18 de setembro de 2024 3:45 por Da Redação
A oxidação da estrutura e o total descaso dos responsáveis pela fiscalização e manutenção transformaram o Emissário Submarino de Maceió em mais uma bomba-relógio à beira-mar na capital alagoana. Especialistas alertam para o risco de acidentes, além dos impactos ambientais e sociais para o setor turístico caso o sistema entre em colapso. A situação pode ficar mais perigosa quando o sistema começar a receber os efluentes do projeto Renasce Salgadinho sem passar pelos devidos reparos.
Um dos maiores temores é relativo à segurança dos banhistas, por conta dos riscos de desprendimento de aço e concreto. Também causa preocupação o iminente despejo de uma grande quantidade de esgoto no mar, sem controle. O rompimento dos dutos derramaria esgoto fora do ponto onde a distância da praia e a direção da corrente marítima sejam adequadas para a diluição, dispersão e decaimento das cargas poluentes.
O alerta não é de agora. Em entrevista à TV Pajuçara, há cerca de um ano, o engenheiro Marcelo Daniel, presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (Ibrape) em Alagoas, alertava que o esgoto poderia impactar a orla de Maceió e chegar a praias como o Francês, em Marechal Deodoro, e Barra de São Miguel.
“O volume de material que está sendo jogado em alto-mar é grande, não tem como parar, o despejo desse material é constante”, disse ele, ao lembrar o impacto que um desastre ambiental desses traria para a cadeia do Turismo no Estado. A poluição das praias afetaria o maior atrativo das cidades, resvalando nos hotéis, restaurantes e outros elos de uma das principais atividades econômicas de Alagoas.
Dimensões
O sistema é responsável pelo tratamento e disposição oceânica do esgoto descartado por mais de 90% da rede coletora operada pela BRK na capital. Com 3.600 metros de extensão, o Emissário Submarino de Maceió possui 1,2 metro de diâmetro. São ainda 180 metros de tubulação enterrada, da caixa de areia até o início do píer; 600 metros de tubulação aérea, do início do píer até a torre de carga em concreto; 2.520 metros de tubulação submersa; e 300 metros de difusor. O esgoto tratado pela Estação de Condicionamento Prévio é lançado pela estrutura submarina a uma profundidade mínima de 15 metros.
Responsabilidade
Igor Balbino, gerente de Fiscalização do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) de Alagoas, explica que a Lei de Manutenção Predial, de 2012, atribui à Prefeitura de Maceió a fiscalização da manutenção periódica de prédios residenciais e comerciais e viadutos, por exemplo. O Crea encaminhou ofícios ao Município de Maceió e à BRK, mas, até agora, nenhuma medida foi tomada.
A manutenção dessa estrutura precisa ser avaliada urgentemente pelo Crea e pela Defesa Civil do Município, avalia o professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), arquiteto e urbanista, Dilson Ferreira. Ele analisou as imagens do local enviadas por um leitor ao 082 Notícias.
“Observando as fotos, é evidente que a estrutura de concreto e o leito desse emissário submarino estão gravemente deteriorados. O concreto está se desprendendo, e essa situação oferece perigo real para as pessoas que transitam abaixo da estrutura, correndo o risco de serem atingidas por placas de concreto. Por isso, essa área deve ser isolada imediatamente. O píer que sustenta a tubulação precisa ser completamente restaurado, pois há riscos tanto de desabamento quanto de danos à saúde pública, devido à oxidação avançada”, explica.
Ele considera preocupante que o emissário possa suportar a carga adicional do projeto Renasce Salgadinho devido às décadas sem manutenção, modernização ou monitoramento. “A situação precisa ser avaliada com urgência. A Defesa Civil e o Município devem apresentar laudos técnicos atualizados. Não se trata apenas de um problema de engenharia, mas também de saúde pública, de risco à população e de negligência. Se houver um aumento no volume de efluentes lançados no mar pelo projeto Renasce Salgadinho, a grande pergunta que fica é: o sistema suportará essa demanda?”, questiona Dilson Ferreira.
Veja a denúncia da TV Pajuçara feita há um ano: