28 de agosto de 2023 2:18 por Geraldo de Majella
O ex-deputado paulista Roberto Cardoso Alves (1927-1996) foi eleito por quatro mandatos para a Câmara Federal pela Arena, partido da ditadura militar, pelo MDB, PMDB e PTB. Advogado e fazendeiro, fez parte da diretoria da Sociedade Rural Brasileira.
“Cardosão”, como era chamado, se notabilizou como um dos articuladores do Centrão, em 1988, durante a Assembleia Nacional Constituinte ao proferir a célebre frase: “É dando que se recebe”.
O Centrão nasceu como uma articulação dos setores mais conservadores e reacionários que estavam no Congresso Nacional discutindo o projeto que viria a ser aprovado como a nova Constituição.
As forças políticas e sociais se mobilizaram para influenciar as bancadas parlamentares, os ruralistas, trabalhadores rurais, indígenas, intelectuais, empresários, banqueiros etc.
A Constituição da República emerge dos embates nas comissões e subcomissões temáticas e das articulações realizadas no plenário.
Olhando em perspectiva o símbolo do fisiologismo brasileiro encarnado por Roberto Cardoso Alves, é necessário ponderar que aquele antigo parlamentar era desejoso por participar das benesses do poder da República, de cargos em ministérios, em estatais etc.
O Centrão, tal como o conhecemos e somos vítimas, é o aprimoramento de uma Organização Criminosa (Orcrim) com atuação aberta contra o Estado brasileiro, como movimentação em direções para onde houver orçamento para desviar a sua finalidade.
O que a mídia nacional cunhou como Orçamento Secreto nunca esteve no horizonte dos antigos deputados e senadores fisiológicos com assento no Congresso Nacional e participação na elaboração da Constituição Cidadã, como foi definida pelo Dr. Ulisses Guimarães.
No limite, se pode dizer que havia um tipo específico de “ética” entre os fisiológicos e os governantes, a extorsão e o achaque, que não era falada em público.
O criador da consigna dos fisiológicos, “é dando que se recebe”, nos dias atuais, seria um coroinha numa ermida do interior paulista. Quando o então presidente nacional do PT, em 1993, Luiz Inácio Lula da Silva, no Amazonas, disse que havia 300 picaretas no Congresso Nacional, o petista não poderia imaginar que, na Presidência da República pela 3ª vez, fosse obrigado a tratar com gente muito pior do que aqueles parlamentares do passado chamados de picaretas.
O Centrão é quase um estado de espírito do parlamento brasileiro. Símbolo da tragédia política inaugurada pela extrema-direita. É possível, para os que viveram aquela época, sentir saudade do Robertão Cardoso Alves e de sua célebre frase.
A alternativa que resta para as forças democráticas é participar das eleições e eleger parlamentares comprometidos com políticas públicas, com a defesa do regime democrático e com a transparência da administração pública. Parece pouco, mas, é o que há de mais importante no momento.