1 de agosto de 2024 9:22 por Da Redação
Por Eleonora DUSE Leite é funcionária pública
Abençoada foi sua caminhada. Nasceu em 24 de dezembro, isso já foi uma benção, vir ao mundo em pleno tempo natalino, as vésperas do nascimento de Jesus. Filho caçula do casal Anália de Barros Meyer Leite e Braulio Monteiro Leite. Meu nome Braulio Leite Júnior.
Uma criança cheia de sonhos, como a maioria das crianças daquela Maceió de outrora. Brincava na rua de poucos carros e quase nenhum movimento, jogava bola de gude, futebol, peteca e atiradeira, tudo normal para uma criança que não tinha a onda do celular, do tic toc, dos jogos eletrônicos, das redes sociais, bem como dos “programas infantis” das tevês da época. Quando foi crescendo estudou no Colégio Batista e Colégio Guido de Fontgalland e posteriormente a Faculdade de Direito e Contabilidade. Era um jovem promissor.
Seu primeiro emprego foi no antigo INAMPS, hoje INSS, onde como jovem advogado aprendeu seus primeiros passos na área da administração e lá foi ficando até quando recebeu o convite do então governador do Estado, Dr. Sebastião Muniz Falcão, para dirigir o Teatro Deodoro. Sabia que iria “comprar” briga em casa com seu pai que não tinha bons olhos com essa “coisa” de teatro… Mesmo assim, aceitou.
Gostava de arte, e muito de teatro. Era gago, tomou aulas de dicção e técnica vocal com a professora Linda Mascarenhas, senhorinha envolvida como o meio teatral e quem lhe iniciou no meio teatral.
Inquieto, criativo e idealista, era esse o Braulio Leite, alagoano que amou sua terra como poucos e que provou isso nas várias criações e idealizações que conseguiu concretizar.
Tudo deu certo no que colocou a mão. Diretor do Teatro Deodoro, diretor e criador do Teatro de Arena Sergio Cardoso, criador e Presidente da Fundação Teatro Deodoro, órgão promissor que infelizmente foi extinta, da Orquestra Filarmônica e de Câmara, do Coro As Andorinhas, da Escola de Música de Alagoas – EMAL, da recuperação e organização da Casa do Marechal Deodoro da Fonseca, do Museu da Imagem e do Som – MISA, bem como do Centro de Belas Artes de Alagoas, esse último seu grande feito e a quem dedicou seus últimos dias. Filho abençoado e querido, aquele que daria bons frutos a comunidade e que deveria ser cuidado, zelado, valorizado e amado.
Dias atrás fomos pegos de surpresa, diria ele: É dolorosa essa situação, afirmaria com afinco, brado e perplexo. Mas vale as nossas recordações, porque são nossas. Momentos inesquecíveis e isso nos torna único na alegria daqueles momentos. Isso é o que importa. Tantas alegrias e felicidades para revivermos conosco mesmo. Isso é fantástico e maravilhoso, pelo menos no meu entender. Porém, uma pontinha de insatisfação me toma a alma (porque isso? Porque esse desinteresse com o nosso Cenarte? Porque esse vazio de coração e amor?). Passou, mas é lamentável.
Já pensou, nós fomos ricos em situações diversas e somos mais ricos ainda por termos do que nos lembrar. Penso, aqui é uma passagem, o “trem” parou, me deixou aqui e fui afortunado com momentos de pura felicidade e naquele tempo eu nem percebia, e só tenho que agradecer. Vivi e convivi com pessoas ricas em ações (e hoje?). Tive o privilégio de conviver com pessoas que acreditava, torcia e me apoiavam em cada sonho e criações, muitas vezes loucas é verdade, mas consegui realizar todas as minhas “loucuras”. Gente que gostava do que a gente amava. Tive o apoio de vocês, Edna, Gustavo, Duse e Karina, minha família e agregados. Nós temos o que recordar e nos preencher. E os outros de agora, terão? Pedaços de trabalhos espalhados pelo chão coberto pela fuligem, esforço de tantos quebrados feito lixo, escombros de sonhos que alimentava tantos quanto eu, rastros de ignorância, intolerância e maus tratos. Erros de caminhos e falta de amor.
Eu bem sei como é isso, passei em vários momentos na minha vida de homem público, mas lutei e não deixei a peteca cair, me posicionei, me impus e dei a volta por cima. Tudo é mutável, passageiro, provisório. Aqui existe o antes, durante e depois. Quem não recorda do Cenarte no casarão do Seminário, de paredes alvas, de chão de espelho, salas de janelas abertas com paisagem gratuitas e pessoas felizes? Quem não lembrará do Cenarte da Pedro Monteiro, prédio do antigo Jardim da Infância e Rádio Difusora, com suas escadarias e palmeiras imponentes, de tantas idas e vindas, de entradas e saídas de seus alunos apressados ou tranquilos para suas aulas? O importante realmente é de onde viemos. Por isso e mais muitas outras coisas, vamos agradecer.
Fomos felizes porque vivemos anteriormente felizes, só que não sabíamos, mas agora sabemos.