sábado 11 de janeiro de 2025

Chore por mim, Argentina

Em momentos em que o planeta precisa de propostas viáveis, construtivas e sérias, o retorno da ultra direita radical, com a sua extensa bula destrutiva só pode ser parte de um roteiro apocalíptico e de retrocesso das liberdades

13 de dezembro de 2023 2:55 por Da Redação

Reprodução

Por Carlos Pronzato*

10 de dezembro de 2023, assume na Argentina a ultra direita do presidente Javier Milei, ex deputado e economista ultraliberal, líder da coalizão La Libertad Avanza, ganhando com uma histórica porcentagem superior a 55% dos votos, recorde em toda a História democrática do país vizinho. Adepto do libertarianismo da Escola Austríaca, originária do fim do século XIX, que afirma que o comércio não deve ter a imposição de forças coercitivas do Estado, se auto intitula “anarcocapitalista”, uma profunda contradição de termos.

O termo libertário, originado em meados do século XIX na França, tem um sentido diametralmente oposto a liberal. Libertário é sinônimo de anarquista, indivíduos adeptos de uma corrente filosófica e política socialista que defende práticas antiautoritárias e autogestionárias, em constante luta contra a direita, as oligarquias, o capitalismo, o patronato, o latifúndio, as ditaduras empresariais-militares, a burocracia sindical, o liberalismo histórico e o neoliberalismo atual. Portanto, o socialismo libertário é o oposto do estapafúrdio “anarcocapitalismo”, esgrimido pelo flamante presidente argentino.

Dito isto, o filme político que iniciou esta semana cuja estrela fulgurante é o midiático presidente que traz como coadjuvantes o manjado neoliberalismo privatista, campeão do desemprego e da exploração dos trabalhadores no mundo, contém elementos bem conhecidos do fracassado governo das elites financeiras de Mauricio Macri, sombra amiga dos passos de Milei até a Casa Rosada. Também inclui perigosos componentes idênticos ao do tenebroso período bolsonarista e por extensão, ao de Trump: oposição ao aborto, à educação sexual nas escolas, ceticismo às vacinas durante a Covid -19, apoio a venda de armas de fogo e a favor das elucubrações direitistas como a do “marxismo cultural” além de negar as mudanças climáticas. Nada de novo sob a poluição do sol do século XXI.

Em momentos em que o planeta precisa de propostas viáveis, construtivas e sérias (a centro esquerda no poder político também não oferecia solução alguma nestas eleições) o retorno da ultra direita radical, com a sua extensa bula destrutiva só pode ser parte de um roteiro apocalíptico e de retrocesso das liberdades, conquistadas ao longo do tempo por diversas forças políticas na Argentina, libertários socialistas ou anarquistas, comunistas, radicais (histórico Partido Radical) e uma parte do peronismo. Esta parte do peronismo, que deu garantias de trabalho e sobrevivência a milhões de argentinos explorados pelo capital nos anos 40 e 50 e tem em Evita Perón parte substancial das suas conquistas sociais posteriores, virou cinzas e não se vislumbra um Ave Fénix no céu azul-celeste e branco.

*É cineasta, diretor teatral, poeta e escritor. Sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB)

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