quarta-feira 25 de dezembro de 2024

O Brasil e a indústria de submarinos, por Luís Nassif

Para garantir a continuidade dos trabalhos, há a necessidade de previsibilidade no orçamento, bandeira defendida pelo Comando da Marinha
Reprodução

Por Luís Nassif, do Jornal GGN

Um episódio relevante passou despercebido na visita de Lula à França. Ele manteve uma reunião oficial com o Naval Group, com a presença de cinco Ministros – o da Defesa, das Minas e Energia e das Relações Exteriores entre eles.

Foi o sinal mais objetivo da intenção do governo de fortalecer o programa de construção de submarinos no país. É um momento favorável, devido às boas relações entre Lula e o presidente francês Emmanuel Macron.

O setor começou a se estruturar em 2008, com uma associação da Odebrecht com a francesa Naval Group. Na época foi assinado um contrato guarda-chuva para fabricação de 4 submarinos convencionais e 1 nuclear. A partir daí estaria consolidada a estrutura necessária para uma fabricação em escala.

A base é a mesma para o submarino convencional e o nuclear. Há apenas algumas adaptações, com barreiras de segurança para o nuclear, fabricado para percorrer águias profundas por um período longo.

No ano pasado foi entregue o primeiro submarino convencional, o Riachuelo, construído em Itaguaí. O segundo, Humaitá, está previsto para ser entregue até dezembro. O terceiro será entregue no ano que vem e o quarto no ano seguinte.

Já no submarino nuclear o projeto é da Marinha. Engenheiros da força foram para a França no início do programa. Depois, começaram a trabalhar na Universidade de São Paulo, militares e civis da Marinha com o coach francês.

A fabricação dos submarinos convencionais vai capacitando a Marinha para o nuclear. O Naval Group capacita fornecedores nacionais, especialmente para bateria, bombas e válvulas. Já o aço é fornecido pela França.

O estaleiro da Novonor, em Itaguaí, emprega 1.500 pessoas. Depois de entregue o quarto submarino brasileiro, há planos para exportação, especialmente para América Latina e África.

Para tanto, há uma infraestrutura fantástica no estaleiro de Itaguaí, a maior obra de construção civil brasileira depois de Itaipu. Trata-se de um estaleiro de última geração, enquanto a França ainda possui estaleiros construídos no período de Napoleão e Richelieu.

Na América Latina, a frota de submarinos é envelhecida. Há boas perspectivas de negócios com Argentina, Chile, Peru, Equador e Colômbia. Hoje em dia, opera ou tem representação comercial em 15 países da América Latina, em 4 da África, 3 da Europa 1 um nos Emirados Árabes.

Para garantir a continuidade dos trabalhos, há a necessidade de previsibilidade no orçamento, uma bandeira que vem sendo defendida pelo Comando da Marinha, Almirante  Olsen.

Para este ano, o orçamento previsto é de R$ 1,5 bilhão.

O almirante colaboracionista

Comandante da Marinha no governo Bolsonaro, o Almirante Almir Garnier Santos prestou um desserviço à sua corporação. Sua adesão ao bolsonarismo. Em seu período, participou também da Câmara de Comércio Exterior (Camex), com ênfase na indústria de defesa,

Essa missão relevante foi totalmente comprometida quando Garnier aderiu de cabeça ao bolsonarismo.

Reprodução/Twitter

Em 30 de setembro de 2022, acusou o Estadão de Fakenews.

Reprodução/Twitter

Ele desmentia as seguintes informações do Estadão:

O general Freire Gomes, comandante do Exército, o almirante Almir Garnier, da Marinha, e o brigadeiro Baptista Junior, da Aeronáutica, não pretendem se pronunciar após a declaração do resultado pelo TSE. Assim, os comandantes devem seguir a linha de circunscrever as ações de fiscalização das eleições ao Ministério da Defesa. No meio militar, isso é visto como uma forma de blindar as tropas da ativa de ações políticas do governo. O ministro da Defesa é o interlocutor político entre o presidente e os comandantes. E quer fugir dos holofotes para baixar a temperatura.

E cometeu um ato político indesculpável, recusando-se a comparecer à posse de Lula, limitando-se a passar seu cargo para o sucessor através de Portaria assinada pelo próprio Bolsonaro.

Provavelmente foi o mais forte gesto contra a posse de Lula do lados dos militares. E foi um gesto imbecil, que poderia comprometer um dos grandes projetos tecnológicos brasileiros, que é o Prosub, o programa de fabricação de submarinos convencionais e nucleares.

Outra figura central, o Almirante Flávio Rocha, também cometeu tolices verbais nas eleições. Mas provavelmente será preservado. Na visita de Bolsonaro à Rússia, enquanto o presidente se perdia no deslumbramento inócuo de falar com Putin, Rocha manteve contatos diretos com autoridades russas, visando parcerias para o submarino nuclear.

 

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