Por Dilson Ferreira*
Mobilidade não é só asfaltar ruas e duplicar avenidas, isso é infraestrutura viária. A cidade precisa de um plano de mobilidade de verdade, que envolva de forma científica estudar para onde as pessoas se deslocam no meio urbano. É entender o que cada bairro precisa e integrar tudo isso com um bom planejamento urbano.
Afinal a mobilidade no Jacintinho não é a mesma da Jatiúca, por exemplo. São realidades de mobilidade diferentes e um plano de mobilidade com diagnóstico preciso consegue avaliar as potencialidades de cada bairro e fazer a integração da cidade em um único sistema de modais e realidades da cidade. Para isso é preciso planejar.
Falta de planejamento:
A atual gestão pública de nossa cidade não tem um plano de mobilidade estruturado e isso é um grande problema. As obras viárias que vemos, como duplicações de avenidas, são feitas sem um planejamento integrado e sem ouvir a população. Isso resulta em congestionamentos constantes, pois não se apresentam os estudos necessários para a população e não se faz audiências para discutir soluções.
Outro grave problema é que se está executando projetos da década de 80 ainda, ou seja, executamos no presente o passado. As obras já nascem velhas e problemáticas, pois não refletem a Maceió do futuro e sim a Maceió de 50 anos atrás. Uma obra de mobilidade visa o futuro, o longo prazo e não o passado de uma cidade que tinha 409.191 habitantes, ou seja tínhamos 60% menos população que em 2024. Isso é incompreensível e principalmente nenhum órgão questiona isso, nem entidades alguma. Estamos construindo o passado. É por tudo isso que o transporte público não atende bem as pessoas em Maceió, pois a malha urbana não foi reanalisada, reprogramada, replanejada em sua logística viária. Por tudo isso o plano de mobilidade é vital para o pleno funcionamento da mobilidade de nossa cidade.
Grotas e periferias abandonadas:
As 100 grotas de Maceió, onde vivem milhares de pessoas, são esquecidas quanto a mobilidade. Faltam calçadas e as escadarias não são devidamente adequadas a pessoas com mobilidade reduzida, iluminação e transporte público eficiente é raro nessas regiões, salvo uma parcela. A topografia acidentada torna tudo mais difícil e quem mora nessas áreas acaba isolado, com dificuldade para ir ao trabalho, à escola ou ao médico. Ampliar a acessibilidade e mobilidade para essas pessoas é dar dignidade a elas.
Necessidade de ação dos vereadores:
Os vereadores da cidade precisam priorizar a mobilidade urbana. Muitas vezes, as discussões na câmara se perdem em assuntos menores ou de caráter moral, enquanto a mobilidade urbana e transporte público , que é uma necessidade básica e direito social, fica de lado das discussões. Precisamos de representantes comprometidos com a mobilidade urbana, que lutem por um sistema de mobilidade e de transporte mais eficiente e acessível para todos.
Motoristas de aplicativos e mototaxistas:
Esses profissionais são essenciais na cidade, especialmente onde o transporte público não chega bem,ou em áreas turísticas . No entanto, eles são frequentemente esquecidos nas políticas públicas. É preciso incluí-los nas discussões e criar melhores condições de trabalho, com pontos de descanso e áreas seguras para embarque e desembarque.
Transporte público por ônibus:
Os ônibus com ar-condicionado melhoraram um pouco o conforto, mas ainda faltam abrigos em 70% dos pontosde parada, e as rotas precisam ser otimizadas para reduzir o tempo de espera. Também seria ótimo pensar em corredores exclusivos para ônibus e integração com outros meios, como bicicletas, como BRT ou BRS.
Soluções sustentáveis:
Precisamos de soluções que realmente funcionem. Um sistema de bicicletas compartilhadas seria ótimo para deslocamentos curtos, especialmente na orla e bairros mais planos. Usar as lagoas dragadas, para o transporte hidroviário, ligando Maceió a cidades vizinhas, poderia aliviar a mobilidade na região metropolitana e ser uma opção interessante para moradores e turistas. Além disso, criar corredores arborizados para pedestres ajudaria muito quem prefere andar a pé ou de bicicleta e usa meios ativos de mobilidade.
Maceió precisa de um plano de mobilidade abrangente que pense em todos: motoristas, ciclistas, pedestres, moradores das grotas e periferias. A mobilidade urbana vai além de obras viárias; é uma questão de planejamento e participação popular. Sem vereadores comprometidos e políticas públicas focadas em soluções reais, continuaremos enfrentando os mesmos problemas no dia a dia e olhando pelo retrovisor do passado . Onde estão nossos representantes para discutir o que realmente importa?
Cadê o plano de mobilidade? Continuaremos executando obras de 50 anos atrás ou olharemos para uma Maceió do futuro? Fica aqui minha provocação para você que lê este texto.
0*Dilson Ferreira é professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), arquiteto e urbanista.
1 Comentário
Concordo com tudo, mas precisamos de mais radicalismo nessa discussão. Sem uma reforma urbana que diminua as distâncias e que não coloque o uso do carro como o último na hierarquia dos modais de transporte, a mobilidade de Maceió estará fadada a ser esse mar de atraso logístico que é atualmente.