe, outro grande clássico seu. Ela foi composta por Carlos Pitta e Edmundo Carôso, como você os conheceu?
CM – Conheci em Salvador. Conheci Pitta em Serrinha, que eu morava lá, depois ele me deu uma letra e fizemos uma música chamada Certeza da Paz, que está no Rosa de Sol. A gravação foi no mesmo estúdio, o Rancho. Foi muito bom.
WT – Engraçado, eu fui saber há poucos meses que essa música era do Carlos Pitta. Eu achava que era sua.
CM – Mas todo mundo acha que é minha.
WT – Ele é um compositor baiano. Você poderia falar um pouco mais dele, se tem disco…
CM – Não, ele tem disco. Carlos tem vários discos. Ele comanda aquele São João da Bahia, ele e Zelito Miranda. Aquela região de Serrinha, Feira de Santana. Ele é de Feira de Santana.
DM – Minha Sereia alavancou sua carreira, mas, pode-se dizer que Cometa Mambembe ampliou ainda mais seu sucesso.
CM – Deu segmento ao sucesso dos discos. Fiz o Fantástico com Cometa Mambembe, Jô Soares, vários programas.
DM – Meu pai foi quem me mostrou esse clipe do Fantástico. Ele disse que assistiu na estreia, em 1983.
WT – Tenho recordações de ter visto esse clipe, não em 1983, pois tinha quatro anos.
DM – Depois do Água de Cheiro, você passou três anos sem lançar nada. Em 1986, foi lançado um single, dessa vez pela Polydisc/Condil. Como se deu a transição da Polygram para a Polydisc?
CM – Passei vários anos sem gravar, e, liguei uma vez para João Florentino que era o dono da Polydisc, e ele mandou eu aparecer em Recife. Fiquei até hospedado na casa de um parceiro meu, o Jaguar. Eu tinha feito o tape, tudo pronto, entreguei a ele, que lançou o disco. Esse disco chegou a tocar legal. Lá pra banda do Rio Grande do Norte, fiz um trabalho de rádio e televisão. Muito bom a Estrela Cor de Areia.
WT – Eu lembro que na Tv Alagoas, na década de 80, a música Estrela Cor de Areia fazia parte de uma propaganda da própria emissora. Tinha imagens de Maceió ao som da música, e, quando acabava, aparecia o símbolo da Tv Alagoas.
DM – A Condil é de Recife. Nesse período você ainda morava no Rio de Janeiro?
CM – Sim, morava no Rio de Janeiro.
DM – E quando você voltou para Alagoas?
CM – Faz uns seis anos que estou aqui.
WP – Sobre suas composições, quantas canções suas foram gravadas por outros interpretes?
CM – Gravou Jessé, Casamento de uma Maria, não sei se vocês escutaram essa versão. Gravou Leci Brandão, Limão com Mel, trio de Armandinho, Dodô e Osmar, gravaram uma porção de músicas minhas.
WT – Você teve parceiros na sua estrada como compositor, como Cícero Vieira, Ronaldo Andrade, Lucy Brandão. Queria que você falasse um pouco deles, e qual foi o seu maior parceiro.
CM – Eu tenho vários parceiros. Tem o Salgado Maranhão, que é muito bom, mora no Rio de Janeiro. Tem o Herman Torres. O Cícero Vieira nunca mais fez nada. Fez na época, eu gravei uma música chamada Balada Para um Débil, música minha e letra dele, gravei no Reviravolta e no Acústico. Lucy faleceu, deve estar legal onde ela tá.
DM – Você ganha direitos autorais sobre suas músicas?
CM – Sim, recebo direito autoral de três em três meses.
DM – Você recebe tudo direitinho, a renda é boa?
CM – Mais ou menos, não está tão ruim. Já foi pior. Agora tá vindo até legal.
DM – E sobre Cometa Mambembe, como a composição não é sua, você recebe direitos como interprete?
CM – Recebo, pela gravação. São os chamados direitos conexos.
WT – Quais foram suas maiores influências, desde o começo de sua carreira até hoje?
CM – Comecei ouvindo muito “Beatles”. Nos bailes tocava muito “Beatles”, “Led Zeppelin”, mais rock. Depois começamos a fazer baile pelo interior, aí já tocava de tudo, barzinho também, foi minha escola. Toquei na noite lá em São Paulo, Rio de Janeiro. O que mais me influenciou foi Luiz Gonzaga, Alceu Valença, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo. Foram nessas pessoas que eu me espelhei.
WT – Você já gravou com Geraldo Azevedo, ou fez parceria?
CM – Não, não tive esse prazer.
WP – Falando do mercado fonográfico, você que viveu a época de gravar disco de vinil e cd. Comparando os anos 80 com hoje, você prefere o tipo de gravação analógica ou a digital?
CM – Eu gosto mais da do Vinil, a analógica. Disseram que tá voltando vinil…
DM – Já voltou, pode-se dizer que já está consolidado.
WP – Comparando a questão do mercado, como você compara o mercado dos anos 80 com o de hoje, para se gravar um disco, vender?
CM – Pra gravar hoje em dia está mais fácil, mas, pra vender, na época era melhor. Pelo menos eu tive sorte de vender disco pra caramba.
DM – Você tem ideia de quantas cópias vendeu do Rosa de Sol e do Água de Cheiro?
CM – Acho que perto de 100 mil cópias dos dois juntos.
WP – Quais os projetos para o futuro? Novo Cd em vista?
CM – Estou compondo as músicas pra fazer um disco novo. Aqui mesmo em Maceió, lá no Gustavo.
DM – Já tem quantas músicas prontas?
CM – Devo ter umas dez músicas, mais ou menos.
DM – Carlos, muito obrigado em nome do Blog do Clube do Vinil de Alagoas.
CM – Eu é que agradeço a vocês pela força.