19 de agosto de 2023 5:07 por Da Redação
Júlio Caio Vasconcelos (*)
Pesquisar, estudar, escrever e publicar sobre os fatos e acontecimentos em âmbito
municipal são os grandes desafios para os historiadores locais. Digo isso por experiência
própria e tenho a certeza de que muitos concordarão pelas vivências que passaram.
A investigação e o estudo da história local encaram como primeiro entrave –
dependendo da cidade – a carência de trabalhos. O pesquisador que se lança a essa
empreitada buscará as fontes mais diversas para reunir um conjunto de informações sobre
sua gleba.
Peregrinando pelas residências dos mais antigos, dialogando com famílias
tradicionais, comunidades remanescentes e indígenas à procura de fotos, documentos e
relatos, esbarrará com a gentileza de alguns e má vontade e desinteresse de outros.
Percorrendo os desprezados arquivos públicos das prefeituras e câmaras municipais,
caçando leis, decretos, termos de posse e atas de sessões, se deparará com o esforço dos
funcionários e o abandono dado por alguns gestores ignorantes e insensíveis que tratam os
registros históricos, cunhados naqueles papéis amarelados e empoeirados pelo tempo, como
velharia ou até mesmo lixo.
Enfrentando as barreiras de acesso aos fóruns e cartórios extrajudiciais para
investigar processos, escrituras, inventários, registros civis e de imóveis, estará diante de
uma maioria carrancuda que habita naqueles depósitos de documentos, visando somente
as metas e os emolumentos do exercício da atividade jurisdicional, notarial e de registro,
sendo poucos os que não desprezam os antigos livros.
Caminhando por igrejas e cemitérios, receberá o auxílio de raros decididos párocos e
colaboradores, mas por vezes terá como inacessíveis os negligenciados e malconservados
livros de batismos e casamentos. Pelos campos santos em busca de lápides que contenham
os dados para sua pesquisa, terá a cortesia dos coveiros em sua investigação, mas encontrará
no descanso dos nossos antepassados o menosprezo dos administradores.
Se superados esses desafios, outras etapas ganham forma na jornada do historiador:
escrita e publicação. Confrontando dados, relatos, notícias e documentos, o escritor vai
garimpar suas fontes, selecionando o diverso material que tem em mãos para se debruçar
na narrativa a que se propõe. Uma vez finalizada a escrita, a partir daí a publicação
aparece como fase crucial, é onde o livro pode permanecer na gaveta ou ganhar vida para o
público. E afirmo, pesquisa de gaveta não é pesquisa, é somente mais um arquivo, e isso não
faz com que o historiador cumpra seu papel social, só faz repetir mais do mesmo: continuar
a tornar inacessível a coleta que originou o trabalho a ser publicado.
Mas não é só isso, além dos custos com a pesquisa, estudo e escrita, constantemente
bancados em sua totalidade pelo próprio historiador, que retira de suas economias – além
das horas de dedicação – os dispêndios com deslocamentos, alimentação, cópias e
aquisições bibliográficas, se vê agora diante do financiamento de um livro que conta parte
da história local, em razão da falta de políticas públicas municipais de fomento a esses
trabalhos. Escassos são os editais e dotações orçamentárias nesse tipo.
Quando não, é o historiador tratado em seu ofício como um hobby ou passatempo,
uma brincadeira de um cidadão curioso que faz aquilo por divertimento. Pura ignorância
dos que assim pensam.
Viçosa das Alagoas, 19 de agosto de 23, dia do historiador.
(*) é especialista em história de Alagoas (Ifal), sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, advogado, especialista e mestre em Direito (Ufal).