sexta-feira 10 de janeiro de 2025

Maceió é marketing? Cidade precisa ser vista como um todo, de forma integrada

Vários exemplos de intervenções públicas expõem gestões sem planejamento integrado, sem plano diretor, sem políticas consistentes e sem participação popular
Foto: Secom Maceió

Não é raro nos dias de hoje observarmos gestores públicos que contratam influencers para potencializar suas ações, ou mesmo se tornam “instagramers e Tik Tokers”. É o que alguns especialistas em redes sociais chamam de “gestores instagramáveis”, mais preocupados em atingir seguidores e converter estes em potenciais eleitores. Tudo com custo baixo e no máximo com uso de drones e equipes de “videomakers”, sem corpo a corpo, sem entrar nos bairros e periferia e sem ter contato real algum com a população. Quando aparecem é apenas para tirar fotos e fazer vídeos para as redes ao lado de seus apoiadores, geralmente vereadores e políticos locais.

É o like que se transforma em voto!

Alguns destes políticos não possuem base política real, se elegem e governam através de redes sociais. Alguns acabam sendo de um mandato só. Transformam uma simples manutenção de galeria pluvial, ou o asfalto de uma rua em um show nas redes sociais. E o mais impressionante é que estas ações “obrigatórias” de qualquer gestor público se torna um feito inestimável com milhares de visualizações e apoiadores, que não comentam e respondem apenas com emojis.

Aqui por Maceió desde 2019 que a cidade recebe “instalações instagramáveis” para turistas. São portais, cadeiras e objetos gigantes, semáforos e cadeiras com muita iluminação em Led, árvores sem manutenção, porém coloridamente bordadas, pinturas murais, pintura de bocas de lobo e caixas de inspeção mal cuidadas, balanços em mirantes, luau, festas milionárias com direito a dancinhas de políticos, e recentemente uma roda gigante que se encontra em discussão e divide opiniões entre arquitetos, urbanistas, moradores da cidade e trade turístico local.

Alguns destes equipamentos se tornaram realmente pontos turísticos, o que de certa forma é interessante para quem visita a orla de Maceió. Só que Maceió não possui apenas os bairros da orla, a cidade precisa ser vista como um todo de forma integrada.

Foto: Ascom Semtel

Esse marketing da gestão pública também possui um lado ambiental, o chamado “Greenwashing” ou maquiagem verde. Como é o caso, porque não dizer, da contenção marítima da praia da Jatiúca e do Pontal da Barra, que custaram aos cofres públicos algo em torno de R$ 58 milhões. Ao que tudo indica até o momento, sem estudos oceanográficos consistentes, estudos ambientais detalhados, estudos claros de viabilidade e de alternativas tecnológicas e estudos socioeconômicos. Tudo sem audiências públicas, obrigatórias para uma obra de tamanho impacto ambiental na linha da costa alagoana.

Estas obras de contenção estão sendo realizadas inclusive sem questionamento por parte de vereadores “vigilantes do povo”, onde nem mesmo a oposição a municipalidade questiona este grande jogo de marketing. No entanto, podemos estar diante de um problema ambiental sério e não sabemos, pois não se possui os estudos e dados abertos para consulta pública. Onde estão estes dados para consulta de pesquisadores e população em geral. No entanto as redes sociais apresentam grandes peças de marketing com tomadas de vídeo aéreas da solução de contenção marítima da orla, como um milagre ambiental que acabou com a erosão marinha em Maceió com uma obra de engenharia.

Esse silêncio foi igual para o acidente dos bairros da região do Pinheiro que gerou o êxodo de 60.000 pessoas e inviabilizou e privatizou mais de 2km² da cidade. Assim também foi com a possibilidade de tanque de ácido sulfúrico na Pajuçara, se não fosse a iniciativa da população que exigiu a revogação da licença de instalação, talvez hoje teríamos um risco eminente de acidente no Porto de Maceió.

Foto: Secom Maceió

Outro caso emblemático foi a abertura do Corredor Cultural Vera Arruda pelos órgãos de controle de tráfego urbano de Maceió. Em todos estes casos há fragilidades ambientais e técnicas muito graves, faltando estudos e aferições mínimas de viabilidade ambiental, jurídica, técnica e social.

Todos estes casos expõem gestões sem planejamento integrado, sem plano diretor, sem políticas consistentes e sem participação popular. Tudo isso acontece com apoio de órgão ambientais locais, sem transparência pública e atendimento mínimo do que prevê o estado da arte do licenciamento ambiental do país.

E agora nos deparamos com mais uma peça de marketing, com o anúncio de uma roda gigante na praça multieventos na Pajuçara. Mais uma vez sem mecanismos de planejamento e controle, como o EIV – Estudo de Impacto de Vizinhança, ou mesmo um EIA – Estudo de Impacto Ambiental, pois este equipamento se instalado vai gerar um polo de tráfego e uma centralidade no local, além de privatizar uma área da praia de mais de 3.000 m² que é de preservação ambiental.

Segundo o edital, os estudos só ocorrerão após a licitação, o que de certa forma soa estranho, pois como fazer um estudo de viabilidade depois de assinado o contrato com a concessionária? Na gestão pública sempre é pertinente aferir antes de fazer.

Segundo o edital a Roda Gigante estará funcionando plenamente durante as eleições municipais.

Seria mais uma jogada de Marketing?

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1 Comentário

  • Eu concordo com cada palavra que você escreveu! Há uma preocupação enorme em atingir um grande número de seguidores, mas infelizmente o mesmo entusiasmo não é visto quando se trata de fazer o melhor pela cidade e por seus moradores. Agora a nova do prefeito é desapropriar casas no bairro de Antares, para uma obra “duvidosa”. Muitas pessoas estão tristes e surpresas com a notícia que vai arrancar inúmeras pessoas de suas casas. Uma violência psicológica sem tamanha. E a tal obra tb vai pegar parte da mata atlântica. Muito triste td isso!
    #Antarespedesocorro

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