29 de maio de 2020 8:09 por Marcos Berillo
Como se fossem carros usados ou ferro-velho, a Petrobras vai leiloar, em um portal comum de leilões, três plataformas – a P7, a P12 e a P15 -, todas da Bacia de Campos, no Rio de Janeiro. A licitação virtual, marcada para o dia 9 de Julho, foi publicada no Diário Oficial da União no dia 25 de maio e será feita pelo site do Leiloeiro João Emílio.
As plataformas estão fora de operação e são consideradas ‘sucatas’ pela estatal, por isso a intenção de desfazer delas. No entanto, existem alternativas mais ‘patrióticas’, para a destinação dessas unidades.
O técnico da subseção do Departamento Intersindical de Estática e Estudos Socioeconômicos (Dieese) da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Cloviomar Cararine, explica que se a atual gestão da Petrobras tivesse um olhar de cuidado com a economia e com o patrimônio brasileiro, as plataformas seriam modernizadas e recolocadas em operação.
Ao contrário, a estatal, desde o governo do ilegítimo Michel Temer, vem sendo desmontada, o que inclui, além de entregar os ativos da empresa, desativar os estaleiros onde as unidades poderiam receber investimentos e serem reformadas.
“Estamos falando de geração de emprego e renda e movimentação da economia brasileira. Mas a Petrobras age para atender aos interesses de seus investidores e não em benefício do povo brasileiro”, diz Cloviomar.
A atual gestão de acordo com o técnico, passou a priorizar a exploração de petróleo no Pré-Sal, porque apresenta um lucro imediato maior.
“Em nome da rentabilidade, a Petrobras reduziu a produção em campos terrestres e maduros, como é o caso da Bacia de Campos, e por isso as plataformas foram sucateadas”, ele diz e reforça que se a produção nesses campos continuasse, elas teriam, sim, utilidade.
“Poderiam ser usadas em outros locais, outros campos, como no Ceará, no Espírito Santo, aumentando a capacidade de produção da Petrobras e movimentando os empregos e as economias locais”, ele explica.
Outro ponto destacado pelo técnico do Dieese é que o chamado ‘conteúdo local’ não é prioridade para a estatal e isso significa que o modo de a empresa lidar com seus equipamentos é alugar ou comprar plataformas produzidas em outros países. Um negócio da China, literalmente, já que a construção dessas unidades se concentra no país asiático.
Trabalhador da Petrobras, o dirigente sindical Roni Barbosa, secretário de Comunicação da CUT, afirma que para a Federação Única dos Petroleiros (FUP) a empresa deveria fazer investimentos em sua produção. “Investimento é movimento positivo para a economia brasileira porque gera emprego e renda”.
Para o sindicalista, é lamentável que o patrimônio do povo brasileiro, que serve para retirar riquezas do fundo do mar esteja sendo leiloado desta forma, praticamente sendo entregue, certamente a preços baixíssimos, “como se fosse sucata”.
Para Roni Barbosa, a gestão de Roberto Castello Branco, presidente da Petrobras, é de absoluto descaso com a estatal e serve aos desmandos do presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) e de seu ministro da Economia, Paulo Guedes, que querem um desmonte “total e completo” da maior estatal brasileira.
“O que vamos ver na sequência é a Petrobras pagar preços absurdos por plataformas importadas, sendo que vende as plataformas brasileiras a preço de banana em sites comuns de leilão”, diz Roni.
“Jamais imaginei que fosse ver isso, as plataformas leiloadas como se fossem bens corriqueiros de venda. É espantoso”, lamenta.
Em nota, a direção da FUP afirmou que “despreza este tipo de ação por parte da gestão do Castello Branco” e que “a Petrobrás é um patrimônio do povo brasileiro e deve ser conservado e utilizado em prol do país, visando o crescimento econômico, a geração de empregos e não jogado no ferro velho.”
O problema é mais embaixo
A falta de critérios para a entrega das plataformas como sucata escancara o descaso da Petrobras não só com o patrimônio brasileiro, com a economia e com os empregos, mas também com o meio ambiente.
Cloviomar Cararine alerta que, da forma como serão leiloadas, qualquer cidadão comum vai ter a oportunidade de comprar essas unidades.
“Pode parecer piada, mas uma hipótese absurda como o marido chegar em casas e dizer ‘querida, comprei uma plataforma da Petrobras e tá aqui no quintal’, é perfeitamente possível”, ele diz.
E o que fazer com essa ‘sucata’? A probabilidade maior é de que as plataformas sejam desmontadas e, de fato, sejam comercializadas como ferro-velho. Cloviomar conta que, desde 2018, é feita uma pesquisa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por um grupo de estudo que debate os efeitos do ‘descomissionamento’ de plataformas, ou seja, o que acontece quando uma unidade é aposentada.
Além dos impactos econômicos e no emprego, já que novas plataformas não estão sendo produzidas pelo Brasil, há o impacto à saúde do trabalhador e ao meio ambiente.
“Há plataformas que estão lá, fixas no oceano, há mais de 30 anos e houve um acumulo de sério de corais e um volume intenso de gases tóxicos e outros produtos acumulados pela plataforma”, ele diz.
Por esse motivo, desmontar uma unidade requer acompanhamento técnico severo. “Quem comprar essas plataformas, para desmontar, vai ter que passar por avaliação do Ibama, da Marinha e outros órgãos competentes porque são necessários cuidados especiais”, diz Cloviomar, que ressalta: “podemos ter impactos ambientais gravíssimos, se não houver cuidado”.
O grupo de estudos discute, em especial, o formato de leilões comuns de materiais, feitos pela Petrobras, que possibilitam que qualquer pessoa possa adquirí-los.
O correto, diz Cloviomar, é que os leilões fossem feitos com acompanhamento dos órgãos reguladores e não fossem um simples ato de “vender sucata”.
Fonte: Central Única dos Trabalhadores (CUT)