26 de dezembro de 2023 2:27 por Da Redação
Por Carlos Prozanto*
2024 chega com a lembrança cinquentenária da Revolução dos Cravos em Portugal (25 de Abril de 1974). O recordatório do fim dos 48 anos do fascismo português (1926 – 1974) proporciona uma lufada de ar refrescante e humanitário em tempos em que o genocídio que o Estado neofascista de Israel perpetra na Palestina, com o apoio irrestrito dos EUA, parece não sensibilizar mais o mundo, assim como também o interminável desenrolar das ações bélicas na Ucrânia, onde confrontam a OTAN e os EUA contra a Rússia desde fevereiro de 2022. Nos idos daquela década marcante dos anos 70 do século XX, os Estados Unidos estavam prestes a serem derrotados no Vietnam (1975), a Nicarágua se debatia pela sua liberação, Brasil e outros países da América continuavam em ditadura, ao tempo que diversas nações africanas conseguiam a sua independência do peso colonial das potências imperialistas da época, e Portugal era uma delas.
O ponto de partida da entrada triunfal em Lisboa do exército português rebelado contra o Estado fascista, com as colunas do MFA (Movimento das Forças Armadas) aclamadas pelo povo nas ruas – porque também isso significava a sua própria emancipação social – pode ser situado na resistência à continuidade e exaustão da política da guerra colonial iniciada em 1961 pelo presidente do Conselho de Ministros do governo ditatorial do Estado Novo, Antônio de Oliveira Salazar (1889 – 1970). Depois de 13 anos de massacres em Guiné Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique numa guerra colonial anacrônica, o contato dos capitães portugueses com o universo da resistência africana foi decisivo para delinear estratégias para a derrubada do governo da metrópole.
O período revolucionário desta gesta dos capitães de abril, se estendeu desde abril de 1974 a novembro de 1975, e representou um episódio relevante da História Contemporânea, com repercussões que extrapolaram as suas fronteiras e atraíram milhares de pessoas de outros países desejosos de vivenciar aquela experiência única que virou o país pelo avesso e onde práticas socialistas de trabalho, convivência e auto-organização foram experimentadas sem medo, quando os trabalhadores tomaram o céu de assalto. Em tempos em que o capital mundial acelera a destruição do Homem e do planeta com a sua sede sanguinária de lucro, através de guerras irracionais, saqueio dos recursos nacionais e aniquilamento das centenárias conquistas trabalhistas, podemos trazer à tona Bertolt Brecht (1898 – 1956) e repetir com ele: “Que tempos são esses, quando falar de flores é quase um crime. Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?” Pois bem, este ano vamos falar de flores, vamos falar dos cravos da revolução portuguesa.
*Cineasta, diretor teatral, poeta e escritor. Sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB)