quinta-feira 24 de outubro de 2024

Futuro Museu da Democracia precisa ter ‘a cara do Brasil’, afirma Margareth Menezes

Ideia é construir o museu até 2027 na Esplanada dos Ministérios. A partir de experiências “positivas” surgidas ao longo da história brasileira
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Por Vitor Nuzzi, da RBA

O universo de 4 mil museus no Brasil deverá ganhar, até 2027, uma instituição com fundamento mais político do que cultural. Com anteprojeto lançado na quinta-feira (18), o Museu da Democracia começou a ser idealizado no dia seguinte ao dos ataques em Brasília, em 8 de janeiro do ano passado. “Foi um choque”, lembra a ministra da Cultura, Margareth Menezes, lembrando da visita que fez à destruída sede do Supremo Tribunal Federal (STF).

Desde então, ela lançou a ideia de um memorial, que evoluiu para a concepção de um museu. Com a intenção de explorar experiências e iniciativas consideradas positivas, sem deixar de mostrar as interrupções democráticas que o país sofreu ao longo da história. O repositório digital para construção do espaço foi lançado na semana passada. Será uma construção “coletiva e participativa”, disse Margareth. “Queremos que o Museu da Democracia tenha a cara do Brasil. (…) A nossa diversidade nos liberta”, acrescentou.

Criação de memórias

A ministra participou na tarde de hoje do lançamento do anteprojeto e também do projeto (re)Conexões, de integração entre os museus brasileiros. Ao lado de diversos agentes culturais, autoridades e ativistas, ela falou do tema durante evento no Museu Lasar Segall, no bairro da Vila Mariana, zona sul de São Paulo. Para Margareth Menezes, o 8 de janeiro sempre será um lembrete da importância de defender a democracia e valores como o da liberdade. “Que notícias nós vamos dar para essas novas gerações?”, questionou.

Ela citou o Memorial do DOI-Codi de São Paulo, gestado há cinco anos e defendido por 13 instituições. “É importante que a gente tenha um espaço para visitar essas dores.” À frente do projeto, a historiadora e pesquisadora Deborah Neves destaca a importância de continuar “criando memórias”. O objetivo é instalar o memorial onde funcionou o talvez mais conhecido centro de torturas da ditadura, na rua Tutoia, hoje sede de uma delegacia de polícia. Ali foram mortos, entre muitos outros, o jornalista Vladimir Herzog e o metalúrgico Manoel Fiel Filho.

Marcas de sangue

Ela citou cena do filme Bacurau, de 2019, em que uma personagem, ao cuidar da limpeza de uma casa onde houve troca de tiros e mortes, manda que se preservem as manchas de sangue nas paredes. “O Museu da Democracia também é essa marca de sangue na parede.” Além disso, é preciso investir na memória porque muitas pessoas ainda defendem regimes autoritários. Deborah citou pesquisa da organização Latinobarómetro, em que 30% dizem que “tanto faz” (entre democracia e ditadura) e 13% acham que um regime opressivo poderia ser uma alternativa, enquanto 46% afirmam preferir a democracia.

Segundo a presidenta do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Fernanda Castro, o Museu da Democracia não será idealizado para contar a história da ditadura implementada em 1964. Seu foco é mostrar as iniciativas sociais e as lutas por direitos. Um museu sobre “experiências democráticas” que o Brasil viveu até hoje. “A gente superou um momento sombrio. Isso, por si só, já é um desejo de democracia.” A expectativa é que a construção comece em 2025. O museu ficará na Esplanada dos Ministérios, em área cedida pela União. Deverá receber R$ 40 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Acesso à cultura

Diretora do Sistema Estadual de Museus de São Paulo (Sisem SP), Renata Cittadin destacou o desafio do poder público de garantir maior frequência da população aos museus. “Se a gente quer um Estado democrático, precisa pensar no acesso à cultura.” O estado de São Paulo tem 683 museus, divididos em sete polos regionais.

Margareth também destacou a sanção pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na última segunda-feira (15), de duas leis para o setor. Uma prorroga o prazo de obrigatoriedade de exibição comercial de obras cinematográficas brasileiras na TV paga, enquanto outra recria a cota de exibição comercial de obras brasileiras nos cinemas, até 2033.

A ministra disse que o governo tem como meta ampliar o número de salas de cinema – e informou que 118 delas estão sendo criadas em 11 estados. “Essa história de que o brasileiro não gosta de cinema brasileiro é uma lenda velha. A gente precisa criar o campo para potencializar esse ativo.”

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