sábado 11 de janeiro de 2025

Série vai retratar Operação Condor, lembrar 60 anos do golpe no Brasil e discutir economia sob ditaduras

O professor Luiz Gonzaga Belluzzo vai comentar as políticas econômicas adotadas pelos países da região. Filmagens percorrerão sete países
Atentado em plena capital dos Estados Unidos matou o ex-ministro chileno Orlando Letelier: operação espalhava seus tentáculos | Reprodução

Por Vitor Nuzzi, da RBA

Uma série de TV que será rodada ao longo de 2024, em vários países da América Latina, vai retratar a chamada Operação Condor e lembrar os 60 anos do golpe civil-militar no Brasil. Baseada em documentário do diretor Cleonildo Cruz (Operação Condor, verdade inconclusa), a série terá co-direção do economista e professor Luiz Gonzaga Belluzzo, que também fará comentários sobre as políticas adotadas na região. O lançamento está previsto para 11 de setembro, “aniversário” do golpe chileno, que acaba de completar 50 anos.

Operação Condor, verdade inconclusa estreou em 2015, no Museu de Memória e Direitos Humanos do Chile. Em abril deste ano, Cleonildo esteve em Santiago para conversar com María Fernanda García Iribarren, diretora executiva do museu, além da chefe da área de Coleções e Investigações, María Luisa Ortiz Rojas. “É muito importante receber o apoio institucional do maior museu de direitos humanos da América Latina, para realizar esta série de TV inédita.”

De Neruda às políticas econômicas

A série, que começa a ser rodada em fevereiro, terá sete episódios. Vai abordar, nesta ordem, episódios de Chile (Pablo Neruda), Brasil (Memória, verdade e justiça), Argentina (explosões de carros), Uruguai (voos da morte), Paraguai (ossadas de desaparecidos), Bolívia (desaparecimentos forçados de pessoas) e Peru (conexão Europa). As filmagens serão realizadas de fevereiro a agosto, em todos esses países. Depois, a série deverá ser exibida nas TVs públicas de cada um.

“Ter Belluzzo no projeto é dar consistência, entendermos para além dos aspectos históricos, políticos. E irmos além, para os econômicos, de quem financiou. Quem era o mercado financeiro na época que deu apoio, quais empresas transnacionais que aportaram volumes gigantescos, colossais e dólares, para legitimar e apoiar essas sangrentas ditaduras militares na nossa América Latina?”, detalha o diretor. Assim, com essa série ele espera “revelar com riqueza de detalhes o que foi esse pacto criminal e aliança política-militar-empresarial entre os países (…), com o apoio logístico e financeiro dos Estados Unidos”.

Mortes suspeitas

Assim, a série abre com o poeta Pablo Neruda, que morreu apenas 12 dias depois do golpe no Chile. Situação ainda hoje cercada de mistérios. “Neruda é muito importante na minha vida”, diz Cleonildo, que fala em assassinato e envenenamento, “conforme foi declarado em 13 de fevereiro, em Santiago, por uma junta de cientistas”. Segundo relatório entregue à Justiça por especialistas de três países, Neruda foi envenenado – oficialmente, a causa da morte foi câncer.

“A Operação Condor matou Orlando Letelier e Carlos Prats”, acrescenta o pesquisador. Dessa forma, os tentáculos da operação se expandiam por vários países. O ex-ministro e diplomata Letelier, que integrou o governo Salvador Allende, foi morto em setembro de 1976, em Washington, após uma bomba explodir em seu carro – também morreu Ronni Moffitt, com quem trabalhava. Já o general Prats morreu do mesmo modo, em Buenos Aires, em setembro de 1974.

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