sábado 11 de janeiro de 2025

Uma opção ao Renasce Salgadinho!

O nome Renasce Salgadinho, ao meu ver já nasceu equivocado
Reprodução

Por Dilson Ferreira*

Em minhas redes sociais sempre faço o debate sobre os problemas da cidade de Maceió. Uma delas recentemente foi um debate sobre o custo das obras do projeto Renasce Salgadinho, que saltou de 77 milhões para 182 milhões e foi amplamente divulgado na imprensa de Maceió.

O nome Renasce Salgadinho, ao meu ver já nasceu equivocado, pois não renasce o Riacho e sim desvia boa parte do esgoto que é despejado nele para redes que levam o efluente para um emissário já em limite de capacidade, segundo a concessionária. Além disso é alvo de disputa judicial pois a concessionária alega que o emissário não comportaria todo efluente do Renasce Salgadinho.

Bem, vamos a uma alternativa, para isso elenco alguns pontos:

1. Problema Identificado no Emissário:

O projeto Renasce Salgadinho é centralizado e depende do emissário submarino.

Fica a pergunta e se o emissário falhar ou chegar no limite, pois a concessionária também está expandindo sua rede de esgoto. Isso pode resultar no retorno de esgoto para a estação se o emissário chegar no seu pico de demanda. E isso pode desencadear um problema na cidade e um provável  lançamento de esgoto para  o mar para aliviar a rede. Isso é um problema a se refletir.

2. Solução Proposta: Estações de Tratamento Descentralizadas

Implementar estações menores e descentralizadas ao longo das orlas lagunares e litorâneas de Maceió. Isso é usado no mundo inteiro. No nosso caso precisaríamos estudar melhor o sistema, porém arrisco que  estações de tratamento menores, em localizações sugeridas abaixo já seriam importantes para diminuir a poluição de riachos e eliminar línguas sujas:

Litoral Norte;

Cruz das Almas/Jatiúca;

Pajuçara/Poço/Jaraguá;

Centro/Prado/Vergel;

Trapiche/Pontal;

Outros bairros.

2. Vantagens das Estações Descentralizadas:

 São estações menores (usam terrenos com 800m² a 1200m² e podem ser verticais. Elas fazem o tratamento local de efluentes, reduzindo custos e complexidade das redes de esgoto centralizadas, já usadas diversas cidades do mundo e inclusive no Brasil.

Permite desviar esgoto entre estações em caso de manutenção, minimizando o risco de vazamentos e contaminação de nossos riachos e praias.

Permite a diminuição da necessidade de redes de esgoto extensas, reduzindo vazamentos nas ruas, especialmente em áreas como Jatiúca e Pajuçara, onde o sistema está no limite e os bueiros mostram que o sistema de esgoto de Maceió é ineficiente e usa as galerias de água pluvial, sendo sua maioria ligação clandestina não fiscalizada ou sob omissão de quem deveria fiscalizar.

Essa Solução já aplicada com sucesso no Brasil, em cidades como Curitiba, especialmente em áreas com rede de esgoto limitada.

4. Exemplos Reais de Curitiba:

 Curitiba implementou um sistema de tratamento descentralizado no bairro de Santa Felicidade, onde foi instalada uma estação compacta para atender a demanda local. Esse modelo reduziu significativamente o impacto ambiental e melhorou a eficiência do tratamento, demonstrando que as estações descentralizadas podem operar com sucesso em áreas urbanas densas.

Outro exemplo é a estação localizada no bairro de São João, que trata efluentes de uma comunidade sem acesso à rede convencional de esgoto. A estação utiliza um sistema de reatores anaeróbios, eficiente e de baixo custo, adequado para locais onde a expansão das redes de esgoto é limitada ou inviável.

6. Proponho algumas Etapas de Implementação deste tipo de solução em Maceió:

Mapeamento de Áreas Prioritárias: Identificação de locais críticos, especialmente perto de riachos poluídos e línguas sujas de nossa capital.

Instalação Inicial: Começar em regiões como Jatiúca e bairros da orla, além da Lagoa Mundaú.

Expansão: Ampliar o sistema com parcerias público-privadas para cobrir mais áreas críticas de Maceió.

6. Renaturalização dos Riachos e Recuperação de Nascentes:

Plantar mata ciliar, onde possível for, e substituir concreto que impermeabiliza os leitos dos riachos.

Implementar um programa de recuperação de nascentes em parceria com IMA, IBAMA, SEMURB e a Fundação SOS Mata Atlântica.

7. Foco no Riacho Salgadinho:

Investir em uma estação de tratamento robusta para tratar 100% dos efluentes.

Recuperar nascentes ao longo do percurso do Salgadinho, desde o Poço Azul até a Praia da Avenida. Alguns dizem que a nascente morreu, porém pouco registro científico se tem dessa constatação. Eu realmente acredito que podemos recuperar várias nascentes em Maceió.

8. Transparência e Envolvimento da População:

Garantir transparência pública em todas as etapas, mostrando o uso de cada centavo investido. Isso não existe hoje.

Envolver a comunidade no processo e manter um diálogo contínuo com ambientalistas, UFAL, setores da economia e técnicos especialistas.

9. Custo Estimado e Viabilidade:

 Com um orçamento de 182 milhões de reais, é possível resolver os problemas com estações descentralizadas compactas, que custam de 5 a 10 milhões de reais cada, podendo ser maior ou menor.

Essas estações são sem odor, adequadas para áreas urbanas, como já implementado em países como China, Japão, Alemanha, França e Itália.

10. Riscos de Alternativas Centralizadas:

Alguns especialistas ainda defendem um sistema centralizado, que depende do emissário submarino. Isso a meu ver ou é erro técnico e conceitual de alto risco.

Os riscos incluem a sobrecarga do emissário, que já enfrenta desafios com a demanda do projeto Renasce Salgadinho.

Outro risco é quem vai gerir o sistema Renasce Salgadinho? O município? A BRK? A Casal? Existe um risco de operação enorme nessa obra depois de inaugurada. Quem vai cuidar do sistema? Manter toda rede? Quem pagará pelos custos operacionais? Será privatizado o sistema?

Por fim, finalizando essa minha reflexão, esta abordagem descentralizada de saneamento, se estruturada de forma transparente oferece uma solução eficaz e sustentável para a gestão do esgoto em Maceió, melhorando significativamente a qualidade dos riachos, praias e a saúde ambiental da cidade.

No entanto há quem defenda ter um sistema centralizado, na mão de uma única empresa. Há quem defenda bombear tudo para o emissário e segundo técnicos do IMA, lançar esse volume de efluentes via emissário pode ter impactos marinhos perversos.

Tem de tudo, até técnicos defendendo bombear chorume do antigo Lixão para o emissário submarino. Enquanto isso a obra sai de 77 milhões para 182 milhões segundo dados vinculados pela imprensa local.

 

*É arquiteto e urbanista, doutor em Energia pela Universidade Federal do ABC [UFABC], mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Alagoas [Ufal].

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